O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou neste fim de semana que a Ucrânia propôs à Rússia uma nova rodada de negociações de paz, com foco na retomada do diálogo diplomático e na obtenção de um cessar-fogo duradouro. Segundo Zelensky, a proposta visa estabelecer um ambiente mínimo de segurança para negociações mais amplas, o que passa por um cessar-fogo de pelo menos 30 dias como condição preliminar. A iniciativa foi revelada durante uma coletiva de imprensa transmitida nacionalmente em Kyiv, e ocorre em meio a uma escalada da violência tanto no leste da Ucrânia quanto em regiões da Rússia afetadas por ataques ucranianos com drones.
Zelensky afirmou que o convite foi feito formalmente ao Kremlin, e que o momento é oportuno para “restaurar algum grau de racionalidade no meio da guerra”. A última tentativa de negociação entre os dois países, realizada em Istambul, havia resultado apenas em trocas de prisioneiros, sem avanços concretos em relação a um armistício ou retirada de tropas. A nova proposta, segundo o governo ucraniano, inclui a realização de um encontro entre representantes de alto escalão e até mesmo um possível encontro direto entre Zelensky e Vladimir Putin, o que marcaria uma reaproximação inédita desde os primeiros meses da invasão russa iniciada em fevereiro de 2022.
Do lado russo, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou que a proposta foi recebida e está em análise. No entanto, a Rússia reiterou suas exigências básicas para qualquer avanço nas negociações: o reconhecimento do controle russo sobre os territórios já ocupados, a garantia de neutralidade da Ucrânia em relação à OTAN e o fim das sanções ocidentais. Moscou também afirmou que “não aceitará ultimatos”, em resposta à pressão exercida pelos Estados Unidos, que vêm defendendo um novo pacote de sanções caso a Rússia não aceite um cessar-fogo até o fim de agosto. O presidente Donald Trump, que reassumiu o cargo em janeiro, impôs um prazo de 50 dias para a redução dos combates, ameaçando tarifas punitivas a países que mantiverem relações comerciais com Moscou se a guerra não for interrompida.
Internamente, a Ucrânia tem intensificado seus ataques retaliatórios com drones, especialmente contra alvos em território russo. Na última semana, mais de 230 drones ucranianos atingiram regiões próximas a Moscou, forçando o fechamento temporário de aeroportos e gerando alarme entre a população civil russa. Em resposta, a Rússia aumentou os bombardeios nas regiões de Donetsk, Kharkiv e Sumy, mirando infraestrutura energética e zonas residenciais, o que agrava ainda mais o cenário humanitário no país.
A comunidade internacional acompanha com atenção os desdobramentos. Países como França, Alemanha, Turquia e Vaticano já se colocaram à disposição para atuar como mediadores, enquanto a União Europeia busca manter um papel central nas negociações, contrariando o desejo dos Estados Unidos de concentrar o processo sob sua liderança. O grupo composto por França, Alemanha e Reino Unido reforçou que a Europa não deve ser marginalizada neste momento crítico.
A nova proposta de Zelensky é vista por analistas como uma tentativa estratégica de reposicionar a Ucrânia como parte ativa na busca pela paz, após meses de impasse e desgaste militar. Ao propor um cessar-fogo e estabelecer como prioritária a proteção da população civil, o presidente ucraniano busca criar condições mínimas para uma negociação legítima. No entanto, sem garantias firmes de que Moscou aceitará interromper os ataques, o processo pode repetir o fracasso dos Acordos de Minsk, que, embora firmados, nunca foram verdadeiramente respeitados.
Fontes: Reuters, Politico, New York Post