Trabalhadores humanitários foram executados em Gaza sob recompensa do Hamas

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Um ataque brutal ocorrido no dia 12 de junho, que deixou pelo menos oito trabalhadores da Fundação Humanitária de Gaza (GHF) mortos, expôs de forma dramática a escalada de violência contra operações de ajuda no enclave palestino. A GHF, organização apoiada por Estados Unidos e Israel, culpou diretamente o Hamas pelo atentado que atingiu um ônibus com cerca de duas dezenas de funcionários humanitários a caminho de um centro de distribuição de alimentos no sul da Faixa de Gaza.

Segundo a própria fundação, além dos oito mortos, vários outros trabalhadores ficaram feridos e alguns podem ter sido sequestrados. O diretor interino da GHF, John Acree, chegou a cogitar o fechamento das operações após a emboscada, mas optou por seguir atuando.

Decidimos que a melhor resposta aos assassinos covardes do Hamas era continuar entregando comida ao povo de Gaza que conta conosco“, declarou em comunicado.

O ataque aconteceu em um contexto de caos crescente no território. No mesmo período, a autoridade de saúde local informou que 103 palestinos foram mortos e outros 400 ficaram feridos por ações militares israelenses em apenas 24 horas, incluindo 21 vítimas fatais nas imediações de centros de distribuição de ajuda da GHF.

Recompensas para matar trabalhadores humanitários

No último domingo, 30 de junho, a GHF fez outra denúncia grave: o Hamas estaria oferecendo recompensas em dinheiro para qualquer pessoa que ferisse ou matasse seus funcionários humanitários palestinos ou seguranças americanos. De acordo com a fundação, 12 trabalhadores locais já foram assassinados e outros sofreram torturas.

O Hamas colocou recompensas tanto para nosso pessoal de segurança americano quanto para trabalhadores humanitários palestinos“, afirmou a GHF em nota. “Os alvos da brutalidade do Hamas são heróis que tentam alimentar o povo de Gaza no meio de uma guerra.

A organização ainda apontou que o Hamas tem pré-posicionado agentes armados perto de zonas humanitárias, numa tentativa deliberada de interromper o funcionamento do sistema de entrega de alimentos — considerado o único ainda em operação dentro do enclave.

Conflito interno e disputas de poder

Relatos de canais locais sugerem que o ônibus atacado no dia 12 transportava funcionários da GHF supostamente ligados a Yasser Abu Shabab, chefe de um grande clã rival do Hamas que estaria recebendo armas de Israel. Abu Shabab, por sua vez, acusou o Hamas de espalhar rumores e imagens falsas para intimidar a população e silenciar opositores.

Rumores de execuções e assassinatos estão sendo espalhados pelos corruptos, mercenários e criminosos do Hamas para semear medo nos corações daqueles que buscam libertação do terrorismo e da opressão“, escreveu Abu Shabab em uma rede social.

A associação Ajuda Médica aos Palestinos (MAP) expressou preocupação com a segurança do Hospital Nasser e dos profissionais de saúde, diante do risco de ataques fecharem a instalação.

Israel, que combate o Hamas há 20 meses após os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, tem reiterado que a única forma de encerrar a guerra é desmantelar completamente o grupo terrorista. Até o momento, todas as negociações para uma trégua fracassaram.

Críticas ao modelo de ajuda

Apesar do atentado contra seu ônibus, a GHF informou ter distribuído 2,6 milhões de refeições em apenas um dia — seu maior volume desde o início das operações no final de maio. Mesmo assim, organizações internacionais criticam o sistema atual.

O chefe da UNRWA (agência de refugiados palestinos da ONU), Philippe Lazzarini, comparou a situação a uma distopia. “Este modelo não abordará o aprofundamento da fome. Os distópicos ‘Jogos Vorazes’ não podem se tornar a nova realidade“, declarou. Ele pediu que a ONU assuma novamente a liderança, acusando o atual esquema de ser ineficiente e inseguro.

Israel, por sua vez, voltou a pedir o fim da UNRWA, alegando que a agência coopera com o Hamas — acusação que a organização nega.

Apelo à ONU

Diante do colapso, a GHF enviou uma carta ao secretário-geral da ONU, António Guterres, exigindo uma condenação pública contra os ataques a trabalhadores humanitários. No texto, o reverendo Johnnie Moore, presidente executivo da GHF, apelou por uma nova parceria para entregar alimentos diretamente às famílias palestinas e classificou a falha na ajuda humanitária como “estrutural“.

Chegou a hora de confrontar, sem eufemismo ou demora, o fracasso estrutural da entrega de ajuda em Gaza“, escreveu Moore.

Mesmo em meio ao cerco, Israel também permitiu a entrada de 56 caminhões de mantimentos do Programa Mundial de Alimentos da ONU no norte de Gaza — primeiro comboio humanitário a acessar a região em meses — e autorizou a chegada de caminhões de farinha para as poucas padarias que ainda funcionam.

Enquanto civis sofrem com a escassez, grupos terroristas mantêm a população refém de ameaças e violência. E, entre ataques, blecautes e barricadas, a esperança de um cessar-fogo ainda parece distante.

Fonte: Reuters e The Jerusalem Post

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