Tarifaço: colapso na fruticultura do Vale do São Francisco é iminente e aterroriza 1,2 milhão de trabalhadores do setor

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A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, está causando alarme entre os fruticultores do Vale do São Francisco, principal polo frutícola do Brasil. A medida, que entra em vigor em 1º de agosto, pode inviabilizar as exportações de manga e uva, carros-chefe da região, e ameaça cerca de 200 mil empregos diretos na fruticultura nordestina, segundo a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).

O Vale do São Francisco, abrangendo cidades como Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), é responsável por 92% das exportações brasileiras de manga e 95% das de uva, com os EUA sendo um destino crucial. Em 2024, as exportações de frutas da região para o mercado americano geraram US$ 148 milhões, sendo US$ 45,8 milhões em manga (36,8 mil toneladas) e US$ 41,5 milhões em uva (13,8 mil toneladas). A expectativa para 2025 era de um desempenho ainda mais robusto, mas a nova tarifa coloca esses números em risco.

Silvio Medeiros, Diretor da AGROBRAS, alertou: “A fruta vai virar lama“. Ele destacou que a tarifa impactará diretamente os embarques, que já estão comprometidos para o segundo semestre, período de pico das exportações para os EUA e Europa devido à baixa produção local no inverno. Cerca de 700 a 800 contêineres de manga e uva são enviados semanalmente do Vale, com metade destinada aos EUA. “O navio que sai agora no sábado já não chega a tempo de escapar das tarifas. O impacto é imediato“, afirmou Medeiros.

Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas, reforçou a gravidade da situação em entrevista à Rádio Jornal: “Com esses 50%, já fica inviável“. Ele estima prejuízos superiores a US$ 50 milhões e alerta que redirecionar a produção para outros mercados, como Europa ou o mercado interno, é logisticamente inviável e pode colapsar os preços. “Se tentar mandar para a Europa, colapsa o mercado. Se for para o Brasil, colapsa também. Não existe redirecionamento assim“, explicou.

A safra de manga, concentrada entre agosto e outubro, já estava planejada com reservas de contêineres e embalagens. A paralisação das negociações com compradores americanos pode levar a uma queda de até 70% no volume previsto para 2025, que incluía 48 mil toneladas de manga. João Ricardo Lima, da Embrapa Semiárido, destacou que, com a tarifa, o preço recebido pelos produtores não cobriria os custos de produção, embalagem e logística, tornando as exportações economicamente inviáveis.

A Abrafrutas classificou a tarifa como “um golpe duro” e defendeu a continuidade do comércio bilateral, que beneficia tanto os exportadores brasileiros quanto os importadores americanos, em um modelo “ganha-ganha”. A associação apela por diálogo com o governo dos EUA para reverter a medida. O vice-presidente Geraldo Alckmin, coordenando um comitê interministerial, anunciou reuniões com o setor do agronegócio para discutir estratégias, incluindo conversas com empresas americanas afetadas pela integração das cadeias produtivas.

Além da fruticultura, setores como carne bovina, suco de laranja, café e etanol também enfrentam preocupações com a tarifa, que pode elevar custos e reduzir a competitividade. Analistas apontam que a medida, justificada por Trump como resposta a supostos déficits comerciais, é politicamente motivada, já que os EUA mantêm superávit com o Brasil desde 2009.

Produtores do Vale do São Francisco, que geram milhões de empregos e movimentam a economia nordestina, aguardam soluções diplomáticas para evitar um colapso econômico. A fruticultura no Vale do São Francisco gera um impacto social muito positivo. O setor emprega diretamente 250 mil e indiretamente mais de 950 mil, ou seja, quase 1,2 milhão de pessoas dependem diretamente dessa cadeia produtiva (EMBRAPA).

Em carta direcionada às autoridades governamentais do Brasil e dos EUA, Embaixadas, Ministérios, Órgãos de Comércio e Relações Exteriores, a ValeXport, Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco, destaca que “1,2 milhão de pessoas dependem dessa cadeia. São trabalhadores rurais, embaladores, irrigantes, motoristas, técnicos agrícolas, pequenos produtores, comerciantes e famílias inteiras, que encontram na fruticultura sua única fonte de renda e dignidade em uma das regiões mais desafiadoras e carentes do país. Essa atividade é o oásis econômico e social do semiárido nordestino. Mais do que um setor produtivo, ela representa uma barreira contra o êxodo rural, uma ferramenta real de combate à pobreza e um vetor de inclusão social e desenvolvimento sustentável. (…) Estamos diante de uma tragédia social iminente. Um colapso acarretará não apenas prejuízos financeiros, mas também o agravamento da pobreza extrema, migração forçada, aumento da informalidade, sobrecarregando centros urbanos e rompendo o tecido social de uma região que há décadas luta por estabilidade.”

Contamos com o bom senso, a responsabilidade institucional e o espírito de cooperação que sempre marcaram as relações entre nossos países” – José Gualberto de Freitas Almeida, Presidente da ValeXport

Caso as tarifas sejam mantidas, o setor teme não apenas perdas financeiras, mas também desemprego em massa e desperdício de safras, impactando diretamente a vida de trabalhadores e famílias da região.

Fontes: Bloomberg Línea, G1, Rádio Jornal, Valor Econômico, Portal Tela

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