O senador norte-americano Lindsey Graham intensificou a pressão contra países que mantêm laços comerciais com a Rússia, apontando China, Índia e Brasil como financiadores indiretos da “máquina de guerra” de Vladimir Putin.
Em entrevista à CBS News, Graham afirmou que esses países, ao comprarem petróleo e outros recursos russos, ajudam a sustentar a economia russa em meio à guerra na Ucrânia. Ele defendeu um projeto de lei no Congresso dos EUA que autorizaria o presidente Donald Trump a impor tarifas de até 500% sobre produtos de nações que negociam com Moscou, alertando para “sérias consequências” caso a cooperação continue.
O projeto, que segundo Graham conta com amplo apoio de 84 ou 85 senadores, busca pressionar países a escolher entre manter relações comerciais com a Rússia ou com os Estados Unidos. A proposta concede ao presidente flexibilidade para suspender as tarifas por até 180 dias, com revisão congressional, mas reflete uma postura agressiva contra nações que não aderiram plenamente às sanções ocidentais contra a Rússia. Graham destacou que Trump apoia a iniciativa, mas deseja controle total sobre as decisões de política externa.
Críticos, no entanto, alertam para os riscos de uma guerra comercial global. O Washington Post apontou em um artigo no mês passado que as sanções poderiam atingir não apenas China, Índia e Brasil, mas também aliados como Turquia, Japão, Coreia do Sul e membros da União Europeia, que continuam importando recursos russos. Além disso, os próprios EUA dependem de urânio russo, o que levanta questionamentos sobre a coerência da proposta. Economistas temem que tarifas tão elevadas prejudiquem a economia americana, elevem preços domésticos e alienem parceiros estratégicos, especialmente em um momento de tensões geopolíticas.
Brasil
No caso do Brasil, as exportações de produtos agrícolas e minerais para a Rússia, além da importação de diesel e de fertilizantes, têm sido pontos de atrito. A implementação das sanções, no entanto, depende da aprovação final do projeto e da decisão de Trump, que pode optar por ajustes para evitar rupturas comerciais.
Além dos fertilizantes, o Brasil tem importado quantidades significativas de diesel da Rússia, especialmente desde 2023, após o embargo da União Europeia aos produtos petrolíferos russos devido à invasão da Ucrânia. Dados oficiais e relatórios indicam que a Rússia se tornou o maior fornecedor de diesel para o Brasil, superando os Estados Unidos, que historicamente dominavam esse mercado.
Em 2023, as importações brasileiras de diesel russo aumentaram drasticamente, atingindo 6,1 milhões de toneladas, um salto de 6.000% em relação às 101 mil toneladas de 2022, segundo o Financial Times. Em termos de valor, as importações de diesel russo cresceram 4.600%, de US$ 95 milhões em 2022 para US$ 4,5 bilhões em 2023. No primeiro semestre de 2024, cerca de 63,6% do diesel importado pelo Brasil veio da Rússia, conforme a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Em maio de 2024, essa participação chegou a 82%, embora o preço do diesel russo tenha perdido parte de sua competitividade, com a diferença de preço em relação ao diesel americano caindo de US$ 0,30 para US$ 0,07 por litro.
O aumento se deve principalmente ao preço mais baixo do diesel russo, que chegou a ser R$ 0,22 mais barato por litro (-5,9%) em relação ao mercado internacional, permitindo à Rússia conquistar mercados como o Brasil após perder compradores na Europa. O Brasil, que importa cerca de 30% do diesel que consome, encontrou no combustível russo uma alternativa para manter preços domésticos mais baixos, especialmente para o setor de agronegócio e transporte, que dependem fortemente desse combustível. No entanto, as sanções propostas por Lindsey Graham e a pressão da União Europeia podem complicar essas importações, aumentando custos logísticos e riscos de restrições comerciais.
A proposta de Graham sinaliza uma nova fase de pressão econômica global com potenciais impactos profundos nas relações internacionais e no comércio mundial.
Fontes: FT, Reuters, Reuters II, OilPrice, Valor International, The Washington Post