O chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, declarou em entrevista à TV BRICS que a proposta de criar uma moeda comum ou um sistema de pagamentos alternativo ao dólar no âmbito do BRICS foi inicialmente apresentada pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.
“Foi o presidente Lula da Silva, na cúpula do BRICS em Joanesburgo, no ano passado, que iniciou o debate trabalhado pela presidência russa sobre sistemas de pagamento alternativos”, afirmou Lavrov.
O chanceler também comentou sobre o andamento das discussões: “Como já disse, houve progresso, mas é preciso levá-lo à sua conclusão lógica para que surjam mecanismos prontos para serem usados. Não tenho dúvidas de que nossos colegas brasileiros dedicarão o máximo de energia a essa questão.“
Origem da proposta
A proposta foi apresentada por Lula durante a 15ª Cúpula do BRICS, realizada entre 22 e 24 de agosto de 2023, em Joanesburgo, África do Sul. Na ocasião, o presidente brasileiro defendeu um sistema financeiro internacional menos dependente do dólar, com uso ampliado de moedas locais entre os países do bloco. A proposta passou a fazer parte da agenda do BRICS, e a entrevista de Lavrov, concedida em Moscou em 2 de novembro de 2024, confirmou a continuidade do tema sob a presidência russa.
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Repercussão internacional
Em novembro de 2024, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que poderia impor tarifas de até 100% sobre produtos oriundos de países que apoiassem moedas alternativas ao dólar. Em julho de 2025, voltou a afirmar que considerava aplicar tarifas adicionais de 10% contra nações que seguissem essa direção.
Durante declaração oficial, Lula afirmou: “Somos países soberanos e não aceitamos intromissão de quem quer que seja. Não queremos contencioso; queremos apenas que nossos países possam progredir.“
Cúpula de 2025 e encaminhamentos
A 17ª Cúpula do BRICS foi realizada nos dias 6 e 7 de julho de 2025, no Rio de Janeiro. O encontro reuniu os chefes de Estado dos países-membros e resultou na assinatura de uma declaração conjunta com compromissos em diversas áreas, incluindo finanças.
O comunicado final reafirmou o interesse dos países em ampliar o uso de moedas locais no comércio bilateral e fortalecer a cooperação financeira. Não houve anúncio de uma moeda comum formal, mas foi acordado o aprofundamento dos estudos técnicos sobre mecanismos de pagamento e compensação entre os bancos centrais.
O Brasil segue na presidência do BRICS até dezembro de 2025 e deverá coordenar relatórios com propostas nessa área. A presidência do bloco será assumida pela Índia em 2026.