Um projeto de reforma bilionário se tornou a mais recente arma na batalha entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano.
“Jerome Powell é muito ruim para o nosso país“, disparou Trump no último domingo (13). “Nós deveríamos ter a menor taxa de juros do mundo, mas não temos. E, enquanto isso, Powell está gastando US$ 2,5 bilhões reformando a sede do Fed“.
A controvérsia gira em torno do projeto de renovação de dois prédios históricos que a instituição utiliza como sede. O Fed afirma que a reforma vai reduzir despesas no futuro ao consolidar suas operações. Os custos das obras, porém, seguem em franca expansão, passando de US$ 1,9 bilhão em 2023 para os US$ 2,5 bilhões estimados no orçamento deste ano. Segundo os documentos, os aumentos são fruto de gastos maiores com prestadores de serviço de eletricidade, encanamento e mecânica.
Críticos, porém, afirmam que as cifras crescem em virtude de “extravagâncias” do chefe do Fed, apelidando o projeto de “Taj Mahal no National Mall“, em referência ao icônico parque da capital americana, onde se localizam os prédios.
Um membro – recém-empossado por Trump – da agência federal que analisa projetos como o do Fed afirmou que requererá em breve uma análise da reforma e uma visita ao local das obras.
Aliados de Trump sugerem demissão por justa causa
Aproveitando a oportunidade, uma série de aliados de Donald Trump investiram contra Powell e a gestão atual do Fed, a quem acusam de “imprimir dinheiro à vontade e jogar fora de qualquer jeito“.
“É ultrajante“, afirmou Kevin Warsh, ex-membro do Fed cotado para substituir Powell em uma eventual saída. “Quem sabe uma nova pintura, ou alguns terminais novos para nos ajudar a cuidar da política monetária. A meu ver, precisamos de mudança de gestão no Fed. Não é só o presidente, é todo um grupo de pessoas“.
Outros foram além, acusando Powell de ter mentido em uma audiência no congresso para tratar das reformas em andamento. Para Bill Pulte, diretor da agência responsável por administrar financiamentos imobiliários federais, o comportamento de Powell justificaria até mesmo sua demissão por justa causa.
Batalha por juros desde o início do mandato
De maneira bastante similar ao já visto em outras regiões do planeta, Donald Trump trava, desde o primeiro dia de mandato, batalha ferrenha com Jerome Powell centrada na condução da política monetária americana.
Trump defende redução dos juros, o que, em sua visão, aceleraria a atividade econômica americana e daria mais fôlego ao país em seus conflitos comerciais e tarifários. Powell, por sua vez, não se deixa abalar, limitando-se a dizer que as decisões do Fed “seguem os dados disponíveis“.
“Eu espero que ele renuncie“, disse Trump, que já afirmou em diversas ocasiões que não pretende demitir Powell – medida juridicamente controversa. “Ele deveria renunciar“.
Reservado, o presidente do Fed comentou apenas que não tem “qualquer intenção de renunciar“.
Uma possível saída antecipada de Powell – seja voluntária ou não – teria severas implicações sobre o mercado. George Saravelos, diretor no Deutsche Bank, aponta que o movimento seria interpretado como uma clara redução na independência do Fed.
“As evidências apontam que, nessa situação, tanto a moeda quanto os títulos podem colapsar, e as expectativas de inflação disparariam em virtude da erosão da credibilidade“, explicou o economista. “No geral, o prêmio de risco vai aumentar“.
O mandato de Powell como presidente se encerra no início de 2026. Ele terá, porém, ainda mais 2 anos como membro do conselho de governadores, deixando o banco central americano efetivamente apenas em 2028. Historicamente, no entanto, os presidentes tendem a sair junto ao fim de seus termos de direção.
Até que saia, porém, seja em 2026, 2028 ou mesmo antes, é improvável que Trump e seus aliados reduzam a pressão.
Russel Vought, chefe da agência reguladora que analisa os gastos do governo federal, foi direto: “A atitude patriótica de Powell seria renunciar“.
Fontes: Yahoo Finance, Bloomberg, The Hill