Uma estátua que especialistas acreditam representar o imperador e filósofo romano Marco Aurélio será repatriada à Turquia após anos de batalhas judiciais. A figura faz parte do acervo do Museu de Arte de Cleveland, no estado americano de Ohio, desde 1986.
“A história em seu devido lugar é linda, e nós vamos preservá-la“, comemorou o ministro da Cultura e Turismo turco, Mehmet Nuri Ersoy. Um voo fretado da Turkish Airlines levará a obra de volta a seu país nos próximos dias.
Datada de aproximadamente 50 a 250 d.c., a peça mede 1,93m e tem sua identidade contestada por pesquisadores. Acadêmicos concordam tratar-se de uma representação romana, mas o fato de a estátua ter tido sua cabeça danificada dificulta a efetiva indicação do retratado.
O próprio Museu demonstra incerteza, afirmando em nota recente que “sem cabeça ou inscrição, a identidade da estátua segue incerta“. O próprio recibo de aquisição – cercado de controvérsias – descrevia a estátua como “provavelmente Marco Aurélio“.
Investigadores acreditam que a imagem fazia parte do sítio arqueológico de Sebasteion, na atual cidade de Burdur, no sudoeste da Turquia. O santuário, que abrigava diversas estátuas de dignatários romanos, teria sido soterrado por um terremoto e, então, saqueado por habitantes locais. Posteriormente, uma rede de tráfico internacional de obras de arte a adquiriu. Após passar por restaurações ilegais na Suiça e no Reino Unido, foi vendida a colecionadores, chegando, finalmente, aos Estados Unidos, onde o Museu de Arte Cleveland a comprou por US$ 1,86 milhão. Estima-se que, neste momento, seu valor de mercado já supere os US$ 20 milhões.
Entre os supostos participantes da quadrilha envolvida em sua aquisição estaria Robert Hetch, milionário americano acusado repetidas vezes de tráfico de antiguidades. Entre os casos mais notórios, Hetch teria contrabandeado um vaso grego, posteriormente vendido por US$ 1 milhão de dólares, além de traficar obras de arte da Itália e moedas históricas turcas.
Marco Aurélio liderou o Império Romano por aproximadamente 20 anos, entre 161 d.c. e 180 d.c. Ele foi um dos “Cinco Bons Imperadores“, período marcado por estabilidade, em que Roma atingiu seu ápice territorial. Sua morte marcou um ponto de virada no império, com conflitos e uma guerra civil eclodindo poucos anos depois.
O retorno de obras de arte a seus países de origem tem ganhando força nos últimos anos, com instituições de renome devolvendo peças históricas supostamente adquiridas de modo ilegal.
Em Nova Iorque, diversos museus concordaram em entregar 4.600 artefatos a seus donos e locais originais, em casos que envolvem de colonialismo a peças roubadas durante o Nazismo. No início deste ano, em caso celebrado como um marco, a Holanda retornou à Nigéria os Bronzes de Benin, que teriam sido expropriados durante a ocupação britânica da África.
Fontes: AA, Smithsonian Magazine, New York Times, Al Jazeera