A política brasileira continua sendo uma arena de intensos embates, especialmente nas mídias sociais, onde o Partido dos Trabalhadores (PT) tenta recuperar terreno com o lançamento do chamado “Gabinete do Amor”. Anunciado na última quarta-feira (02), por meio do site “Influenciadores com Lula”, o projeto busca cooptar blogueiros, youtubers, tiktokers e influenciadores, para divulgar as bandeiras do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, como a proposta de taxar bilionários, bancos e casas de apostas (Bets), apelidada de “Taxação BBB”. Para muitos, no entanto, essa estratégia cheira a algo já visto: o “Mensalinho do Twitter” de 2018, quando o PT foi acusado de pagar influenciadores para impulsionar candidaturas. O “Gabinete do Amor” possui uma sombra, o “Mensalinho do Twitter”, e que, em conjunto com a PL das Fake News e os recentes desdobramentos de regulação das mídias sociais, podem representar um grande perigo para a liberdade de expressão e o debate público.
O “Gabinete do Amor”: Um plano para dominar as mídias sociais
O “Gabinete do Amor” é vendido pelo PT como uma reação ao sucesso da direita nas redes sociais, que vem ditando o ritmo do debate digital desde a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. No site “Influenciadores com Lula”, o partido convoca apoiadores a se inscreverem e escolherem como querem ajudar: seja compartilhando posts, criando conteúdo, organizando eventos ou liderando grupos locais. A narrativa oficial fala em “espalhar amor” e “combater o ódio”, mas, para quem acompanha a política de perto, isso soa mais como uma tentativa de controlar a narrativa online em favor do governo. O termo “Gabinete do Amor” não é novo. Ele surgiu em 2022, durante a campanha de Lula, como uma resposta ao chamado “Gabinete do Ódio”, que o PT atribuía a Bolsonaro, mas nunca provou sua existência. Na época, a produtora 342 Artes e o coletivo Mídia Ninja criaram um programa no YouTube com esse nome, para “explicar as propostas de Lula de forma descontraída”. Em 2023, Paulo Pimenta, chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), já falava em trazer influenciadores pró-Lula para dentro do governo. Em 2025, o projeto ganhou corpo com uma plataforma oficial do PT, focada em unificar o discurso e ampliar a propaganda de medidas como a “Taxação BBB”, que promete financiar a isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil, uma promessa de campanha do presidente. Para quem vê a política com olhos conservadores, o “Gabinete do Amor” é um sinal de alerta. Trata-se de uma manobra para organizar uma militância digital sob as rédeas do governo, o que cheira a manipulação da opinião pública. A ideia de “combater o ódio” parece mais um pretexto para calar vozes críticas, especialmente num momento em que a direita brilha nas redes com engajamento orgânico, construído sem depender de estruturas diretamente centralizadas.
O “Mensalinho do Twitter”: Uma Sombra do Passado
O “Gabinete do Amor” não pode ser analisado sem a lembrança do “Mensalinho do Twitter” de 2018. Naquele ano, empresas ligadas ao deputado petista Miguel Corrêa foram acusadas de pagar influenciadores para promover candidatos do PT e do PR (hoje PL), como Gleisi Hoffmann, Luiz Marinho e Wellington Dias, sem deixar claro que os posts eram propaganda. A denúncia, trazida à tona por influenciadores como Paula Holanda e amplificada pelo Movimento Brasil Livre (MBL), mostrou que o esquema descumpria a resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de 2018, que proíbe propaganda paga na internet, salvo em casos de impulsionamento identificado. A pena para isso? Multas de R$ 5 mil a R$ 30 mil ou até cassação de candidaturas. O “Mensalinho” causou furor na época, com críticos apontando a hipocrisia do PT, que acusava adversários de “milícias digitais” enquanto usava métodos semelhantes. Apesar do barulho, as investigações patinaram na Justiça Eleitoral, e casos como o de Wellington Dias foram engavetados por falta de provas concretas. Ainda assim, o episódio deixou uma mancha: o PT parecia disposto a jogar sujo para ganhar espaço no debate digital. Agora, com o “Gabinete do Amor”, o PT tenta uma abordagem mais aberta, com um site público e um discurso de “mobilização voluntária”. Mas a semelhança com o “Mensalinho” é, simplesmente, gritante. Ambos os projetos buscam usar influenciadores para amplificar mensagens políticas, e a falta de clareza sobre possíveis pagamentos no “Gabinete” alimenta a desconfiança de que o partido está apenas polindo uma tática antiga.
“Gabinete do Amor” x “Mensalinho do Twitter”
Embora o “Gabinete do Amor” seja mais transparente que o “Mensalinho”, com uma plataforma oficial e um convite aberto a apoiadores, a diferença parece ser mais de fachada do que de essência. O “Mensalinho” era clandestino, com pagamentos escondidos, enquanto o “Gabinete” se apresenta como uma iniciativa legítima. Mas o objetivo é o mesmo: transformar influenciadores em megafones do governo. Enquanto o “Mensalinho” focava em campanhas eleitorais, o “Gabinete” mira pautas amplas, como a “Taxação BBB”. Aliás, essa pauta, parece ser um teste inicial de possibilidades e potencial, um projeto piloto. No fundo, ambos refletem a obsessão do PT em controlar o discurso na internet. A direita conquistou as redes com movimentos orgânicos, com figuras como Bolsonaro e Nikolas Ferreira conectando-se diretamente com o público. Já o PT aposta numa abordagem burocrática, com cadastros e diretrizes, artificial, mas com o intuito de atingir engajamento. A retórica de “combate ao ódio” é vista com ceticismo, já que o PT sempre acusou a direita de práticas que agora parece adotar, como organizar influenciadores para moldar a opinião pública.
O projeto de MAV’s do PT é antigo

Em 2011, no 4º Congresso Nacional do PT, foi aprovada a criação do que ficou chamado como MAV (Militância em Ambientes Virtuais). O objetivo era formar uma “tropa de choque” de militantes com o objetivo de “ocupar espaços”, no âmbito virtual, como na área de comentários de blogs e sites de notícias, além de discussões em mídias sociais, com a repetição de slogans em defesa do partido. Estamos falando da época em que o Orkut reinava por aqui e o Facebook ainda tentava seu lugar ao sol em terras tupiniquins. No ano seguinte, a Secretaria Nacional de Comunicação do PT lançava o seu “Guia Digital do Militante”, que dentre outras dicas, ensinava “como criar perfis e como melhor utilizar durante o período eleitoral”.
Ameaça à Liberdade de Expressão
O “Gabinete do Amor” é mais do que uma estratégia de comunicação: é uma ameaça à liberdade de expressão. Ao organizar influenciadores sob o tambor do governo, o PT busca criar uma máquina de propaganda que sufoca o debate livre. Mas o que difere o atual projeto do “Gabinete”, dos antigos, descritos nesse artigo? O atual é mais preocupante num contexto em que a esquerda defende projetos como o PL 2630/2020, a “PL das Fake News”, que pode abrir brechas maiores para censura estatal. Pois mescla uma iniciativa como o “Gabinete” com a pressão por mais regulação nas redes, estamos diante de uma entropia de tendências autoritárias, que quer ditar o que pode ou não ser dito online. O “Mensalinho do Twitter” já demonstrava a disposição do PT em usar de táticas duvidosas, e o “Gabinete do Amor” parece uma versão repaginada disso. A falta de transparência sobre eventuais pagamentos aos influenciadores reforça a ideia de que o partido não aprendeu com o passado. Mesmo que o projeto seja apresentado como voluntário, a coordenação centralizada e hierárquica, levanta suspeitas de manipulação, com influenciadores sendo usados como peões para disseminar propaganda disfarçada de ativismo. Muitos podem alegar que a estratégia é pouco promissora. Pois dados mostram que políticos conservadores têm o dobro do engajamento de figuras de esquerda no X, graças a uma conexão direta com o eleitor. E que o “Gabinete do Amor”, com sua lógica de cima para baixo, pode parecer forçado para um público que valoriza espontaneidade. Jovens, em especial, tendem a rejeitar mensagens que exalam propaganda oficial, o que pode limitar o alcance do projeto. Todavia, essa seria a análise correta para um cenário em que esse projeto se apresentasse solo. Em conjunto com uma hipotética aprovação da PL das Fake News e os recentes entendimentos promulgados pelo STF, “E voilá”, poderemos finalmente arrogar o polêmico termo “democracia autoritária” para definirmos Pindorama.
Contradições
A maior contradição, porém, é ideológica. O PT passou anos acusando a direita de operar “milícias digitais” e “gabinetes do ódio”, mas agora adota uma tática que espelha o que criticava. E pior, conforme as informações demonstradas aqui, observamos que o PT já buscava essa tática desde os primórdios das mídias sociais no Brasil. Essa hipocrisia apenas reforça a narrativa conservadora de que a esquerda busca o poder a qualquer preço, mesmo que isso signifique comprometer a transparência e a liberdade de expressão. O projeto petista não pretende apenas reunir influenciadores alinhados ao governo para defender suas narrativas, mas também municiar os cooptados com “suporte jurídico”. Ou seja, o PT está recrutando “Flautistas Mágicos” que poderão atuar como agentes provocadores nas mídias sociais. Enquanto o outro lado não terá esse suporte jurídico em uma ambiência entrópica a favor do governo.
O “Gabinete do Amor” é um alerta: é preciso defender um debate público livre, onde as ideias venham do povo, não de uma máquina estatal de propaganda.
Referências: Gazeta do Povo, DW, O Antagonista, Correio do Povo, Danuzio News, ConexaoPolitica, Portal8viu