Brasil: O próximo pária internacional

Acordamos e mais uma semana se iniciou, tudo ocorrendo na sua maior normalidade, brasileiros indo para os seus trabalhos, crianças de férias, noticiários passando os mais diversos crimes e, no fundo, um burburinho político, que se arrasta há meses em um impasse entre políticos, jornalistas e o próprio Estado americano, um burburinho que agora se tornou impossível de não ver e querer acompanhar. Donald Trump tomou uma decisão radical: impôs uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras, tarifa essa que começará a ser aplicada a partir de 1º de agosto de 2025. Essa retaliação do governo americano foi justificada ao que ele chamou de “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Não pretendo hoje discutir as consequências, devastadoras, que uma taxação dessa proporção vai causar ao Brasil, pois, goste você ou não, o nosso país é um nanico internacional que vive de vender suas commodities, e de uma relevância que decai a cada ano que passa. A diplomacia de Lula é um desastre com os Estados Unidos, assim como a diplomacia de Bolsonaro foi um desastre com a China. A evolução dessa gangorra política — que ora ataca um lado e ora ataca o outro, sem poder atacar ninguém — transformou o Brasil em um país arriscado, sem coerência em sua política externa, abandonando anos de boa convivência e bom meio de campo com países que são poderosos demais para arriscar uma inimizade. Brasil e China: de relações estreitas, a desconfianças e uma reaproximação Embora a relação oficial diplomática entre Brasil e China tenha se iniciado na década de 1970, foi a partir dos anos 90 que tivemos um estreitamento entre ambos os países. Foi nessa década que um processo de fortalecimento se iniciou e evoluiu de uma parceria inicialmente estruturada em torno de interesses econômicos e comerciais para uma relação ainda maior, com cooperação política, tecnológica, ambiental e cultural.. Foi com as presidências de Fernando Collor de Mello (1990-1992) e depois de Itamar Franco (1992-1995) que o Brasil começou sua trajetória de diversificar os seus parceiros comerciais e abriu espaço para que um estreitamento com a China começasse. É importante lembrar que Pequim estava iniciando um boom de crescimento, que viria a explodir no início dos anos 2000. Durante o processo de abertura do Brasil ao cenário internacional, o país deu início a uma tradição diplomática pautada pelo equilíbrio, buscando atuar com bom senso no meio de campo e evitar qualquer inclinação a radicalismos. Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foi à China em 1997, esse evento histórico nos indicou que a relação poderia evoluir para uma cooperação mais ampla, especialmente na área de comércio e investimentos. Nesse período, o comércio bilateral começou a crescer, com a China se tornando um importante parceiro comercial do Brasil, principalmente na exportação de commodities brasileiras, como soja, minério de ferro e petróleo. Lula surfa na onda chinesa Após os governos FHC e durante os dois primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), a relação, sem sombra de dúvidas, chegou a novos patamares, se aprofundando ainda mais. Lula viajou pela primeira vez para a China em 2004, pelo menos de forma oficial, como presidente brasileiro, e atraiu o país para bem perto, fortalecendo a cooperação em diversas áreas, desde a energética até a tecnológica. A década de 2000 também foi marcada pelo aumento exponencial do comércio bilateral, com o Brasil se beneficiando do crescimento econômico chinês e buscando diversificar sua pauta de exportações, enquanto a China investia em setores estratégicos brasileiros. Além disso, foram estabelecidos vários acordos de cooperação em ciência, tecnologia e educação. Dilma e Temer mantêm a paz com a China Sai Lula e entra outra petista, Dilma Rousseff (2011-2016), e a relação continua a se fortalecer, sendo reconhecida oficialmente como uma parceria estratégica. Dilma visita a China em 2014 e reforça a vontade do governo brasileiro em aprofundar a cooperação. Nesse período, houve também uma maior presença chinesa no Brasil em investimentos em infraestrutura, energia renovável e mineração. Dilma sai de cena, é impichada e entra o seu vice Michel Temer (2016-2018). Sob Temer, a relação Brasil-China se mantém sólida, apesar de desafios internos em ambos os países. Bolsonaro desconfia dos chineses Com a eleição do outsider Jair Bolsonaro (2019-2022), a relação entre os países começa a mudar. Famoso por seu discurso anticomunista, Bolsonaro começa a falar sobre interferência interna chinesa e até mesmo de uma ameaça à democracia brasileira. Podemos dizer que a política mais à direita de Bolsonaro, se distanciando de uma neutralidade, tornou a relação entre os países mais ambígua e incerta, com acusações e momentos de muita tensão. Mesmo com todos esses problemas na esfera política e ideológica, é inegável que tivemos um fortalecimento do comércio e dos investimentos, que continuaram a crescer, mesmo com diversas tensões globais e regionais, incluindo a pandemia de Covid-19, que reforçou a necessidade de cooperação internacional. Como eu escrevi, a relação entre Brasil e China durante o mandato de Bolsonaro foi muito ambígua. Desde o início da década de 1990, os países se aproximaram, o que consolidou a relação e a China se tornou um parceiro comercial muito importante para o Brasil, principalmente por conta das exportações de commodities como soja, minério de ferro e carne bovina. Entretanto, mesmo com essa aproximação econômica, diversas polêmicas marcaram a relação Brasil-China na gestão Bolsonaro. O ex-presidente, por exemplo, criticou as medidas ambientais na China, especialmente relacionadas às políticas de controle de florestas e às ações no Brasil contra o desmatamento na Amazônia. Essas críticas geraram desconforto na China, que, por sua vez, demonstrou preocupação com o impacto ambiental na região amazônica, de interesse global. Nesse período também tivemos denúncias, especialmente por parte de setores políticos e da mídia, de que a China estaria tentando exercer influência política no Brasil, incluindo supostas tentativas de angariar apoio para interesses chineses ou influenciar decisões estratégicas. Essas alegações, muitas vezes, alimentaram discursos de preocupação com a soberania nacional. Muitas foram as controvérsias nessa relação entre Brasil e China, entretanto, no final das
Não, o Brasil não é o Canadá. Um boicote não beneficiará Lula

O Brasil foi dormir na noite de 9 de julho com um gosto amargo na boca — e provavelmente teve uma insônia terrível provocada pelo anúncio de Donald J. Trump. A carta enviada ao presidente Lula trazia como informação principal uma taxação de 50% sobre o Brasil, tornando o país aquele com a maior tarifa imposta na guerra comercial declarada por Trump. A manhã de 10 de julho já começou com o anúncio de que o governo Lula aplicaria a lei da reciprocidade, retaliando os Estados Unidos com uma taxação equivalente. A resposta do presidente americano veio rapidamente: caso fosse retaliado, ele dobraria a tarifa. Brasil taxado em 50%: “Entenda como isso é bom” Antes que você encontre algo de bom na taxação, deixo claro: o texto entre aspas no subtítulo é uma referência a uma economista famosa, de uma grande rede de televisão aberta, que consegue ver benefícios até na falência do país. O fato é que temos um problema sério a resolver — e não há nada de bom nisso. Uma das justificativas apresentadas por Trump para impor a taxa de 50% sobre produtos brasileiros seria o “equilíbrio do comércio exterior com o Brasil“. Isso mais parece um erro na redação da carta, já que o Brasil importa mais do que exporta. Mas isso não significa que não teremos problemas — ou que eles serão pequenos o suficiente para passarmos incólumes. Apesar dos discursos coléricos de Lula após a taxação, nos quais tenta atribuir a culpa ao ex-presidente Bolsonaro e a seu filho Eduardo — que está nos Estados Unidos expondo informações sobre arbitrariedades cometidas pelo Judiciário brasileiro —, é possível, com muita tranquilidade, responsabilizar o próprio presidente Lula pela medida. Trump tem reiterado que qualquer tentativa de substituir o dólar em negociações internacionais seria respondida com taxações destinadas a impedir esses países de comercializarem com os Estados Unidos. Aparentemente, ignorando as falas do presidente americano, Lula resolveu atacar o dólar na última reunião dos Brics, ocorrida em 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro. A taxação veio e a responsabilidade aparentemente é apenas uma consequência de um aviso que foi feito por Trump antes de Lula atacar a hegemonia do dólar. O curioso é que países do BRICS que foram taxados não partiram para o embate pura e simplesmente, mas sim buscaram na negociação uma forma de amenizar os danos. Lula, por sua vez, disse que ele tinha conhecimento deste fato trazido por uma jornalista durante a reunião na capital carioca. Não, o Brasil não é o Canadá. Um boicote não beneficiará Lula O Canadá, país também taxado por Trump, tomou uma atitude diferente em relação a outros países. Apesar de ter se sentado à mesa para uma negociação, decidiu inflamar o país em torno de um boicote aos produtos americanos. Este sentimento nacionalista floresceu e a população canadense passou a substituir produtos importados dos Estados Unidos, fazendo com que o movimento na fronteira entre Canadá e EUA caísse 23%. A província de Ontário rescindiu um contrato de US$ 68 milhões com a Starlik, do bilionário Elon Musk, aliado de Trump à época. Será que o Brasil conseguiria fazer algo parecido que pudesse gerar algum dano à economia americana? Certamente não. E a promessa de Trump ainda se confirmou nesta sexta-feira (11), situação em que o Canadá foi taxado em 35%, sendo avisado que qualquer retaliação com taxas, a mesma taxa será somada aos 35%. O Brasil vive um momento em que os próprios tentáculos do governo se entrelaçam, inviabilizando cada vez mais a administração do país e, segundo o próprio presidente, se não fosse o STF, ele não conseguiria governar. É vivendo este turbilhão que Lula decide responder à tarifa de Trump, informando que a lei de reciprocidade será aplicada. O Brasil envia muitos produtos para os americanos, dentre eles aviões e suas peças, óleos, café e outros. A taxação desses produtos prejudicará gravemente as exportações, inviabilizando negócios e causando danos à estrutura interna do Brasil. Empresas poderão ser forçadas a encerrar contratos, demitir funcionários e, em alguns casos, até fechar as portas. Além disso, a menor entrada de dólares na economia brasileira elevará a cotação da moeda norte-americana, encarecendo a maioria dos produtos e gerando um efeito inflacionário difícil de controlar. Resta torcer por uma solução via negociação — pois, se Lula colocar o regime acima dos interesses do país, o Brasil poderá enfrentar um período de grandes dificuldades. Eu sou Felipe Santos, Oficial R/2 do Exército Brasileiro, formado pela Fundação Getúlio Vargas, Universidade da Califórnia e Universidade de São Paulo, atuo no mercado financeiro desde 2008. Experiente em diversas áreas no mercado, professor de Finanças Pessoais e Investimentos da Escola de Geopolítica e Atualidades Danuzio Neto e criador da Mentoria de Investimento Ágil, ajudo pessoas a investir em apenas 30 dias com segurança e praticidade. Somente um patrimônio acumulado é capaz de proporcionar a você um futuro com conforto, segurança e liberdade. O tempo passa, comece! Siga-me no Instagram @fe_investimento_agil ou, se preferir, mande um e-mail para felipesantos@feinvestimento.com.br.
Onze homens e um golpe sem tanque

Na calada da noite, como só fazem os covardes, a Câmara dos Deputados aprovou mais um mimo para o Supremo Tribunal Federal. Um mimo — não um salário. Um agrado entre amigos. Um agrado entre castas. Um tapinha nas costas entre toga e terno. Um projeto para aumentar os salários dos ministros do STF e criar nada menos que 160 novos cargos. Isso mesmo. Cento e sessenta. Parece que a prioridade nacional agora é encher o Judiciário de mais gente pra bater carimbo no autoritarismo. Não sei você, mas eu me sinto num show decadente. Um desses festivais com nome bizarro, onde o ingresso é caríssimo, o som é ruim, e no palco só tem artista que esqueceu o porquê de ter começado. Um verdadeiro Gilmarpalooza — não no sentido figurado, mas literal: um evento, de fato, que aconteceu em Portugal, reunindo ministros do STF e políticos brasileiros em encontros nada transparentes, longe da imprensa, do povo, do contraditório. Um camarote jurídico fora do Brasil onde decisões que afetam milhões de brasileiros parecem ser alinhavadas entre vinhos caros e salamaleques diplomáticos. O STF não governa a favor do povo. O STF governa contra ele. O STF virou uma espécie de condomínio fechado da moral seletiva, onde cada ministro é síndico do seu próprio ego. Vestem a toga como quem veste uma armadura medieval — não para proteger a democracia, mas para se proteger da democracia. Porque, sejamos sinceros, a democracia assusta esse povo. O cheiro do voto popular, o suor do trabalhador, a risada debochada do cidadão comum incomoda mais do que o barulho do helicóptero da Polícia Federal nas redondezas de Brasília. Criar cargos enquanto o povo come osso não é só indecência. É crueldade. É escárnio. E tudo isso em nome de um Judiciário que já está inchado, lento e, pior ainda, cúmplice da elite política que nos afunda diariamente. Enquanto milhões vivem com menos de um salário mínimo, ministros decidiram que o próprio salário — já pornográfico — precisava de um reajuste. Porque viver com R$ 41 mil mensais é quase um atentado aos direitos humanos, não é, Excelência? O STF, que deveria ser a última trincheira da liberdade, virou a primeira linha de frente da censura, da perseguição ideológica e da judicialização da política. Quando o Judiciário assume para si a tarefa de legislar e governar, rasga-se a Constituição. E quem assiste calado, assina embaixo. Aliás, o que mais me assusta nem é o aumento em si — que já é um tapa na cara do país. O que me apavora é o silêncio cúmplice da imprensa, o silêncio cúmplice da classe artística, o silêncio cúmplice de todos aqueles que, um dia, posaram de “críticos do sistema”, mas que hoje se derretem em deferência diante de um careca que quer calar a oposição com canetada e medida cautelar. A liberdade virou um capricho que só se concede aos obedientes. Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e companhia limitada fazem da toga um escudo para seus próprios interesses. E o pior: fazem isso com o apoio explícito de um Congresso que já desistiu de legislar, desde que alguém lhes garanta o fundão e a impunidade. É uma simbiose perversa entre poderes — e o povo, como sempre, que se exploda. Há um STF que delira com a própria importância. Que se vê como uma entidade iluminada, acima do bem e do mal, acima das críticas, acima das regras. Que se emociona com seus próprios discursos, que usa o vocabulário rebuscado para esconder a própria fraqueza moral. Que se ofende com qualquer crítica, mas não se ofende com o próprio abuso de poder. Que se diz guardião da Constituição, mas a interpreta como se fosse um espelho mágico que só reflete aquilo que eles querem ver. Hoje, o Brasil é governado por um triunvirato invisível: o STF, o medo e a conveniência. O Executivo teme o STF. O Legislativo se ajoelha ao STF. E o povo assiste a tudo com uma mistura de apatia e exaustão. Afinal, não há mais forças para lutar quando até a Justiça virou instrumento de opressão. O Brasil virou uma distopia jurídica — e os togados são os roteiristas. E ainda há quem se espante com a polarização, com a descrença nas instituições, com o crescimento de vozes radicais. Como não haveria? Como pedir moderação a um povo que vê sua liberdade sendo engolida por um Judiciário autorreferente, vingativo e partidarizado? Como pedir paciência a quem já perdeu tudo — inclusive o direito de reclamar? Esses 160 cargos não são apenas empregos novos. São postos avançados na guerra contra o povo, trincheiras para reforçar o aparato de controle, repressão e blindagem institucional. Cada técnico judiciário que entrar nesse novo esquema é um soldado a mais a serviço do status quo. Não é gente pra atender melhor. É gente pra blindar mais. Pra vigiar mais. Pra punir mais. E você, que paga imposto, que rala, que tenta empreender, que tenta criar, que tenta respirar: vai continuar fingindo que não vê? Vai continuar dizendo que “pelo menos não é o fascismo“? Que “é para conter o ódio“? Que “é pelo bem da democracia“? Acorda. Isso não é democracia. Isso é uma ditadura de toga. E uma ditadura que se esconde atrás da linguagem jurídica é ainda mais perigosa. Porque parece legal. Parece justa. Mas é só opressão travestida de institucionalidade. O Brasil precisa de um novo pacto. Um pacto que coloque o Judiciário no seu lugar: como árbitro, não como jogador. Como garantidor de direitos, não como censor de opiniões. Como defensor da liberdade, não como perseguidor de quem pensa diferente. Enquanto isso não acontece, seguimos no Gilmarpalooza. Um espetáculo dantesco, onde os ingressos são pagos com o nosso suor, e o final — ah, o final — será trágico se a plateia continuar em silêncio. Porque o silêncio, neste momento, é cumplicidade.
Lula estica a corda com Washington — e Trump responde com a lâmina

O consórcio Lula/STF resolveu testar os limites com os Estados Unidos — e agora colhe a reação. Nesta quarta-feira (09), o presidente Donald Trump oficializou, por meio de uma carta enviada a Luiz Inácio Lula da Silva, a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros que entrarem em solo americano a partir de 1º de agosto de 2025. A medida atinge desde commodities básicas, como café e carne, até setores estratégicos, como o siderúrgico e o aeronáutico. Mas mais do que um gesto comercial, a decisão é a fatura que começa a ser cobrada da política externa lulista, saudosa de um “Sul Global” que vive mais nos discursos do que na realidade. Na carta, Trump criticou abertamente o Supremo Tribunal Federal, condenou as ações de censura a cidadãos em plataformas digitais e classificou a perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro como “vergonha internacional“. O republicano ainda invocou a chamada Seção 301, instrumento jurídico que autoriza medidas unilaterais contra países que adotam práticas consideradas injustas ou hostis aos interesses americanos. O Brasil, segundo ele, cruzou essa linha ao sufocar a liberdade de expressão e violar acordos comerciais. Caso Lula não abaixe as orelhas para o Tio Sam, o impacto será duro. Só em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 16 bilhões para os EUA. Com a nova tarifa, a competitividade desses produtos vai por água abaixo. E quem vai pagar o preço? Não será o Itamaraty, nem os ministros do Supremo. O custo recai sobre o produtor rural, o exportador que depende daquele mercado, o pequeno empresário que apostava nos Estados Unidos para crescer. E, no fim da cadeia, está o consumidor comum. O cidadão que vai ao supermercado e sente no bolso a alta do dólar, o trabalhador que depende de empregos no agronegócio e na indústria, o jovem que sonha com oportunidades num país que exporta mais do que slogans populistas. E o dólar reagiu imediatamente. Subiu 1,05% logo após o anúncio e, na quinta-feira (10), abriu novamente em alta, ultrapassando os R$ 5,54 — maior valor desde o fim de junho. O risco-Brasil também disparou, e a B3 operou em queda, com destaque negativo para setores diretamente atingidos pela tarifa. As ações da Embraer caíram, os papéis da Gerdau recuaram, e o ETF brasileiro EWZ foi impactado no pré-mercado em Nova York. O Brasil real, que precisa vender para crescer, começa a entender que diplomacia não é terreno para palanque petista. O duro golpe americano recai sobre um parceiro comercial incômodo, que não apenas age contra os interesses dos Estados Unidos — como enfatizou Trump — mas, sobretudo, contra os interesses mais básicos de seu próprio povo. Em vez de fortalecer laços com democracias consolidadas, o regime brasileiro escolheu um caminho arriscado, se aproximando de regimes autoritários: afagos a Irã, Venezuela e Cuba; declarações desastrosas em apoio à invasão criminosa da Rússia à Ucrânia; bajulações ao regime chinês — incluindo até a declaração de amor de Gilmar Mendes no STF, que afirmou publicamente a admiração de todos da corte pelo regime opressor oriental; hostilidade explícita a Israel; e um afastamento cada vez maior das verdadeiras democracias. O BRICS, por sua vez, virou um clubinho dos ressentidos, onde governos autoritários se elogiam, conspiram contra a liberdade de imprensa, rejeitam o pluralismo político e sonham com um mundo sem dólar. Trump, inclusive, já avisou que os países do bloco deverão ser alvo de uma tarifa adicional de 10%, ainda neste ano. A resposta de Lula, até agora, foi previsível: devolveu a carta e classificou o conteúdo como ofensivo. O Itamaraty fala em retaliação e reciprocidade, o que, se levado adiante, só agravará a situação do comércio bilateral. Enquanto isso, empresários de setores estratégicos, como calçados, siderurgia, papel e celulose, já alertam para o risco de retração nas exportações, demissões em massa e fuga de investimentos. Mas a economia mundial não funciona com base em discursos de auditório da UNE. Ela exige previsibilidade, segurança jurídica e responsabilidade institucional — tudo o que o Brasil do consórcio Lula/STF tem rejeitado nos últimos tempos. Na última cúpula do BRICS, Lula disparou que “o mundo não quer um imperador“. É verdade que a frase, dirigida a Trump, soou bem entre seus próprios militantes. O problema é que, enquanto o petista discursava, o Tio Sam tomava nota. A verdade incontestável é que o PT — junto com aqueles que lhe garantem apoio e retaguarda para brincar de revolução — faz um mal incalculável ao Brasil. Não apenas internamente, com sua obsessão pelo controle, pelo aparelhamento e pela criminalização do pensamento livre, mas também externamente, ao isolar o país em nome de seu “sonho stalinista“. Enquanto o mundo avança, o Brasil recua agarrado aos seus colegas de ditadura, levando junto milhões de brasileiros que só querem trabalhar, produzir e viver com dignidade. E, como sempre, quem pagará a conta não serão os que discursam em Brasília, mas os que carregam o país nas costas.
Aumento de cargos no STF: o Brasil está quebrado ou não?

Nesta terça-feira (08), a Câmara dos Deputados aprovou um aumento de 160 novos cargos para o Supremo Tribunal Federal. Uma vitória do STF, que agora terá mais gente para “desafogar” a justiça — ou talvez para identificar “discursos de ódio” com mais eficiência e vigiar parlamentares que se esquecem de que precisam “se comportar“. Vitória da casta, derrota do povo. Enquanto o cidadão comum aperta o cinto para pagar a conta do Estado inchado, Brasília segue em expansão — e em festa. Esse novo presentinho custará milhões aos cofres públicos, turbinando uma das estruturas mais caras do Judiciário no mundo. Para comparação internacional, parece piada. A pergunta óbvia é: o Brasil tem ou não o dinheiro necessário para custear este novo cenário? A própria ministra do Planejamento vive alertando que o orçamento não se sustenta sem uma revisão urgente nas despesas obrigatórias. Mas isso não impediu o Congresso de aprovar mais cargos para o Judiciário — e ainda discutir o aumento de deputados na Câmara. Parece que o congresso está lutando contra o bolso do contribuinte, passando longe de ser uma representação da vontade do povo. Faço parte de um grupo de WhatsApp com policiais do Rio de Janeiro. Nele, há um colega que faz questão de se identificar como defensor ferrenho da esquerda brasileira — com a mesma convicção cega com que alguns homossexuais defendem o Hamas. Confesso que é algo difícil de compreender, mas, no geral, damos pouca importância ao que ele diz. Trata-se de alguém que claramente nunca teve acesso ou contato real com ideias conservadoras, liberais ou libertárias. Ainda assim, por mais absurdas que sejam suas opiniões, deixamos claro com atitudes — e não com censura — que ele tem espaço garantido para falar o que quiser. Não será banido por pensar diferente. Ao contrário da esquerda que ele tanto admira. Esse policial vive trazendo para o grupo notícias sobre gastos públicos na casa dos milhões ou bilhões. E sempre lança a mesma pergunta: “o país está quebrado?“. Como explicar para um cidadão comum que o simples fato de falar em bilhões já representa uma terrível decadência do valor da moeda, e ainda mais quando se fala de bilhões na máquina pública? A verdade é que o insucesso é certo, não pela indisponibilidade de se explicar, desenhar e tudo mais, mas pela complexidade de compreensão da atitude contraditória do próprio congresso. Mas como a mesma entidade pode ser contra e a favor de aumento de gastos ao mesmo tempo? A derrubada do aumento do IOF na Câmara deu um breve ar de normalidade ao Brasil, trazendo um raro alinhamento entre o que pensa o cidadão comum e a Casa que deveria representá-lo. No entanto, essa mesma Câmara que rejeitou o aumento de impostos aprovou o aumento do número de deputados, de 513 para 531, e, na noite de 8 de julho, autorizou a criação de 160 novos cargos no STF — podendo chegar a 200. Alguns parlamentares afirmam que a medida não altera o orçamento e que não implicará em novos gastos. Mas essa justificativa, embora teoricamente correta, é uma desculpa pronta. Na prática, sabemos que isso acabará gerando a necessidade de mais arrecadação com o tempo — ou seja, mais peso no bolso do contribuinte. O país está quebrado? Em audiência na Comissão Mista de Orçamento (CMO), no mesmo dia, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, admitiu que o orçamento de 2026 será “desafiador“. Ainda assim, na mesma reunião, anunciou que o salário mínimo passará dos atuais R$ 1.518 para R$ 1.630. Segundo ela, em termos reais, será o maior valor em 50 anos — mas cada real de aumento representa um impacto direto de R$ 420 milhões nas contas públicas. Ou seja, o governo reconhece que o orçamento está por um fio, mas continua empilhando despesas obrigatórias como se o dinheiro brotasse em árvore. A matemática não fecha, mas o populismo, como sempre, fala mais alto. Aí vem o amigo policial, compartilha a manchete destacando apenas o aumento do salário mínimo — como se fosse um ato isolado de bondade estatal — e ignora completamente o alerta da própria ministra sobre o desafio de manter as contas públicas de pé. E, claro, solta a pergunta de sempre: “o país tá quebrado?“ A resposta continua sendo direta: o Brasil não é pobre. Pelo contrário. É um país rico, com um povo trabalhador, a terra é altamente produtiva, clima que atrai turistas, uma economia com potencial de sobra e as reservas minerais são invejáveis aos olhos do mundo. O que falta não é recurso, é gestão — e uma gestão que não seja partidária, mas nacional. Falta um governo que queira desenvolver o país, e não só proteger o próprio grupo político. Que gere riqueza para o Estado, não para amigos, familiares e apadrinhados. Que una o povo em torno de objetivos comuns, em vez de dividir o país entre “eles e nós“. O Brasil ainda não está quebrado, mas se continuar nesse ritmo, a destruição não será questão de “se“, e sim de “quando“.
Rússia recruta estrangeiros: a nova legião de Putin e os ecos da história militar europeia

Com mais de três anos de guerra intensa contra a Ucrânia, a Rússia enfrenta um dilema estratégico e político: como manter sua ofensiva sem provocar uma nova onda de mobilização interna que possa desestabilizar ainda mais o país? A resposta veio em julho de 2025, quando o presidente Vladimir Putin assinou um decreto que autoriza cidadãos estrangeiros a servirem no exército russo mesmo fora de estados de emergência ou lei marcial. A medida também permite que especialistas acima do limite de idade ingressem em agências como o FSB e o SVR, ampliando o escopo do recrutamento militar e de inteligência. Essa decisão não é apenas uma resposta ao desgaste humano da guerra — que já causou mais de um milhão de baixas entre soldados russos, segundo o Estado-Maior da Ucrânia — mas também uma tentativa explícita de evitar o custo político de uma nova mobilização nacional. O decreto de mobilização parcial de setembro de 2022, ainda em vigor, provocou o êxodo de mais de 261 mil russos, revelando o impacto social e psicológico da guerra. Ao invés de repetir esse trauma, o Kremlin aposta na internacionalização de suas forças armadas, oferecendo incentivos financeiros e a promessa de cidadania russa a estrangeiros dispostos a lutar. Entre abril de 2023 e maio de 2024, mais de 1.500 estrangeiros foram recrutados para combater na Ucrânia, segundo o Ministério da Defesa britânico. A maioria veio do Sul e do Leste da Ásia (771), seguida por cidadãos de ex-repúblicas soviéticas (523) e países africanos (72). Os principais atrativos são os bônus de assinatura e a possibilidade de obter cidadania russa — uma oferta que transforma Moscovo em um polo internacional de alistamento militar. Essa estratégia, embora adaptada ao contexto contemporâneo, tem raízes profundas na história militar europeia. Em 1831, a França criou a Legião Estrangeira como forma de reforçar suas campanhas coloniais sem comprometer o tecido social interno. Formada exclusivamente por estrangeiros — exilados políticos, mercenários e aventureiros — a Legião atuava fora do território metropolitano, especialmente na Argélia, permitindo à França expandir seu império sem agitar o cenário doméstico. Mais do que uma solução logística, a Legião era um instrumento de controle político e reforço imperial. A Espanha seguiu o mesmo caminho ao fundar, em 1920, o Tercio de Extranjeros, sua própria legião estrangeira. Enfrentando derrotas na Guerra do Rif, o país buscava tropas mais resilientes e motivadas. Inspirada na francesa, a Legião Espanhola recrutava voluntários estrangeiros para missões de alto risco no norte da África. Seu ethos heroico e sua independência em relação ao exército regular espanhol conferiram à unidade uma aura de elite e utilidade política em tempos turbulentos. A Rússia, ao permitir o alistamento de estrangeiros, parece reativar esse princípio com nova roupagem. A medida não apenas reforça o contingente militar, mas também sinaliza uma mudança de paradigma: o Kremlin reconhece que sua capacidade de mobilização interna está esgotada e que, para sustentar sua ofensiva, será preciso recorrer a soluções externas. Ao incluir especialistas acima do limite de idade em agências de segurança, a Rússia amplia ainda mais sua rede de recrutamento, buscando talentos que possam contribuir com inteligência, logística e operações especiais. Outros países também adotaram estratégias semelhantes. Os Estados Unidos têm uma longa tradição de recrutamento estrangeiro em suas forças armadas, especialmente durante os conflitos no Oriente Médio. A promessa de green card e cidadania funcionou como alavanca de recrutamento. Israel, durante sua Guerra de Independência, contou com voluntários da diáspora judaica e veteranos da Segunda Guerra Mundial. Mais recentemente, a Ucrânia criou sua própria Legião Internacional, atraindo estrangeiros para combater a invasão russa. Esses exemplos revelam uma constante histórica: quando a mobilização interna se torna politicamente arriscada ou inviável, os exércitos recorrem a recursos humanos externos. É uma forma de terceirização da guerra, que transfere o custo da defesa para mãos estrangeiras em troca de compensações materiais e promessas de pertencimento. A Rússia, portanto, não apenas reage às pressões da guerra na Ucrânia, mas também reposiciona sua política militar em sintonia com modelos consagrados — e polêmicos — da tradição europeia. Embora o impacto numérico dos estrangeiros no exército russo ainda seja limitado, o gesto tem peso simbólico e estratégico. Ele mostra que o Kremlin está disposto a adaptar sua política de defesa para evitar novos traumas sociais e políticos. Ao abrir seus quartéis aos estrangeiros, a Rússia confere à sua política de guerra um novo rosto — mais pragmático, mais internacional e menos dependente do consenso nacional. Essa “nova legião de Putin” não é apenas uma resposta ao desgaste da guerra. É uma tentativa de reinventar a máquina militar russa, inspirando-se em práticas históricas que permitiram a outras potências sustentar seus projetos imperiais sem sacrificar sua estabilidade interna. Em tempos de guerra prolongada, a História sempre retorna com novas fardas — e a Rússia, ao que tudo indica, está vestindo a sua.
Tarifa Moraes: Trump encerra o patrocínio americano ao governo Lula

O governo dos Estados Unidos mandou um recado direto ao Brasil: acabou o patrocínio. A tarifa de 50% anunciada por Donald Trump sobre produtos brasileiros é mais do que uma medida comercial — é o fim de uma relação de conveniência que começou com Biden e que Lula acreditou que duraria para sempre. A verdade é que Lula só chegou ao poder em 2022 porque contou com o apoio pesado da máquina internacional progressista. O governo Biden fez questão de intervir — de forma “diplomática” — no processo eleitoral brasileiro. Foram quatro visitas oficiais de alto escalão antes das eleições: CIA, Conselho de Segurança Nacional, Comando Sul e Departamento de Defesa. O recado era claro: o Brasil não podia sair do “controle”. Segundo o Financial Times, os EUA ajudaram o TSE até mesmo com a compra de semicondutores para as urnas, articulando com a Texas Instruments e até com Taiwan para garantir os chips — algo impensável em qualquer democracia soberana. Isso sem contar a estrutura de mídia montada para demonizar Bolsonaro e blindar Lula, financiada com verbas públicas e aplausos internacionais. A eleição de 2022 foi a mais tutelada da história do país. Só que o script desandou rápido. Assim que assumiu, Lula mostrou que não era o fantoche dócil que Biden esperava. Começou a se alinhar abertamente com China, Rússia e Irã, afastando o Brasil dos EUA e da Europa. Já foram duas visitas oficiais à China desde 2023, encontros com Putin e recepção a navios iranianos nas águas brasileiras. No BRICS, Lula liderou propostas como a criação de uma moeda própria do bloco — uma ameaça direta ao dólar. Também tentou empurrar uma solução para a guerra na Ucrânia que favorecia Moscou. Não à toa, os mesmos veículos internacionais que o tratavam como “salvador da democracia” agora começam a expor o que de fato está acontecendo no Brasil. Enquanto isso, o STF — principal aliado interno de Lula — passou a operar como braço político. O episódio com Elon Musk escancarou o que antes era censurado: um tribunal que cassa vozes, prende opositores, promove censura digital e conduz inquéritos eternos sem contraditório. Musk disse o óbvio: que Alexandre de Moraes traiu a Constituição brasileira. E não estava exagerando. Trump, que agora volta ao comando da Casa Branca, não deve um centavo a Lula nem ao STF. Diferente de Biden, ele não disfarça com diplomacia. Ele age. E a tarifa de 50% é o primeiro passo de uma retaliação estratégica contra um governo que flerta com ditaduras e trai seus parceiros ocidentais. É o fim do teatro. O apoio que Lula teve lá fora — montado por Biden, CIA e mídia amiga — desapareceu. O governo brasileiro hoje é visto por Washington como um problema, não como aliado. E o mundo começa a enxergar o que muitos já denunciavam desde 2022: a eleição foi uma operação internacional, mas o Brasil cobra caro quando entrega sua soberania em troca de aplausos. O globalismo mudou de lado. E agora, a conta está chegando.
O mesmo ódio de sempre, com nova roupagem

Quando falo de antissemitismo, a maioria pensa logo em Hitler e no Holocausto. Mas esse ódio é mais antigo e disfarçado — começa em piadas, memes e boatos como “judeus controlam o mundo” ou “são gananciosos”. Narrativas simples que transformam pessoas reais em monstros, abrindo caminho para expulsões, pogroms e câmaras de gás. Depois da Segunda Guerra, parecia que havíamos aprendido. “Nunca mais”, dizíamos. Mas, como lembra Deborah Lipstadt em Antisemitism: Here and Now, o antissemitismo não desapareceu — apenas mudou de fantasia: virou “antissionismo”. Criticar políticas de Israel é legítimo. Mas negar o direito de existir do único Estado judeu do mundo é o mesmo ódio de sempre, com nova roupagem. Hoje, o antissemitismo moderno troca “judeus mataram Cristo” por “Israel mata palestinos”. Kenneth L. Marcus alerta que, quando aplicamos a Israel padrões que não aplicamos a nenhum outro país, estamos diante do antissemitismo. Ruth Wisse lembra que, historicamente, transformar judeus em símbolos do mal foi o motor de perseguições. Eu vi isso de perto em Porto Alegre. Participei e denunciei manifestações que se chamavam de “pró‑Palestina”, mas eram palcos de ódio aos judeus e relativização do terrorismo islâmico. Ali, ouviu-se o grito de parlamentares de esquerda, de partidos como PT e PSOL, “do rio ao mar” — expressão banida na Alemanha e condenada internacionalmente, porque significa a destruição completa de Israel. É exatamente o que o estatuto do Hamas defende. O Hamas, fundado em 1987, é uma organização terrorista que busca eliminar Israel por meios violentos. Em 7 de outubro, assassinou, estuprou e sequestrou civis judeus. Relativizar ou defender isso não é crítica política. É propaganda antissemita. Ainda restam mais de 50 reféns israelenses nas mãos dos terroristas. Isso fica mais claro ao observar o comportamento de figuras públicas que deveriam ser autoridades na formulação de políticas públicas. Celso Amorim, ex-chanceler e assessor de Lula, escreveu o prefácio da versão brasileira do livro de Daud Abdullah, Engaging the World: The Making of Hamas’s Foreign Policy (2023), afirmando estar “muito encorajado” com a perspectiva de que, por meio de diálogo internacional, o Hamas poderia “restaurar os direitos palestinos”. O que Celso Amorim propõe não é diplomacia: é legitimação de uma organização terrorista. Em absoluto contraste com sua posição sobre o Hamas, Amorim defende que o Brasil mantenha relações mínimas com Israel — vetando inclusive a aprovação de um novo embaixador — e que ingresse na ação da África do Sul acusando Israel de genocídio na Corte Internacional de Justiça, argumentando que os ataques do Hamas foram “condenáveis’, mas os números dos mortos em Gaza são maiores. É uma inversão flagrante: relativiza o assassinato de judeus e amplifica a narrativa de que Israel é muito pior que um grupo terrorista. Isso é a representação do antissemitismo como política externa no Brasil hoje. Nas universidades, denunciei palestras na UFRGS e na Unisinos que compararam Israel ao nazismo. Para Yehuda Bauer, em Rethinking the Holocaust, isso banaliza o genocídio e torna o discurso antijudaico. O Brasil vive um momento crítico: há pichações antijudaicas, suásticas em muros, ataques a cemitérios judaicos, memes conspiratórios enviando “banqueiros judeus” no WhatsApp. Hannah Arendt ensinou: desumanizar é primeiro passo para a violência. David Nirenberg mostra: sociedades em crise sempre procuram um bode expiatório — e hoje, mais uma vez, são os judeus. A mais cruel hipocrisia é ver quem grita “antifascismo” relativizar o antissemitismo. Apoiam o Hamas, pedem o fim de Israel, levam pessoas aplaudirem livros que romantizam terroristas — e ainda se consideram do lado certo da história. Antissemitismo é crime. Tem que ser combatido com coragem, lucidez e ação — antes que famílias judaicas brasileiras se tornem alvo real. O “nunca mais” não é slogan de muro: é compromisso diário, em sala de aula, praça, protesto, rede social. Criticar Israel é legítimo; negar seu direito de existir e demonizar judeus, jamais pode ser permitido. Eu não sou judeu. Sou gaúcho, descendente de alemães. Carrego memórias de guerra e imigração dos meus antepassados — mas também a responsabilidade de não repetir erros. Por isso, quando me perguntam por que me importo se não sou judeu, respondo: exatamente por isso. Defender a dignidade humana é obrigação de quem quer ver uma sociedade saudável — sem ódio, sem exclusão, sem violência. Hoje, muitos nos acusam de nazistas ou fascistas por defendermos valores conservadores. Mas são os mesmos que relativizam o terror do Hamas, aplaudem discursos que clamam pela destruição de um povo. É a inversão total de papéis: quem deveria combater o mal abraça o ódio — e acusa quem denuncia de ser fascista. Recuso essa inversão. Combater o antissemitismo é um compromisso, pois acredito na liberdade, dignidade e justiça. Sei que esse ódio é o sintoma de uma sociedade doente. Se não defendermos os judeus hoje, amanhã podemos ser nós. Se queremos honrar o “nunca mais”, temos que agir agora. Quando ouvirmos discursos que transformam um povo inteiro em vilão, relativizam o terror ou clamam pela destruição de Israel, precisamos ter coragem de dizer não. Quem relativiza o terror e defende o fim de um povo não é antifascista — está do lado errado da história, mesmo que finja o oposto. Antissemitismo começa nas palavras e termina em violência. Se queremos que o “nunca mais” seja real, precisamos agir — juntos, agora.
A mentalidade israelense: forjada na resiliência e na união

Em Israel, a prontidão não é apenas um lema militar, é parte de cada respiração, de cada gesto, de cada rotina. Desde pequenos, meninos e meninas aprendem a reconhecer o som das sirenes que anunciam ataques aéreos, a buscar refúgio rapidamente, a não entrar em pânico. São crianças que sabem onde fica o abrigo mais próximo, que fazem simulados de evacuação na escola, e que escutam de seus pais: “Atenção salva vidas“. Para quem nunca viveu algo parecido, isso pode soar assustador, mas para os israelenses, essa educação para a emergência representa cuidado, responsabilidade e, acima de tudo, amor à vida. Essa convivência constante com a possibilidade de ataque não gera apenas temor, mas cria uma geração que valoriza a serenidade diante do caos. Desde cedo, eles aprendem a reagir rápido, a estender a mão ao vizinho, a proteger os mais frágeis. É uma forma de crescer consciente de que a força não está somente em armas, mas também na capacidade de manter a calma e agir corretamente mesmo sob risco extremo. Essa mentalidade de prontidão se transforma numa espécie de “instinto coletivo” que orienta toda a sociedade israelense, que segue em frente apesar de qualquer ameaça. O Exército como escola de vida Outro elemento central na formação da mentalidade israelense é o serviço militar obrigatório. Em Israel, ele não se resume a treinar jovens para combater, mas é uma verdadeira escola de vida. Durante dois ou três anos, meninos e meninas aprendem a conviver, a confiar uns nos outros e a assumir responsabilidades. São treinados para liderar, para planejar, para improvisar soluções e, principalmente, para tomar decisões duras sob pressão. Os israelenses sempre dizem que os amigos do exército são para sempre, e não é exagero. O convívio diário, as patrulhas compartilhadas, as noites frias em postos de vigilância, as conversas que aliviam o medo no meio do nada: tudo isso constrói laços profundos de irmandade. Essa rede de solidariedade criada na juventude continua ao longo de toda a vida adulta. Quando um soldado deixa o uniforme, ele carrega não apenas habilidades técnicas, mas também a certeza de que pode contar com seus irmãos e irmãs de armas em qualquer situação. É um senso de comunidade que transcende o quartel e fortalece toda a sociedade israelense. Rapidez e iniciativa A geografia e a realidade geopolítica de Israel não permitem hesitação. Cercado por ameaças, num território pequeno, o país desenvolveu uma cultura de ação imediata. O israelense médio prefere resolver os problemas sem burocracia, de forma direta, e se orgulha de improvisar soluções práticas mesmo diante de obstáculos gigantescos. Essa mentalidade, tão forjada pela necessidade de sobreviver, virou também motor de inovação. O famoso rótulo de Startup Nation não surgiu por acaso: a mesma rapidez que salva vidas em situações de guerra também impulsiona ideias revolucionárias, negócios arrojados e tecnologias que impressionam o mundo. O israelense cresce acostumado a lidar com riscos e a tomar decisões rápidas, e leva isso para o empreendedorismo, para a ciência e para todos os setores. Solidariedade que abraça todos Mas talvez o traço mais tocante da mentalidade israelense seja a solidariedade. Em momentos de crise, o país inteiro se mobiliza para proteger os mais vulneráveis. Durante conflitos armados, famílias abrem suas casas para desconhecidos de outras regiões, coletivos organizam doações de alimentos e roupas em questão de horas, voluntários se arriscam para resgatar feridos ou levar medicamentos para zonas de risco. Um exemplo muito marcante aconteceu no enterro da jovem Bruna Valeano, assassinada brutalmente no ataque terrorista do Hamas na festa de música eletrônica. Cerca de 10 mil pessoas compareceram ao funeral, gente que nem a conhecia pessoalmente, mas quis prestar solidariedade e dizer à família que eles não estavam sozinhos. Esse senso de comunidade se torna quase palpável nos momentos de dor coletiva. Outro caso que ficou gravado no meu coração foi o do meu amigo Ben Shimoni, também presente na mesma festa. Quando o massacre começou, ele não pensou apenas em si. Ele pegou o carro e fez três viagens, levando pessoas desesperadas para zonas seguras. Voltou para resgatar mais gente, sem medir o perigo. Na terceira viagem, não retornou. Foi morto pelos terroristas do Hamas. Shimoni representa o espírito israelense: coragem, altruísmo, prontidão para ajudar, mesmo que isso custe a própria vida. Esse tipo de atitude se repete em toda parte. Há quem ofereça carona a estranhos, quem acolha famílias inteiras que perderam tudo, quem organize cozinhas comunitárias para alimentar quem está fugindo de foguetes. É o conceito do arvut hadadit, a responsabilidade mútua, que rege esses gestos simples e grandiosos ao mesmo tempo. Um espírito que inspira Israel vive, há décadas, cercado por ameaças reais, de grupos armados a estados que negam seu direito de existir. Ainda assim, a sociedade israelense não se deixa consumir pelo ódio. A dor e o medo são transformados em coragem e em resiliência. Se de um lado existe vigilância constante e protocolos de segurança, do outro há música, festas, cultura viva, tecnologia de ponta e sonhos de paz. É impressionante observar como os israelenses não se permitem paralisar. Eles transformam perdas em reconstrução, ataques em mais determinação, lágrimas em motivação. Quando a ameaça vem, reagem unidos, e depois retomam a vida, às vezes no mesmo dia, como uma demonstração de que não permitirão que seus espíritos sejam quebrados. A prontidão que aprendem desde crianças se soma ao espírito solidário que floresce nos piores momentos. E essa combinação constrói um caráter coletivo raro: forte, ágil e ao mesmo tempo generoso. O resultado é uma sociedade que tem coragem de enfrentar a dor, que não se dobra diante do terror e que, ao mesmo tempo, não perde a humanidade. O caso de Shimomi, que se tornou herói na madrugada mais sombria, ou o enterro de Bruna, acompanhado por milhares que não queriam deixá-la partir sozinha, mostram exatamente o coração do povo israelense: ele bate rápido, mas bate junto, em sintonia com a vida, a liberdade e a dignidade. A mentalidade israelense é o reflexo de
Gilmarpalooza: onde a raposa vai se confraternizar com quem vigia o galinheiro (e errado é quem reclama)

O Gilmarpalooza não é apenas um fórum jurídico em Lisboa. É um evento único nas democracias. O leitor pode refazer o trabalho deste articulista e pesquisar: não há nada parecido no mundo. Ninguém consegue reunir tantos senadores, deputados, ministros, juízes de tribunais superiores, bilionários e todo tipo de autoridade como Gilmar Mendes faz todos os anos. O fato de fazê-lo a um oceano de distância do seu país de origem é apenas um detalhe para o evento que explica o Brasil melhor que qualquer edição do Diário Oficial. O que é o Gilmarpalooza? Realizado anualmente desde 2013, o Fórum Jurídico de Lisboa ganhou o apelido de “Gilmarpalooza” não por obra dos seus inimigos, mas através do boca a boca de quem frequenta o evento. Em 2025, bateu recorde. Três mil inscritos, mais de 300 palestras em três dias, tudo sob as arcadas da Universidade de Lisboa. O evento se pretende acadêmico e tem como objetivo gerar “discussões e debates”. Sua organização fica a cargo do IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa), que tem Gilmar como sócio, do Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e da FGV Justiça, da Fundação Getulio Vargas. Até hoje, não se tem notícia, entretanto, de qualquer contribuição relevante que tenha saído de tamanha reunião. Para quem participa, no entanto, a programação oficial parece ser apenas uma desculpa para o que realmente interessa: o livre acesso aos ouvidos das autoridades reunidas ali como palestrantes. De acordo com a Folha de S. Paulo, 150 delas — entre membros do Judiciário, Congresso, agências reguladoras, governos estaduais e outros órgãos públicos — bateram ponto no Fórum. Lá, longe dos olhos do público, empresários, advogados e lobistas têm a oportunidade de promover eventos ainda mais exclusivos. A evidente confusão entre público e privado não surpreende apenas quem participa do Gilmarpalooza. Para o tradicional jornal suíço NZZ, o evento é uma das provas de que o Judiciário brasileiro virou uma casta intocável. O também tradicional Handelsblatt, da Alemanha, pergunta sem rodeios: “Quão corruptos são os juízes do Brasil?” A programação que realmente interessa Antes mesmo do Gilmarpalooza começar, a festa já estava em andamento. Na segunda, o chamado Seminário de Verão de Coimbra reuniu vinte ministros do STF e do STJ para discussões a respeito do tema “Descortinando o futuro: 30 anos de debates jurídicos“. O tema só não é mais vago do que a lista de patrocinadores. Num arranjo incomum, as diversas empresas que financiaram um evento tão importante preferiram não aparecer. Na terça, a Associação Latinoamericana de Internet (ALAI) — que representa de Meta a Rappi — promoveu um almoço para convidados na tradicional Adega da Tia Matilde, aberta desde 1926. A lista dos presentes, como quase tudo que envolve brasileiros poderosos em Portugal, não foi divulgada. À noite, o coquetel ficou por conta da Esfera Brasil, comandada por João Camargo, presidente executivo do conselho da CNN Brasil. O evento não poderia ter sido mais democrático: reuniu o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, o decano Gilmar Mendes, o ministro Bruno Dantas do TCU, Arthur Lira, além de nomes do empresariado como o CEO do iFood e o presidente da Federação Brasileira de Bancos. João Camargo, inclusive, fez questão de se gabar (veja aqui) de ter reunido tantos comensais — e de agradecer ao empresário Flavio Rocha, dono da Riachuelo, por ter emprestado sua cobertura para o encontro. Na quarta, o almoço foi em homenagem ao ex-presidente Michel Temer. A lista — quase 500 convidados — ia do procurador-geral Paulo Gonet a ministros do governo Lula como Alexandre Silveira, Ricardo Lewandowski e Jader Filho. Não houve discursos, mas, segundo quem estava lá, teve muita “conversa”. Em 2024, o BTG Pactual promoveu um happy hour após o evento. O rooftop do luxuoso restaurante SUD foi decorado com a logo do banco e recebeu ilustres de todas as áreas. Para além do banqueiro André Esteves, Gilmar confraternizou com os presentes até ser “substituído” por Barroso. Tudo regado a camaradagem e a um estoque aparentemente infinito de vinho do Porto. Entre os convidados, estavam donos de grandes escritórios de advocacia e juristas influentes nos tribunais superiores, como Lenio Streck — para quem Sergio Moro sempre errou e Alexandre de Moraes nunca erra — e o famoso Kakay, o único indivíduo livre para circular de bermudas nos corredores do Supremo. A cena deve se repetir este ano. Nem a FGV escapa… Um detalhe quase sempre esquecido no meio de tanto tapinha nas costas no Gilmarpalooza: um dos organizadores do evento, a Fundação Getúlio Vargas, deve muito ao próprio Gilmar, como contou o repórter Allan de Abreu na revista piauí. A FGV se vende como templo da excelência acadêmica. Mas, na última década, protagonizou um filme policial. Corrupção, evasão de divisas, empresas de fachada, contratos milionários sem licitação. Um roteiro digno de filme, mas, como todo escândalo que cai no colo de Gilmar Mendes, não espere nenhuma surpresa. As dúvidas sobre a FGV começaram em 2016, quando Daniela Faria Tavares assumiu a Promotoria de Fundações do Rio. Daniela cismou que a fundação andava longe de ser tão limpinha quanto parecia. Em 2019, mergulhou na contabilidade da entidade e encontrou o que chamou de “bagunça completa“. Saques em dinheiro, empresas de fachada recebendo milhões, diretores embolsando bônus milionários. Diante do descalabro, o Ministério Público do Rio pediu o afastamento da cúpula da FGV, quebra de sigilos e perda da imunidade tributária da instituição. A FGV, claro, não ficou parada. Ainda em dezembro de 2019, correu até o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) alegando “excessos” da Promotoria. O CNMP deu uma liminar proibindo promotores de reprovar contas das fundações se o processo durasse mais de um ano. Na prática, isso matou a investigação. A FGV demorava a entregar documentos, enquanto apenas três promotores precisavam fiscalizar quase trezentas fundações. O MP bem que tentou tentou derrubar a liminar e num desses desvios processuais que só acontecem no Brasil,