Diddy é culpado — mas não do que queriam

Eles queriam a máfia. Queriam um Don Corleone do hip hop, com engrenagens criminosas funcionando sob ordens murmuradas ao pé do ouvido. Queriam provar RICO — essa peça de artifício jurídico feita sob medida para destruir impérios subterrâneos. O que encontraram, no entanto, foi um pervertido. Um homem com gostos minuciosamente grotescos: viciado, violento, e obcecado por espetáculos privados em que homens besuntados em óleo de bebê Johnson eram colocados como brinquedos vivos em cenas que nem o Marquês de Sade imaginaria com tanta produção. Provaram que Sean Combs bate em mulher, que cheira o que vê pela frente, que domina pelo medo e pelo vício. Provaram que odeia mulheres do modo mais íntimo e destrutivo — o modo de quem as consome e as desmantela. Mas não conseguiram provar a conspiração. O RICO escorreu dele como escorre o óleo das costas nuas de seus parceiros de fetiche. Foi Cassie quem o entregou — depois de onze anos. Onze anos ao lado de seu algoz, organizando orgias com a mesma eficiência de uma assessora de palco. Ela apanhou, ficou, participou. E isso, para o júri, foi demais. O que o júri não disse — mas pensou — é que mulher que fica não pode depois posar de vítima. O que não entenderam — ou se recusaram a entender — é que a vítima às vezes só descobre que é vítima quando já está completamente moldada à cela. Queriam a máfia. Encontraram o espelho sujo da América: o show, o vício, o abuso. Um império depravado, sim — mas pessoal, íntimo, suado. E isso, talvez, tenha sido ainda mais difícil de engolir.

O “paz e amor” vira “guerra e ódio”: Lula não consegue esconder sua ideologia no exterior

Brasil escolhe ditaduras como parceiros estratégicos e fica isolado internacionalmente Dentro do Brasil, o governo segue o discurso de defesa da democracia, usando a chamada frente ampla nas eleições de 2022 e adotando o slogan “União e Reconstrução“. Na prática, os nomes de centro como Simone Tebet e Geraldo Alckmin estão isolados em um governo cada vez mais de pura esquerda e cercado de escândalos. No exterior, entretanto, o governo age de forma mais coerente. O discurso e a prática são em defesa das ditaduras, com o distanciamento das democracias ocidentais. A fachada de “paz e amor” usada pelo PT em eleições vira um claro apoio à guerra e ao ódio nos quatro cantos do planeta, mesmo quando há terrorismo envolvido. Apoio ao Irã e insultos a Israel A defesa de ditaduras não é novidade nos governos petistas. A Venezuela é o clássico exemplo, mas são os recentes posicionamentos do Brasil que têm gerado o espanto da comunidade internacional. Quando os Estados Unidos bombardearam centrais nucleares do Irã em junho, o Ministério das Relações Exteriores soltou comunicado condenando o ataque, que seria uma violação à soberania do Irã e ao Direito Internacional. A maioria dos países democráticos apoiou os ataques ou, no máximo, expressou preocupações. Afinal, a própria Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) havia publicado um relatório dizendo que o Irã estava enriquecendo urânio acima dos limites de uso civil e poderia fazer uma bomba nuclear em meses. Durante o atual cessar-fogo entre Israel e Irã, a agência da ONU (Organização das Nações Unidas) anunciou que o Irã ainda poderia enriquecer urânio e ter armas nucleares em questão de meses, pois os danos à infraestrutura nuclear iraniana foram extensos, mas não totais. Na quarta (2), o Irã sancionou uma lei que suspende a cooperação com a OIEA, tirando o seu programa nuclear da fiscalização da ONU. O comunicado do Itamaraty, portanto, desconsidera que o próprio Irã desrespeitou e continua desrespeitando o Direito Internacional, ao descumprir o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e estar enriquecendo urânio para usos militares, o que coloca não só Israel e os EUA em risco, mas todo o mundo e a existência humana. É incompreensível a chancelaria brasileira defender uma ditadura teocrática como o Irã, que persegue minorias religiosas, mata mulheres por usarem vestimentas inapropriadas, como a jovem Mahsa Amini, e é conhecidamente o maior financiador do terrorismo no mundo, patrocinando Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica Palestina, Houthis, dentre vários outros grupos extremistas. O tom inapropriado não se restringe ao Itamaraty. No início de 2024, Lula causou surpresa quando chamou a ocupação de Gaza por Israel de chacina e genocídio, comparando-a com o Holocausto, o extermínio de mais de 6 milhões de judeus pelos nazistas. A fala gerou grande repercussão internacional, pela gravidade da acusação e pela desconsideração tanto histórica quanto religiosa dos acontecimentos. Lula foi considerado persona non grata em Israel, indicando que o presidente brasileiro não é mais bem-vindo no país. A imagem do Brasil no exterior Em mais um desdobramento internacional, a revista inglesa The Economist publicou, no último dia 29, uma matéria com o título “O presidente do Brasil está perdendo influência no exterior e é impopular em casa”. Em 2022, a The Economist dizia que a reeleição de Jair Bolsonaro seria ruim para o Brasil e para o mundo, de modo que só Lula poderia prevenir isso. Três anos depois, a revista muda o discurso após a política externa brasileira ganhar rumos sombrios, enquanto o governo é cada vez mais impopular domesticamente, com o escândalo de fraude do INSS, do pix, aumento de impostos e inflação descontrolada.  Na avaliação da revista, Lula fica ao lado de ditaduras como o Irã e a Rússia, apoiando esses países publicamente, mesmo que sejam dois dos maiores agressores do Direito Internacional. A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, com ataques à população civil e a anexação de territórios. A guerra soma milhares de mortos e milhões de refugiados. A Rússia foi condenada em peso por toda a comunidade internacional. Europa e Estados Unidos uniram-se para ajudar a Ucrânia a resistir à invasão. Mesmo assim, Lula faz seguidas demonstrações de apoio à Rússia e visitou o país na parada militar de 80 anos da derrota dos nazistas, em maio. No evento, Lula ficou ao lado de criminosos de guerra e de ditadores que se perpetuam no poder com eleições fraudulentas ou que chegaram ao poder com golpes. Era o único líder de uma grande democracia a estar presente. Lembre-se também de que o presidente russo, Vladimir Putin, tem ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por sequestrar milhares de crianças ucranianas. A viagem de Lula gerou constrangimento entre as democracias europeias, que se esforçam para defender o continente da ameaça expansionista russa. Dessa forma, a observação da revista The Economist encontra respaldo na realidade. O mais surpreendente foi o Itamaraty rebater a matéria, com uma carta dizendo que a “autoridade moral do presidente Lula é indiscutível“, que ele não faz “tratamento à la carte do direito internacional nem interpretações elásticas do direito de autodefesa“. Não parece republicano o uso de instituições de Estado, como o Ministério das Relações Exteriores, para defender a reputação pessoal do presidente da República. Ainda que a The Economist estivesse equivocada em qualquer ponto, está exercendo o seu direito de expressão como meio de comunicação, e é estranho o Itamaraty promover uma espécie de bate-boca com um veículo de imprensa estrangeiro, que sequer tem jurisdição no Brasil. Os atos do presidente Lula demonstram exatamente que é feito um tratamento à la carte do Direito Internacional. Lula e o PT apoiam a Venezuela de forma inconteste há décadas, mesmo após as eleições de 2024 que foram escancaradamente fraudadas, com urnas adulteradas, presos e refugiados políticos. O país tem Judiciário e Legislativo curvados ao presidente socialista Nicolás Maduro. A corrupção generalizada e a má gestão impedem o país de aproveitar a maior reserva de petróleo do mundo em seu subsolo. A população da Venezuela sofre com a supressão

Sabotagem do Nord Stream: Zelensky foi avisado, CIA tentou impedir, Alemanha ignorou alerta

Uma operação chamada “Diameter”, conduzida por um comando secreto ucraniano para sabotagem dos gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 26 em setembro de 2022, poucos meses após o início da invasão russa ao território ucraniano, foi divulgada pela revista Der Spiegel, no dia 20 de novembro de 2024. A reportagem traz muitos detalhes da operação, inclusive revela que os serviços de inteligência ocidentais souberam dos planos de ataque em junho de 2022, três meses antes das explosões. O artigo deixa claro que, tanto para a Ucrânia quanto para o comando secreto ucraniano que fez a sabotagem, os gasodutos eram um alvo militar legítimo em um conflito armado – em águas internacionais. Eles usaram um iate chamado “Andrômeda” para a execução da sabotagem. Nós trouxemos para nossos leitores os detalhes da operação e as intenções de sabotar outro gasoduto, o Turkish Stream, que conecta a Rússia com a Turquia. Segundo a reportagem, relatos indicavam que o ex-comandante-em-chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Valeri Zaluzhny, havia sugerido explodir a ligação de gás natural através do Mar Negro também. Leia mais: Como um comando secreto ucraniano explodiu o gasoduto russo Nord Stream – Danuzio Serviços de inteligência ocidentais souberam Ao que tudo indica, foi um agente sueco que soube dos preparativos realizados pelos sabotadores, de acordo com os círculos de segurança com quem os investigadores conversaram. A informação explosiva posteriormente chegou em outros serviços de inteligência. Um representante da CIA, em Kiev, visitou o palácio presidencial com uma mensagem clara: os planos de ataque deveriam ser interrompidos. Apesar de negar que soubesse de qualquer operação, neste momento fica claro que Volodymyr Zelensky foi informado da operação pela CIA. Os agentes dos EUA também entram em contato diretamente com o comando secreto – conforme mencionamos no primeiro texto que trata dessa investigação, alguns membros do comando foram treinados pela CIA. Os ucranianos deveriam deixar para lá os planos. O chefe do Exército ucraninao, General Valerii Zaluzhny, supostamente descobre que os serviços de inteligência souberam do plano. Se eles não parassem os preparativos, provavelmente todos iriam para a prisão, dizem os militares que transmitiram a informação ao comando secreto. Os homens que estavam executando a missão não entenderam isso como uma ordem de cancelamento. Em geral, não era possível esperar que o clima em Kiev se tornasse mais favorável. Os planos precisariam ser executados antes de outubro, devido às condições do tempo em outubro, pois o Mar Báltico estaria muito agitado para permitir que os mergulhadores entrassem na água apartir de um veleiro com tanques pesados de ar comprimido e bombas a partir daquela data. A Chancelaria alemã subestimou o perigo Em junho de 2022, o Serviço Federal de Inteligência alemão também recebeu um relatório criptografado e ultrassecreta com um aviso claro. Ele vem do serviço de inteligência militar da Holanda. A CIA também foi colocada em cena pelos holandeses, os americanos lideram as informações posteriores sobre segurança para os alemães. Os relatórios secretos descrevem um ataque aos gasodutos Nord Stream: seis comandos ucranianos, disfarçados com identidades falsas, planejavam alugar um barco, usar equipamento especial para mergulhar até os dutos no fundo do Mar Báltico e explodi-los. Os homens estariam sob o comando do comandante-em-chefe ucraniano Valery Salushny, mas o presidente Volodymyr Zelensky não havia sido informado. O ato de sabotagem foi planejado em torno da manobra “Baltops” da OTAN, no Mar Báltico. O Serviço Federal de Inteligência repassou as informações à Chancelaria, mas na sede do governo os relatórios não foram considerados relevantes. Eles ficaram disponíveis apenas na chancelaria depois que terminou a manobra da OTAN e nenhuma providência foi tomada. E foi por isso que os alarmes não foram disparado. Algumas pessoas em Berlim disseram que souberam do aviso, mas a visão predominante foi a de que a burocracia de segurança atrapalhou, classificando o relatório como falso. E devido a essa classificação, nem a Polícia Federal, a Marinha e os centros de combate ao terrorismo do governo federal e estadual da Alemanha foram alertados e nem orientados para os riscos do ataque aos gasodutos.

“Não é da sua conta”: do uso de jato ao assédio, para o STF, tudo deve continuar escondido de quem banca a festa

“Não é da sua conta”: do uso de jatinhos às denúncias de assédio sexual e até ao algoritmo que distribui processos — para o STF, tudo deve continuar escondido de quem banca a festa. Há uma expressão que resume como o Supremo Tribunal Federal prefere lidar com tudo o que, em qualquer democracia, deveria ser público: “Não é da sua conta!” Vale para o algoritmo que escolhe qual ministro vai relatar qual processo. Vale para os voos em jatinhos da Força Aérea Brasileira, que viraram transporte quase exclusivo de autoridades, inclusive ministros do Supremo. Quem paga o combustível, a tripulação e as taxas aeroportuárias? Você. Quem está dentro do avião? Não é da sua conta. Vale até para saber como e com quem o Supremo gasta em diárias, passagens, hotéis e mordomias pelo mundo afora. Dados que, em qualquer lugar sério, estariam a um clique no Portal da Transparência — mas que no STF somem do mapa por “inconsistências técnicas” sempre que alguém resolve perguntar demais. E, como se não bastasse, o “não é da sua conta” agora também cobre denúncias de assédio sexual e moral dentro do tribunal. São dezenas de casos nos últimos anos, processos concluídos que, pela lei, deveriam ser públicos — ainda que com nomes ocultos para proteger vítimas e acusados. Mas no Supremo, até isso precisa ficar trancado a sete chaves. A lógica parece sempre a mesma: quanto mais grave o tema, maior o sigilo. E quanto mais dinheiro público envolvido, menos a população tem direito de saber. Este texto é sobre isso: sobre algoritmos que ninguém vê, sobre mordomias que ninguém fiscaliza, sobre vídeos que ninguém pode assistir e sobre denúncias que ninguém pode ler. Sobre um Supremo que adora repetir ao cidadão comum — que banca toda essa estrutura — a mesma frase, seja qual for a pergunta: “Não é da sua conta!” Sistema de distribuição de processos, o famoso algoritmo do STF O primeiro passo da tramitação de um processo dentro do Supremo é a escolha da relatoria. Com poderes quase imperiais no âmbito processual, um ministro-relator pode fazer muita coisa, inclusive nada. É comum que processos inteiros tramitem do início ao fim sem saírem do gabinete do relator para apreciação dos seus colegas de tribunal. É daí a importância de a distribuição das relatorias ser feita por sorteio. É uma camada de segurança para o cidadão. Por ser imparcial e aleatório, o sorteio evitaria a manipulação na escolha dos relatores das ações. Como quase tudo envolve o STF, apesar de importante e essencial para a Justiça, o “algoritmo” é uma caixa-preta. O sistema parece levantar dúvidas até entre os membros da Corte. Quando assumiu a presidência do tribunal, Cármen Lúcia prometeu a realização de uma auditoria externa no sistema. A promessa nunca foi cumprida, mas, durante a crise instaurada após a morte de Teori Zavascki, então relator da Lava Jato, Cármen fez questão de acompanhar a inserção dos dados no sistema de sorteio, que escolheria Edson Fachin como novo relator dos processos. De fato, a distribuição dos processos costumava ser alvo de curiosidade para a esquerda brasileira. Em 2017, o insuspeito The Intercept Brasil ironizava a coincidência produzida pelo “algoritmo”: por pura sorte, os inquéritos contra os tucanos Aloysio Nunes, José Serra e Aécio Neves pararam no gabinete de Gilmar Mendes. As mordomias bancadas com dinheiro público Bancar uma vida luxuosa para autoridades públicas não é uma obrigação de um povo, mas uma escolha. Em países como a Suécia, por exemplo, os ministros da Suprema Corte ganham o equivalente a cerca de R$ 25 mil líquidos, e um deles manifestou indignação ao ser perguntado por uma reportagem da BBC se suas refeições eram pagas com dinheiro público (“Não almoço à custa do dinheiro do contribuinte”, respondeu o juiz Göran Lambertz). Singapura e os Emirados Árabes Unidos, por outro lado, notoriamente remuneram seus funcionários públicos com salários acima do mercado. Posições em cargos de liderança são equiparadas às de executivos de multinacionais. É uma forma de atrair os melhores dos melhores para essas funções. E, dependendo dos resultados, eles podem até receber bônus no final do ano! O que há em comum tanto na Suécia quanto em Singapura é que, luxuoso ou não, o gasto público das cortes é transparente. Bem diferente do que ocorre no Brasil. Por aqui, a Força Aérea Brasileira foi reduzida a um serviço de táxi aéreo privativo para autoridades, inclusive os ministros do Supremo. Mas, apesar de os brasileiros bancarem a conta que paga tripulação, combustível, manutenção e despesas aeroportuárias, para o Supremo não é um direito do cidadão saber quem é transportado nesses voos. O segredo nas despesas não fica restrito aos voos em jatinhos dos ministros. Apesar de estarmos indo para o sétimo mês de 2025, o Portal da Transparência do STF não informa os gastos com diárias nacionais e internacionais para este ano. Com as passagens, a opacidade é ainda pior: não há atualizações desde 2023. No Portal Poder360, os repórteres Tiago Mali e Letícia Pille mostraram que a opção pelo segredo da boa vida bancada com dinheiro público ocorre há mais de dez anos: Vídeo do Aeroporto de Roma Aeroportos e viagens parecem realmente ser um centro de confusões e segredos para a Corte. No famoso incidente do Aeroporto de Roma, Alexandre de Moraes alegou que ele e seu filho haviam sido agredidos. Moraes por palavras; já o seu filho teria levado um tapa do agressor. Na época, o presidente Lula chamou os suspeitos de agredir o ministro de “animais selvagens“. Por meses, a imprensa brasileira noticiou que a confusão havia sido filmada e as imagens confirmavam a versão de Moraes. Em julho de 2023, a analista da GloboNews Eliane Cantanhêde foi taxativa: “O vídeo do aeroporto de Roma confirma a versão de Alexandre de Moraes à Polícia Federal: o empresário Roberto Mantovani atacou o ministro do STF, sua mulher e filho, com insultos e grosserias, não apenas uma, mas duas vezes.“ Em setembro do mesmo ano, a CNN repetia: “Imagens desmentem

Barak Deri: o capitão da unidade de elite Matkal que sobreviveu ao inferno de Gaza

Sou brasileira e moro em Israel há alguns anos. Nesse período, tive a chance de conhecer pessoas verdadeiramente extraordinárias, mas poucas me marcaram tanto quanto meu amigo Barak Deri. Ele não é apenas um soldado — é um homem que carrega no olhar uma mistura rara de coragem, generosidade e resiliência. Barak integra a Sayeret Matkal, uma das unidades de operações especiais mais respeitadas e seletivas das Forças de Defesa de Israel. Um detalhe impressionante: todos os seus cinco irmãos também serviram na Sayeret Matkal, algo quase inédito, considerando o nível de excelência e os testes rigorosos exigidos para fazer parte desta tropa de elite. Essa tradição familiar revela a fibra, a disciplina e o senso de missão que correm no sangue dos Deri. Em dezembro de 2023, Barak participou de uma das operações mais dramáticas de sua carreira, destinada a resgatar reféns sequestrados pelo Hamas durante o massacre de 7 de outubro. A missão ocorreu nos becos e túneis de Gaza — corredores escuros, úmidos, repletos de armadilhas, que formam um verdadeiro labirinto mortal. No auge da operação, Barak e sua equipe se viram frente a frente com sete terroristas ao mesmo tempo, travando um combate corpo a corpo. Uma granada lançada pelos inimigos explodiu a poucos metros dele, destruindo sua perna e provocando graves ferimentos por estilhaços e tiros. Mesmo caído, Barak continuou atirando para proteger um companheiro que também havia sido ferido, e ao perceber terroristas tentando cercá-los pelas janelas, lançou suas próprias granadas — tudo isso já mortalmente ferido. Em uma de nossas conversas, Barak me contou que acreditou que seria capturado — e, sem saída, cogitou usar sua arma contra si mesmo para evitar o que mais temia: a tortura e a humilhação nas mãos do Hamas. Foi então que sentiu as mãos dos companheiros o puxando para fora daquele inferno subterrâneo, enquanto ainda escutava os colegas discutindo quem deveria ser evacuado primeiro. Ele, praticamente sem pulso, acabou ficando por último, já que os demais tinham mais chances de sobreviver. Graças a Deus, o resgate chegou a tempo. Barak foi levado ao hospital Sheba, onde permaneceu em coma por sete dias. Ao acordar, demorou a entender onde estava — e se ainda estava inteiro. Não estava: sua perna havia sido devastada, exigindo nada menos que 33 cirurgias para reconstruir ossos e músculos. O tornozelo precisou ser completamente fundido, tirando dele para sempre a capacidade de correr. Além disso, enormes cicatrizes marcam o seu corpo. Depois de quase um ano morando dentro do hospital, Barak ouviu a frase mais dura de todas: “Você nunca mais vai correr“. Essa sentença atingiu especialmente forte, pois correr era sua paixão, seu hobby favorito, a forma de aliviar o estresse do dia a dia e se reconectar consigo mesmo. Hoje, enfrenta dores crônicas, controladas apenas com medicamentos fortes, e precisará conviver com limitações para sempre. Apesar de tudo, Barak não se deixou abater. Poucos dias depois de acordar do coma, surpreendeu os médicos ao tentar se sentar e mexer a perna parcialmente reconstruída. Seu apelido na unidade era “Hércules“, e não por acaso. Talvez pudéssemos chamá-lo também de “Wolverine“, tamanho foi o espanto dos médicos com sua recuperação, depois de um embate tão brutal. Em outra de nossas conversas, ele relatou como revive quase todos os dias “o barulho da explosão, o cheiro de fumaça, o gosto de sangue“, e revelou ter sido diagnosticado com transtorno de estresse pós-traumático (PTSD). Mesmo assim, disse com convicção: “Eu faria tudo de novo“, pois acredita profundamente na missão de salvar vidas. Desde que recebeu alta, Barak passou a compartilhar sua história em eventos públicos e palestras motivacionais. Em outubro de 2024, durante uma cerimônia de memória do massacre de 7 de outubro no Hyde Park, em Londres, ele emocionou milhares de pessoas ao declarar: “Eu não sou uma vítima. Eu escolhi isso. Por pior que tenha sido, também foi a maior experiência da minha vida… Agora tudo tem mais força, a vida é mais poderosa.” Atualmente, Barak encara uma rotina exaustiva de fisioterapia, além de infecções recorrentes, dores constantes e a perspectiva de novas cirurgias nos próximos anos. Ainda assim, mantém o sorriso e transformou-se em inspiração para outros feridos, incentivando e acolhendo quem passa por situações semelhantes. Ele costuma abraçar pacientes e motivar equipes médicas, usando sua experiência para gerar esperança. Também encontrou uma forma de voltar a sentir liberdade: adquiriu uma bicicleta adaptada e, sempre que possível, pedala pelas ruas, reencontrando o prazer de sentir o vento no rosto e provando a si mesmo que ainda pode se mover e viver com dignidade. Além de soldado, Barak é pai de uma menina de apenas três anos, sua maior fonte de motivação. Apesar das sequelas, faz questão de participar de cada momento ao lado da filha — brincar, rir, acompanhar seu crescimento —, um presente que ele jamais tomará como garantido. Em suas palestras, dentro e fora de Israel, Barak compartilha lições poderosas de coragem, liderança, resiliência e espírito de equipe. Suas palavras tocam especialmente aqueles que enfrentam dores, físicas ou emocionais, mostrando que mesmo nos momentos mais sombrios ainda é possível se reconstruir — e ajudar outros a fazerem o mesmo. Ele não gosta de ser chamado de vítima e repete isso sempre que pode. Israel tem muitos soldados corajosos, mas poucos estiveram tão próximos da morte quanto ele e ainda carregam as marcas — no corpo e na alma — sem perder a dignidade e a vontade de servir. Para mim, Barak representa a verdadeira definição de herói — não aquele que nunca cai, mas aquele que, ao cair, encontra forças para se levantar, mesmo sabendo que jamais voltará a ser o mesmo. Hoje, Barak continua reconstruindo não apenas o corpo, mas também a alma. Suas cicatrizes jamais desaparecerão, mas se transformaram em símbolos de honra, gravados para sempre como prova de quem arriscou tudo para salvar outros. Se um dia me perguntarem quem me ensinou o significado mais profundo de coragem, responderei sem hesitar: Barak Deri.

A caixa-preta do narcotráfico da América Latina está prestes a ser aberta

O ex-diretor de Inteligência Militar da Venezuela, o Major-Brigadeiro Hugo Armando Carvajal Barrios, também conhecido pela alcunha de “El Pollo”, declarou-se culpado na última quarta-feira (25), antes mesmo de seu julgamento no Tribunal Federal de Manhattan, sob 4 acusações criminais. Seu julgamento está marcado para iniciar nessa segunda-feira (30) e promete abrir a caixa-preta do narcotráfico da América Latina. Nesse artigo, trazemos tudo o que conseguimos apurar sobre o caso. Hugo Carvajal Carvajal nasceu no dia 1 de abril de 1960, em Puerto la Cruz, Anzoátequi, Venezuela. Concluiu seus estudos na Academia Militar da Venezuela, em 1981, onde teria conhecido e sido instruído por Hugo Chávez. Carvajal participou da tentativa de golpe na Venezuela em 1992, junto a Chávez e o MBR-200, Movimento Revolucionário Bolivariano 200, que apesar de ter fracassado, trouxe visibilidade nacional para Chávez, o que propiciou sua posterior subida ao poder. Apelidado de “El Pollo” pelo próprio Chávez, Carvajal liderou a Inteligência Militar Venezuelana (DIM – Direccion de Inteligencia Militar) entre 2004 e 2011. E, novamente, em 2013, ano de subida ao poder de Nicolás Maduro. Em 2012, Carvajal foi nomeado Chefe Oficial contra o Crime Organizado e Financiamento do Terrorismo e, em 2013, Chefe da Contrainteligência Militar. Sim, estamos falando de uma das figuras mais poderosas do governo venezuelano naquele período. Rompimento com Maduro Em fevereiro de 2019, Carvajal fez um vídeo declarando seu apoio publicamente a Juan Gerardo Antonio Guaidó Márquez, principal opositor de Maduro e em seguida, autoridades venezuelanas o acusaram de traição, conspiração, financiamento do terrorismo e associação criminosa. Maduro o expulsou das Forças Armadas em abril do mesmo ano, após o mesmo conclamar que as forças militares rompessem com o governo e permitissem a chegada do transporte de ajuda humanitária na crise venezuelana. Episódio esse, marcado pelo impedimento do governo. Prisão Carvajal foi preso na Espanha em 2019, a pedido do governo dos Estados Unidos, que solicitou sua extradição para julgamento. No entanto, uma apelação apresentada para negar a extradição chegou a ser aceita pelo governo espanhol, mas acabou sendo anulada logo em seguida. Aproveitando-se do imbróglio entre os governos espanhol e americano, Carvajal fugiu e se escondeu por 2 anos, vindo a ser detido novamente em setembro de 2021. Seu pedido de asilo foi negado e sua extradição aprovada. Em seguida, conseguiu suspender temporariamente sua extradição ao apelar para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, porém foi autorizada novamente e cumprida, em julho de 2023, sendo enviado para Nova Iorque. Ele chegou a alegar inocência ao cumprir extradição. Indiciamento Carvajal foi formalmente indiciado pelo Departamento de Justiça dos EUA, o DOJ, em 26 de março de 2020, junto a Maduro e outras 13 autoridades venezuelanas de alto escalão. Entre as acusações, está a participação, ao lado de altos oficiais venezuelanos, no comando do chamado Cartel de los Soles, em associação com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O nome do cartel, “Cartel dos Sóis“, se refere às insígnias solares afixadas nos uniformes de oficiais militares de alto escalão da Venezuela. “Os membros do Cartel de Los Soles abusaram do povo venezuelano e corromperam as instituições legítimas da Venezuela – incluindo partes dos militares, aparato de inteligência, legislatura e judiciário – para facilitar a importação de toneladas de cocaína para os Estados Unidos. O Cartel de Los Soles procurou não apenas enriquecer seus membros e aumentar seu poder, mas também ‘inundar’ os Estados Unidos com cocaína e infligir os efeitos nocivos e viciantes da droga sobre os usuários nos Estados Unidos. Para atingir esses objetivos, os líderes do Cartel de Los Soles fizeram uma parceria com líderes das FARC, uma organização terrorista violenta com sede na Colômbia que se dedicava à derrubada do governo colombiano, responsável pela produção e distribuição da maioria da cocaína que chegou aos Estados Unidos.” – DOJ Carvajal, “El Pollo“, teria se aproveitando de sua posição para favorecer do tráfico ilegal de drogas e apoio de seus parceiros, o que inclui as FARC. Em 2006, coordenou junto a outros membros do cartel de Los Soles o despacho de um carregamento de 5,6 toneladas de cocaína da Venezuela para os Estados Unidos, em um avião DC-9, que teria partido da Venezuela com escala no México, onde foi apreendido pelas autoridades mexicanas. Coordenado embarques de drogas junto às Farc sob sua proteção e com segurança fortemente armada, além de vender e fornecer armas automáticas e explosivos para a organização criminosa, em suas atividades terroristas. Além de participar de sequestros e assassinatos envolvendo o tráfico de drogas e seus membros. Inclusive, um dos acusados já foi condenado, Cliver Antonio Alcala Cordones, ex-general das Forças Armadas venezuelanas, que recebeu uma pena de 260 meses de prisão, após se declarar também culpado, em abril de 2024. Seu julgamento começará na próxima segunda (30), abaixo segue uma tabela contendo suas acusações formais e penas previstas: Acusações Penas mínimas e máximas 1ª Acusação: Narco-terrorismo Mínima: 20 anos de prisão; Máxima: Prisão Perpétua 2ª Acusação: Tráfico Internacional de Narcóticos Mínima: 10 anos de prisão; Máxima: Prisão Perpétua 3ª Acusação: Posse de armas de fogo, incluindo automáticas e dispositivos destrutivos Mínima: 30 anos de prisão, consecutiva a qualquer outra pena de prisão imposta; Máxima: Prisão Perpétua 4ª Acusação: Conspiração para possuir armas de fogo, incluindo automáticas e dispositivos destrutivos Máxima: Prisão Perpétua Obs: As sentenças aqui descritas são prescritas pelo Congresso e fornecidas apenas para fins informativos. Qualquer sentença será determinada pelo juiz. Fonte: DOJ Diante de sua confissão, sua condenação já é dada como certa em pelo menos 50 anos. Levando-se em consideração que o mesmo possui 65 anos de idade, sua pena mínima e máxima se equivalem, na prática. O que gera muita expectativa em um possível acordo de confissão, visando a diminuição de sua pena, mediante delações importantes. A data da sua sentença está marcada para dia o 29 de 0utubro de 2025. Pronunciamentos do DEA O DEA (Drug Enforcement Administration), Administração de Repressão às Drogas, Órgão Federal de Segurança do Departamento de Justiça, através de seus procuradores, chegou a declarar: “Hoje

Eles querem o seu dinheiro — e não é o governo desta vez

Apesar da recente discussão acalorada acerca do aumento ou criação de impostos, não é da voracidade do governo que falaremos, pelo menos, não por hoje. O assunto de hoje é declaradamente e expressamente tipificado na legislação penal, o que não se aplica – ainda, de acordo com anseios libertários – à disposição do governo de arrecadar. O roubo de dinheiro das contas e de cartões de crédito dos brasileiros revela cifras impressionantes e você pode estar vulnerável. Uma matéria do jornal Valor Econômico revelou que, apenas nos últimos dois anos, os golpes utilizando-se de cartões de crédito e Pix somaram R$ 10 bilhões. Um destaque para o aumento de 43% nos golpes aplicados apenas com Pix, revela que há uma expansão da atividade criminosa, o que gera preocupação não somente às autoridades, mas também ao público bancarizado em geral. Um levantamento feito pela Agência Brasil noticiou que, em 2024, 51% dos brasileiros foram lesados com algum tipo de fraude. A principal foi o golpe com cartões de crédito (47,9%), seguido de boletos falsos ou transações fraudulentas via Pix (32,8%) e phishing, e-mails ou mensagens fraudulentas que induzem ao roubo de dados (21,6%). O fato de termos evoluído em tecnologias que facilitam a vida do cidadão parece ter facilitado também a vida dos criminosos, que se apoderaram das ferramentas tecnológicas para melhorar o poder de convencimento de suas vítimas, aumentar as chances de sucesso no golpe e maximizar o produto do crime. A matéria traz uma declaração de Rodrigo Colossi, superintendente de prevenção a crimes financeiros do Banco BV, onde ele alerta sobre a engenharia social que envolve os crimes, tendo técnicas avançadas de tratamento dos dados, como por exemplo clonagem de vozes, criação de vídeos e outros recursos bastante convincentes. Dinheiro fácil A prática de crimes desta natureza possui uma característica em comum que deve ser levada em consideração e acender a “luz amarela“: dinheiro fácil. Com oito a cada dez famílias endividadas no Brasil, a promessa de ganhos rápidos e com pouco ou nenhum esforço torna-se a isca perfeita para os criminosos. A promessa de resolver um problema que pode durar a vida inteira, simplesmente clicando em um link ou se endividando para investir em uma suposta oportunidade altamente lucrativa e desconhecida, pode fazer com que o valor movimentado por golpes, já alto nos últimos dois anos, cresça ainda mais neste ano e nos próximos. Como evitar que mais golpes sejam aplicados? Colossi afirma que a conscientização seria o essencial para evitar novas fraudes. Segundo o executivo do Banco BV, cerca de R$ 47 milhões já foram investidos em segurança pelas instituições financeiras, mas ainda assim a informação e educação financeira de baixo nível na sociedade permite que indivíduos cometam crimes desta natureza contra cidadãos. Lembre-se de que estamos disputando uma quantidade de riqueza disponível. Dinheiro troca de mãos e a todo momento vão tentar tirá-lo de você, seja por meios lícitos, oferecendo um produto ou serviço, seja por meios ilícitos, através de links, promoções imperdíveis e urgentes ou boletos que você não verifica se são realmente aqueles que precisa pagar. Eu sou Felipe Santos, Oficial R/2 do Exército Brasileiro, formado pela Fundação Getúlio Vargas, Universidade da Califórnia e Universidade de São Paulo, atuo no mercado financeiro desde 2008. Experiente em diversas áreas no mercado, professor de Finanças Pessoais e Investimentos da Escola de Geopolítica e Atualidades Danúzio Neto e criador da Mentoria de Investimento Ágil, ajudo pessoas a investir em apenas 30 dias com segurança e praticidade. Siga-me no Instagram no @fe_ivestimento_agil ou se preferir, mande um email para felipesantos@feinvestimento.com.br. Somente um patrimônio acumulado é capaz de proporcionar a você, um futuro com conforto, segurança e liberdade. O tempo passa, comece!

Lula perdeu Brasília: crises escancaram a ingovernabilidade

Baixa popularidade, sucessivas derrotas no Congresso e erosão da base de apoio escancaram crise O dia 25 de junho de 2025 foi um dia atípico na democracia brasileira. Pela primeira vez em 33 anos, um decreto presidencial foi derrubado pelo Congresso Nacional. O aumento de alíquotas do IOF feito por Lula foi rechaçado na Câmara dos Deputados, por meio de um projeto de decreto legislativo (PDL) com 383 votos favoráveis e 98 contrários. Logo em seguida, o Senado também aprovou a medida, em votação simbólica. A última vez que isso havia acontecido foi ainda no governo Collor em março de 1992, e seis meses depois, o cenário político instável levou ao início do processo de impeachment de Fernando Collor. Mais do que uma nova derrota do governo Lula no parlamento, o processo político que levou a esse resultado carrega um simbolismo maior, com vários sinais de que a já combalida base do governo se esfacelou, passou a ser uma peça de ficção. Restam apenas os partidos mais à esquerda votando fielmente com o governo: PSOL, Rede, PCdoB, PV e o próprio PT. Ou seja, a base verdadeiramente fiel do governo na Câmara dos Deputados é de 5 partidos com apenas 93 deputados no total, menos de um quinto dos 513 deputados federais. Direita e Centro A direita votou em peso contra o aumento de tributos, assim como os partidos de centro que comporiam a base do governo e que possuem ministérios na Esplanada (MDB, PDT, PP, PSB, PSD, Republicanos e União Brasil). Até mesmo o PDT e o PSB, mais inclinados à esquerda, votaram majoritariamente para derrubar o decreto presidencial. A derrota de Lula começou com uma publicação do Presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) na rede social X. Às 11h35 da noite da terça-feira (24), Motta anunciou que a votação sobre o IOF estava pautada para dali a poucas horas, no dia seguinte. O governo foi pego de surpresa. E a relatoria ficou com a oposição (Coronel Chrisóstomo, do PL-RO). Publicamente, parlamentares têm dito que não há espaço para mais impostos ou tributos no país, apesar de terem aprovado o aumento do número de deputados no mesmo dia, mas também pesa a relação desgastada com o governo. Há descontentamento com a demora na execução de emendas parlamentares e com decisões da equipe econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Outra fonte de insatisfação é a Ação Direta de Inconstitucionalidade que apura a falta de transparência e de rastreabilidade nas emendas parlamentares, que transita no STF (Supremo Tribunal Federal), sob a relatoria do ministro Flávio Dino. As decisões de Dino têm gerado atrito com o Congresso. Em dezembro de 2024, por exemplo, Dino suspendeu o pagamento de R$4,2 bilhões do orçamento da União em emendas, até que cumprissem os requisitos de transparência. E somente dois meses depois, Dino finalmente homologou um plano de trabalho apresentado pelo Congresso, liberando as emendas. Como o ministro foi indicado por Lula, os parlamentares avaliam que o governo deveria intervir para evitar os atritos. Tensão entre Congresso e STF Após a histórica derrota do IOF sofrida pelo governo, tanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), quanto o presidente da Câmara, Hugo Motta, comparecerão pessoalmente ao STF nesta sexta-feira (27), para uma audiência marcada pelo ministro Flávio Dino no curso do processo sobre as emendas parlamentares. E já chegarão com mais um conflito instaurado. Lideranças do PT defendem acionar o STF para questionar a atuação do Congresso Nacional. Técnicos da AGU (Advocacia-Geral da União) avaliam que a derrubada do decreto poderia ser inconstitucional. O art. 49 da Constituição Federal define as competências exclusivas do Congresso Nacional, dentre as quais “sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa” (inciso V). A teoria é que, apesar de impopular, o decreto presidencial não teria extrapolado o poder regulamentar do Executivo. Na prática, bem se sabe que o intuito do decreto não é meramente regulatório, mas sim arrecadatório. Toda a equipe econômica do governo fala da sua necessidade para diminuir o rombo das contas públicas. Essa pode ser uma saída técnica para o governo impor o aumento do IOF, mas antes mesmo de qualquer apreciação pelo Judiciário, já está criando repercussões políticas. A judicialização seria uma verdadeira declaração de guerra entre governo e Congresso, segundo aliados do presidente da Câmara, Hugo Motta. Levar o caso ao STF significaria tentar acuar o Legislativo, apostando no questionável ativismo judicial, quando o Judiciário age de forma mais intervencionista sobre as competências dos demais Poderes. Responsabilidade fiscal deteriorada Percebem-se muitas falhas do governo mesmo antes da tentativa frustrada de aumentar o IOF. A responsabilidade fiscal está sendo consistentemente deteriorada. Há uma insistência em equilibrar as contas públicas aumentando a receita, em vez de cortar despesas. E a única forma de o governo aumentar a receita de forma constante é aumentando a carga tributária, daí ter surgido a ideia de aumento do IOF. Não à toa, o Brasil registrou a maior carga tributária dos últimos 15 anos: 32,3% em 2024. O brasileiro trabalha quase quatro meses em um ano apenas para pagar tributos. Em 2020, havia sido registrado a menor carga tributária dos últimos 15 anos, de 29,02%, ainda no governo Bolsonaro. Os dados são do Ministério da Fazenda. Mais impostos se traduzem em mais inflação, o que força o Banco Central a aumentar os juros (taxa Selic), que freiam o crescimento econômico desejado pelo governo. Assim, governo e Banco Central estão trabalhando um contra o outro, em um ciclo vicioso. E a população colhe os resultados negativos: inflação alta com queda da atividade econômica. Isso significa menos poder de compra e oportunidades para os brasileiros. Impedido de aumentar a tributação e sem querer cortar despesas, as contas públicas estão no vermelho. A dívida pública subiu 12,2% apenas em 2024, superando R$7,3 trilhões. A Instituição Fiscal Independente (IFI) alertou que precisaria haver um contigenciamento de R$75,9 bilhões já no ano que vem, para que o governo possa cumprir o arcabouço fiscal. Na

A tragédia anunciada que nós não queremos ver 

Juliana Marins morreu ao cair de um precipício em um vulcão ativo. Não foi a erupção que a matou, foi a queda — silenciosa, brutal — no meio de uma paisagem hostil, onde cada passo exige mais do que vontade: exige preparo, sorte e estrutura. E estrutura é o que faltava. Não por culpa de um único governo, mas porque ali, naquela geografia crua, o socorro nunca viria com rapidez. Subir um vulcão não é como atravessar a rua. E pedir resgate num lugar assim não é como ligar para o Samu e esperar sirenes em quinze minutos. A demora no salvamento, que tantos apontaram com indignação, é real — mas era também previsível. O local onde Juliana caiu exige dois dias de viagem até que se chegue. A Indonésia não tem uma base de resgate em cada cratera. Esperar que helicópteros apareçam num passe de mágica é confundir a lógica do turismo com a lógica da sobrevivência. Quando você decide caminhar na borda de um vulcão ativo, você assume — ou deveria assumir — que o mundo real não funciona como um roteiro de aventura com final feliz. É cruel, mas é verdade: estava tudo errado desde o começo. Não se trata de culpar a vítima. Não se trata de absolvê-la. Trata-se de olhar a realidade de frente — e essa é a especialidade que menos se pratica hoje. Subir um vulcão ativo, mesmo fora de erupção, em uma região remota, sob condições instáveis, é uma escolha que carrega em si o risco. Ninguém escala a borda de um abismo esperando que ele não exista. Culpar o governo brasileiro, culpar a Indonésia, culpar o tempo de resgate, culpar Deus — é tudo uma tentativa de dar sentido a algo que dói e incomoda. Sim, o socorro demorou. Sim, o país não tem estrutura. Mas essa estrutura precária já existia antes da viagem. A natureza do lugar não mudou de repente. Ela sempre foi inóspita. Vivemos tempos em que toda dor exige um culpado. E o que era para ser uma conversa sobre escolhas e limites se torna uma vitrine de indignações seletivas. O nome de Juliana foi arrastado para o centro de um debate que não é sobre ela — é sobre política, sobre Lula, sobre prioridades. Porque Lula usou um avião da FAB para buscar uma aliada condenada por corrupção, e não moveu o mesmo esforço para resgatar uma jovem caída no meio de um vulcão. Sim, isso está errado. Está profundamente errado. Mas isso não torna o Estado brasileiro responsável pelo translado de corpos de brasileiros mortos no exterior. Não há estrutura para isso — e, mais ainda, não deveria haver. Não por crueldade, mas por realidade. O governo não pode, nem deve, prometer onipresença. A vida moderna nos convenceu de que tudo é acessível, tudo é seguro, tudo tem solução em tempo real. Mas essa é uma ilusão, cara. O SAMU não atende no Himalaia. O 192 não chega em uma ilha do Pacífico. E o botão de pânico das redes sociais não aciona helicópteros. Quando se escolhe o risco, o risco real, é preciso ter consciência de que as consequências também serão reais. Turismo de aventura é, por definição, aventura. E aventura é incerteza. Escalar, atravessar, desafiar — tudo isso pode parecer poético no feed, mas tem um custo. Escorregar num precipício, perder o caminho, sofrer um acidente — isso não é azar, é possibilidade. E quando isso acontece a 2 mil metros de altura, no coração de um vulcão ativo, a ajuda virá — se vier — tarde demais. A morte de Juliana é profundamente triste. Mas tristeza não pode ser argumento para negar os fatos. Não se morre impunemente no meio da natureza selvagem. A selva, o gelo, a lava, o abismo — todos são soberanos. E o ser humano, por mais que se sinta eterno, ainda é só carne. Carne frágil. Desde sempre, desafiamos os limites da vida. Entramos em cavernas, subimos montanhas, mergulhamos nas fossas mais profundas do oceano. É nosso instinto. Há algo de belo nisso, sim. Mas há algo de perigoso também. O que não se pode fazer é ignorar que, às vezes, a morte responde. Juliana Marins não morreu por um erro único. Foi uma soma de fatores. Foi a decisão de escalar. Foi o terreno difícil. Foi a queda. Foi a demora. Foi tudo isso. E, ainda assim, transformar essa tragédia numa pauta para atacar ou defender políticos é diminuir a morte dela a uma utilidade qualquer. O turismo radical em locais extremos virou moda. Um fetiche moderno. Queremos encontrar sentido na beira do abismo. Testar os próprios limites. Registrar a superação. Mas a verdade é que, às vezes, não se volta. Às vezes, o abismo não perdoa. E isso não é culpa de ninguém. Ou é culpa de todos. O luto dos que ficaram é legítimo. A indignação, também. Mas o que se espera da morte de alguém como Juliana não é um culpado — é um espelho. Para que se veja, com clareza brutal, que liberdade inclui o direito de escolher. E que escolher o risco é escolher também a possibilidade de não voltar. Não foi só azar, nem apenas fatalidade — tropeçar e cair é fatalidade, sim, mas acontece especialmente quando se está no precipício de um vulcão ativo. Juliana fez uma escolha arriscada, e foi nessa combinação de decisão e circunstância que o fatal se concretizou. O que fica depois do silêncio e das manchetes não é um mistério existencial, mas uma constatação simples e dura: certas decisões colocam você num lugar onde o erro pode ser fatal. E nenhuma narrativa vai amenizar essa verdade. Juliana Moreira Leite é escritora e jornalista, autora do livro Eu Não Pedi por Nada Disso. Com uma escrita afiada e direta, aborda política, cultura, sociedade, atualidades e fala a verdade que ninguém ousa dizer. É cronista e colunista engajada, conectada com seu público pelo Instagram @juliemilk e pelo canal Chuchu com Caviar no YouTube

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