Tarifaço de Trump ao Brasil. Veja o que repercutiu na mídia internacional

Nesta quarta-feira (9), o presidente americano Donald J. Trump enviou uma carta oficial ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, estabelecendo uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros exportados aos EUA. O presidente Lula já se manifestou em resposta. Abaixo segue um compilado de como o assunto foi abordado pela imprensa internacional: Politico O site de notícias americano “Politico” noticiou o conteúdo da carta de Donald Trump, ressaltando que a tarifa de 50% representa um aumento significativo em relação aos 10% anunciados em abril. E menciona que a carta faz uma defesa explícita de Bolsonaro, além de uma crítica à Suprema Corte brasileira devido às ordens de censura “secretas e ilegais”. Comenta que Bolsonaro possui forte popularidade e que Eduardo Bolsonaro tenta encenar um retorno político mediante os baixos índices de aprovação do governo Lula e da explosão de criminalidade nas principais cidades do país. Em seguida, discorre sobre o envolvimento do Brasil com a Rússia e China através do BRICS, também citando os laços com Venezuela e Cuba. E finaliza divulgando a resposta de Lula em seu post na plataforma X. Bloomberg O Bloomberg noticia sobre o tarifaço, citando que a medida fez o Real desvalorizar 2% frente ao dólar como consequência imediata. Diz que a tarifa é vista como uma resposta de apoio de Trump a Bolsonaro, intensificando as tensões entre os 2 países. O artigo destaca que os EUA têm superávit comercial com o Brasil, contradizendo a justificativa usual de Trump para as tarifas, que seria corrigir déficits comerciais. CNN Business O CNN Business noticiou sobre a carta de Trump e a resposta de Lula. E destaca que a tarifa é notável por ser a primeira vez em meses que outro país ameaça retaliar diretamente contra as tarifas de Trump. Também aborda a contradição da justificativa de Trump, uma vez que o Brasil registrou um déficit comercial de U$ 6,8 bilhões com os EUA, ao contrário dos outros 21 países que também receberam cartas de Trump. E finaliza, listando sobre os outros países e suas respectivas respostas. BBC A BBC noticiou sobre a carta de Trump e a resposta de Lula, destacando a diferença significativamente maior previamente anunciada de 10 para 50%. E aponta motivação política da medida ao relatar os laços de Bolsonaro e Trump. No título do artigo menciona-se que Trump está exigindo um fim ao julgamento de Bolsonaro. Reuters A agência de notícias Reuters destacou que Lula chamou Trump de “imperador indesejado” na cúpula do BRICS. E que a carta de Trump é motivada em defesa de Bolsonaro. Comenta a resposta de Lula prometendo reciprocidade, aponta a contradição sobre a narrativa de Trump a respeito da correção de déficits comerciais. E finaliza detalhando que os principais produtos de exportação brasileira são o petróleo, café, aço e ferro, enquanto os EUA exportam aeronaves, petróleo e semicondutores ao Brasil. The Economic Times O portal de notícias econômicas indiano cita que essa é uma ação sem precedentes que utiliza a política comercial para interferir em assuntos internos de outro país. Comenta a resposta de Lula e destaca que o Brasil é uma exceção entre os alvos de Trump, destacando também que os EUA têm superávit comercial com o país. Finaliza mencionando que a tarifa imposta sobre o Brasil é a mais alta imposta pelos EUA. The Guardian O portal inglês, após noticiar sobre a tarifação e a resposta do Brasil, comenta que a medida aumenta temores de que a estratégia comercial errática de Trump possa agravar a inflação em ambos os países. Também discorre sobre a carta ao Brasil ser diferente de outras enviadas, por focar em questões políticas internas, como o julgamento de Bolsonaro, em vez de desequilíbrios comerciais. Ao final, enfoca mais o detalhamento das medidas em outros países e das implicações para os EUA. Bousier O portal francês econômico noticia sobre as mesmas informações dos demais, porém comenta que as tarifas podem afetar gravemente indústrias brasileiras, como aço e aviação, e que também impactam as exportações americanas, como aviões e combustíveis. Expresso O Expresso de Portugal deu ênfase na devolução da carta de Trump pelo Brasil, que a classificou como ofensiva e cheia de informações falsas sobre a relação comercial entre os 2 países. Citando que a secretária de relações exteriores do Brasil com os EUA, Maria Luisa Escorel, chegou a convocar na quarta (9) o mais alto representante dos EUA em Brasília pela 2ª vez no mesmo dia, para que confirmasse a “autenticidade” da carta, em função da mesma ter sido publicada antes de chegar ao Presidente Lula. Análise Geral Carta de Trump No geral, todas as fontes destacam que a tarifa de 50% é motivada pela defesa de Trump a Jair Bolsonaro, todavia também relatam as críticas de Trump sobre ações do Brasil contra a liberdade de expressão e empresas americanas, como ordens de censura a plataformas digitais. Resposta Brasileira As fontes relatam que o presidente Lula respondeu de forma firme, prometendo medidas recíprocas com base na Lei da Reciprocidade Econômica. Enfatizando a soberania brasileira e rejeitando qualquer interferência no sistema judicial do país.  Impactos Econômicos Algumas fontes noticiaram sobre a tarifa, que substitui os 10% anunciados em abril, afetando setores como café (o Brasil produz 37% do café mundial), petróleo, aço e aviação. E também, a desvalorização do real e quedas nos mercados brasileiros, com o real caindo mais de 2% contra o dólar, em um impacto imediato. Contexto Global A medida é vista como parte de uma onda de tarifas anunciadas por Trump, incluindo 50% sobre cobre e taxas de 20-30% para países como Filipinas, Iraque e Sri Lanka. Entretanto, a ação contra o Brasil é destacada como única por sua motivação política explícita, o que aumenta preocupações sobre inflação global e instabilidade comercial.  Fonte: Politico, Bloomberg, CNN Business, BBC, Reuters, The Economic Times, The Guardian, Bousier, Expresso 

França vira exemplo de fracasso fiscal: maior déficit público da Zona do Euro e um caos político

A Europa está novamente no radar do mercado, mas a França corre o risco de ficar de fora. Sufocada por problemas fiscais e paralisada pela constante balbúrdia política, a segunda maior economia da União Europeia (UE) vê os investidores se afastando, em busca da estabilidade alemã ou de oportunidades promissoras em economias menores, como a Espanha. Até mesmo geografias outrora relegadas, como a Grécia, vêm sendo priorizadas. “Enquanto outras economias com alto nível de endividamento – como Portugal, Grécia, Espanha e Itália – se aproveitaram por anos da inflação elevada para ajustar sua relação dívida/PIB, a França destoa cada vez mais“, criticou o ex-primeiro-ministro das Finanças Pierre Moscovici. A França registra agora o maior déficit público de toda a Zona do Euro. Para equacionar o problema, a administração do primeiro-ministro François Bayrou propôs cortes de € 40 bilhões para o orçamento de 2026. A aprovação da peça, no entanto, parece tarefa hercúlea. Sem maioria no parlamento, o governo já enfrentou 8 moções de desconfiança desde dezembro de 2024, quando Bayrou assumiu o posto. Seu antecessor, Michel Barnier, perdeu o cargo justamente durante as negociações do orçamento anterior. “Qualquer compromisso trará no máximo medidas temporárias, insuficientes para reduzir a dívida e equacionar o déficit“, apontou Nicolas Forest, CIO da gestora Candriam. O receio dos investidores com a economia francesa se reflete no prêmio de risco cobrado para captação de recursos pelo governo quando comparado às demais economias do continente. Em relação à Alemanha, por exemplo, o prêmio gira em torno de 70 pontos base (bps), significativamente superior aos 50 bps de quando o presidente Emmanuel Macron assumiu. O cenário se repete mesmo no comparativo com economias tradicionalmente mais arriscadas, como Itália e Espanha, o que é, nas palavras de analistas do mercado, “totalmente inusitado“. Segundo Alexandre Bompard, CEO do Carrefour, a incerteza política e fiscal pesa no comportamento das famílias, que compartilham do temor por seu futuro financeiro. “A recuperação dos gastos dos consumidores na França é mais tímida que em nossos outros mercados“, atestou o executivo. Pierre-Olivier Gourinchas, economista do FMI, afirmou que o governo francês não pode mais fugir do problema. “A França não está apartada das leis da gravidade“, disse. “Teremos que nos adaptar“. Fonte: Reuters

Putin desafia Trump e OTAN com maior ataque aéreo da guerra na Ucrânia

Em uma ofensiva recorde, a Rússia lançou um massivo ataque aéreo sobre a Ucrânia entre os dias 9 e 10 de julho, mirando principalmente Kyiv e regiões do oeste do país. A artilharia aérea combinada incluiu 728 drones (em grande parte do modelo Shahed, de fabricação iraniana), além de mísseis hipersônicos Kinzhal e mísseis de cruzeiro Kh-101/Iskander-K. Entre a noite de quarta (9) e a madrugada de quinta (10), surgiram explosões intensas em diversos setores de Kyiv. O impacto foi profundo: pelo menos três lançadores de mísseis e uma clínica de saúde foram atingidos, gerando incêndios em edifícios residenciais, garagens e veículos. Duas pessoas morreram e outras 16 ficaram feridas, muitas atingidas por estilhaços. Diante da magnitude do ataque, os sistemas de defesa aérea de Kyiv interceptaram 296 drones e todos os sete mísseis de cruzeiro lançados, além de neutralizar centenas de drones por guerra eletrônica, em uma operação que evitou uma destruição ainda maior . Levando em conta seu sucesso defensivo, as Forças Armadas da Ucrânia concluíram que o ataque russo teve grande intensidade, mas não obteve o resultado esperado por Moscou. Mesmo assim, as autoridades relatam danos estruturais e feridos civis. A Rússia, que já vinha intensificando o uso de drones noturnos, ampliou a campanha aérea como uma ação coordenada com avanço terrestre em outras frentes. A operação e intensificação dos ataques russos busca não apenas ações militares, mas também impacto psicológico e enfraquecimento da moral civil e política da Ucrânia . O ataque ocorre logo após o presidente americano Donald Trump reafirmar o apoio defensivo aos ucranianos, criticando as promessas polêmicas de Vladimir Putin. Além disso, a OTAN mobilizou aeronaves na Polônia como medida preventiva, dado o risco de expansão das operações russas próximo à fronteira Polônia-Ucrânia. O secretário de defesa do Reino Unido também revisitou a necessidade de apoio contínuo à Ucrânia, enquanto o presidente Volodymyr Zelensky ressaltou a urgência de sanções mais rígidas à Rússia, especialmente contra sua indústria energética . O resultado imediato é claro: destruição significativa de infraestrutura, deslocamento de famílias e desgaste psicológico nas áreas urbanas atingidas. Contudo, o verdadeiro teste agora é diplomático e estratégico: até que ponto Moscou continuará sua campanha, e como responderá o Ocidente — tanto militar quanto politicamente. Com a escalada da violência, cresce também o foco internacional sobre o plano de sanções, a manutenção do apoio ucraniano e a pressão sobre a Rússia. O risco de confronto direto entre a OTAN e o Kremlin aumenta, uma vez que mais países da aliança estão adotando medidas de prontidão nas faixas fronteiriças. Fontes: The Sun, CNN

Trump volta atrás e anuncia envio de armas à Ucrânia

O presidente dos EUA, Donald Trump, surpreendeu a comunidade internacional ao anunciar o envio de mais armas defensivas à Ucrânia pouco após uma pausa inesperada na entrega de equipamentos militares críticos, como mísseis superfície-ar e sistemas de artilharia de precisão. A decisão reflete uma guinada em sua política, contrapondo a posição anterior do Pentágono. Na semana passada, o Pentágono suspendeu o envio de interceptores Patriot, mísseis Stinger e mísseis ar-ar AIM, citando preocupações com o esgotamento dos estoques militares. No entanto, a decisão foi tomada sem informar o presidente Trump — segundo fontes da CNN, nem o próprio recebeu aviso prévio. Em resposta, o mandatário afirmou que o Congresso e a imprensa precisam esclarecer a origem dessa pausa, já que, segundo ele, não deu nenhuma ordem nesse sentido. Logo depois, Trump reverteu a suspensão: autorizou a entrega de dez interceptores Patriot e manifestou a intenção de fornecer um novo sistema, caso necessário. Durante reunião no Salão Oval, o presidente criticou duramente o presidente russo Vladimir Putin, acusando-o de falar besteira demais diante de promessas diplomáticas vazias. Trump deixou claro que “Putin mata muita gente” e justificou a retomada das entregas como um imperativo para proteger vidas civis na Ucrânia. A intensificação dos bombardeios russos sobre cidades ucranianas, com uso de drones e mísseis, aumentou a demanda ucraniana por sistemas de defesa aérea. Autoridades ucranianas relataram mortos e dezenas de feridos civis, tornando urgente o envio de armamentos avançados O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky saudou o anúncio, afirmando que as entregas são essenciais para salvar vidas e conter a ofensiva russa. Entretanto, a reviravolta gerou críticas. O caso evidenciou falhas na coordenação entre Casa Branca e Ministério da Defesa, e especialistas alertam que a abordagem “America First” pode reduzir o apoio dos EUA aos parceiros, se decisões internas forem tomadas de forma unilateral. A Casa Branca comunicou que, sob comando de Trump, o Pentágono reiniciará o suporte em linha com os interesses de defesa dos EUA. Ainda está em análise a possível entrega de mais sistemas Patriot, reconhecendo a crescente pressão aérea russa sobre áreas estratégicas. Analistas apontam que o envio reforça a retórica de “paz por meio da força” de Trump, que também ameaçou retomar sanções a Moscou e impor tarifas elevadas sobre países que importam energia russa – uma clara mensagem a aliados como China e Índia. A reversão de Trump, de pausa surpreendente para apoio avançado à Ucrânia, destaca a volatilidade das decisões de política externa sob sua administração. A tensão com o Pentágono e a urgência dos pedidos ucranianos evidenciam os dilemas estratégicos dos EUA na atual fase da guerra — com riscos globais e pressões domésticas que prometem pesar nas conversas sobre futuro financiamento e apoio militar. Fontes: AP, The Times, Welt

Onda de calor mata 2.300 em 10 dias na Europa

Um estudo científico elaborado em parceria por instituições europeias afirmou que 2.300 pessoas morreram em virtude da onda de calor que tomou conta de partes do continente na última semana. A análise, publicada nesta quarta-feira (09), englobou o período de 10 dias concluído em 02 de julho, no qual as temperaturas ultrapassaram os 40º C em diversas regiões do oeste da Europa. “As mudanças climáticas elevaram as temperaturas bem acima do normal, o que torna tudo muito mais perigoso“, comentou Ben Clarke, pesquisador do Imperial College London, uma das instituições envolvidas no relatório. A análise completa envolveu medições em 12 cidades, que, juntas, somam mais de 30 milhões de habitantes. Das 2.300 mortes registradas, aproximadamente 1.500 teriam relação direta com as mudanças climáticas. O estudo aponta ainda que, em cidades como Barcelona, Milão, Madri e Londres, a elevação da temperatura fruto das mudanças pode ter alcançado até 4º C. “Isso deixa grupos de risco em situação mais perigosa“, analisou Clarke De acordo com o estudo, a temperatura nas cidades verificadas seria de 2ºC a 4ºC graus mais baixa, em média, caso não houvesse a pressão das alterações no clima. Mudanças nessa faixa, segundo Garyfallos Konstantinoudis, também do Imperial College London, “são questão de vida ou morte para milhares de pessoas“. Para chegar às conclusões, o estudo utilizou modelos epidemiológicos e dados históricos de mortalidade, comparando a quantidade de mortes verificada com aquela estimada caso as mudanças climáticas não tivessem tanto efeito. Em atualização publicada também na quarta (09), o Serviço Copernicus para Mudanças Climáticas, programa da União Europeia que analisa as alterações no clima do planeta, indicou junho de 2025 como o terceiro junho mais quente da história, perdendo apenas para os de 2024 e 2023, respectivamente. “Em um mundo com temperaturas em elevação, ondas de calor devem se tornar mais frequentes e mais intensas, e atingirão mais pessoas Europa afora“, declarou Samantha Burgess, chefe de estratégia do programa europeu. Fontes: Al Jazeera, Reuters

TPI emite mandados de prisão contra líderes do Talibã por crimes contra mulheres e meninas

O Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou nesta terça-feira (07) uma decisão inédita e historicamente simbólica: emitiu mandados de prisão contra dois dos principais líderes do Talibã — o líder supremo Haibatullah Akhundzada e o presidente do grupo, Abdul Hakim Haqqani — por crimes contra a humanidade, com base na perseguição sistemática a mulheres e meninas no Afeganistão. Segundo o TPI, as políticas de gênero do regime talibã configuram crimes internacionais, incluindo prisão arbitrária, tortura, estupro, desaparecimento forçado e perseguição com base em gênero. O caso marca a primeira vez que o Tribunal considera a repressão de mulheres e de pessoas LGBTQI+ como um crime contra a humanidade em escala governamental. Desde que retomou o poder em agosto de 2021, após a saída dos EUA e da OTAN, o Talibã impôs restrições severas que praticamente apagaram as mulheres da vida pública: Reação do Talibã: desprezo ao direito internacional O porta-voz do regime, Zabihullah Mujahid, respondeu com hostilidade: “Não reconhecemos nenhuma entidade chamada ‘Tribunal Internacional’. Rotular a sharia islâmica como opressiva é expressão clara de inimizade contra o Islã.” O regime fundamenta sua brutalidade na interpretação extremista da sharia, criminalizando a expressão feminina, o ensino para mulheres e qualquer forma de liberdade individual que não se submeta à sua leitura religiosa do mundo. Embora os mandados tenham validade legal nos 125 países membros do TPI, é improvável que os líderes do Talibã sejam presos, a menos que deixem o Afeganistão. Como mostra o histórico recente, países como Hungria e Mongólia já se recusaram a cumprir mandados de prisão internacionais, inclusive contra Vladimir Putin e Benjamin Netanyahu. Além disso, os Estados Unidos não são signatários do Estatuto de Roma, que criou o TPI. Pelo contrário: tanto no governo Trump quanto agora, a Casa Branca impôs sanções ao tribunal por investigar militares americanos e aliados como Israel. Apesar do isolamento formal, o Talibã obteve reconhecimento diplomático da Rússia, que se tornou o primeiro país a considerar o grupo como governo legítimo do Afeganistão. O gesto simboliza o avanço de regimes autoritários na reconfiguração da diplomacia global — à revelia dos valores ocidentais. O caso contra os líderes do Talibã abre uma nova frente na jurisprudência internacional, onde a opressão de gênero e identidade se torna um campo legítimo de responsabilização criminal. Também revela as limitações práticas do sistema internacional diante de regimes teocráticos e armados que ignoram tratados, normas e valores universais. Fonte: The Washington Post

EUA limpam a ficha do HTS: grupo terrorista agora é governo amigo na Síria

Nesta segunda-feira (07), o governo dos Estados Unidos anunciou a retirada da designação de organização terrorista estrangeira da Hayʼat Tahrir al‑Sham (HTS), movimento que governa a Síria e cuja liderança agora integra o governo de transição do país, após a deposição e consequente fuga de Bashar al Assad em dezembro de 2024. A decisão, oficializada por meio de um memorando do Departamento de Estado assinado em 23 de junho pelo secretário Marco Rubio, entra em vigor hoje. A medida representa uma mudança radical na postura de Washington em relação à Síria. Desde 2018, o HTS (antes conhecido como Frente al-Nusra, braço da Al-Qaeda na Síria) estava oficialmente listado como organização terrorista, com sanções severas e recompensas por seus líderes. O grupo cortou ligações com a Al-Qaeda em 2016 e, em janeiro deste ano, se dissolveu oficialmente e se integrou às instituições do Estado sírio, sob comando do presidente de transição e líder do grupo, Ahmed al‑Sharaa. A decisão faz parte de um pacote ampliado de flexibilizações, como a revogação de sanções à economia síria, assinada por Trump no dia 30 de junho. Rubio afirmou que a retirada da designação terrorista reconhece “ações positivas” do novo governo de transição, voltadas à estabilização da Síria e à reconstrução após 13 anos de guerra civil. Já o líder do HTS, al‑Sharaa, expressou vontade de combater o terrorismo de todos os tipos e substituir o regime de Assad por um governo mais inclusivo. A política do governo Trump na região vem ganhando forte impacto diplomático: ambos os Estados Unidos e parceiros como Arábia Saudita, Turquia e Reino Unido já vêm restabelecendo contato com a Síria – o Reino Unido anunciou no fim de semana o retorno de sua embaixada em Damasco. A expectativa em Washington é que a reabilitação do HTS facilite o acesso do país a créditos internacionais e investimentos para reconstrução, bem como acelere a integração da Síria ao comércio global. Entretanto, a decisão dividiu opiniões nos Estados Unidos e entre especialistas. Instituições como o Washington Institute alertaram que o HTS ainda carrega um histórico de abusos e questões relacionadas a direitos humanos, e que a retirada do grupo da lista deve ser condicionada a garantias concretas de transparência e moderação. No Reino Unido, ainda vigora cautela: autoridades afirmaram que o HTS só poderá ser retirado da lista de terroristas se demonstrar compromisso com inclusão política e respeito a minorias. Além disso, o embaixador dos EUA em Damasco ressaltou que a remoção da designação terrorista não anula a vigilância sobre possíveis retomadas das redes extremistas, e que órgãos como o Departamento do Tesouro e o Congresso ainda analisarão detalhes jurídicos. Para o regime sírio, o gesto sinaliza o fim de um isolamento internacional de longa data. A retomada de relações com a Arábia Saudita e a Turquia, aliada ao alívio parcial das sanções, pode acelerar uma reestruturação turística e comercial em áreas bombardeadas, além de permitir parcerias em reconstrução vitalícia, como infraestrutura e abastecimento de água. Por fim, a retirada do HTS da lista de organizações terroristas marca uma redefinição das relações entre Washington e Damasco, abrindo espaço para uma nova era de engajamento diplomático e econômico. Essa transição pode favorecer uma estabilização regional, mas dependerá das garantias de moderação política e reforma institucional prometidas pelo governo de transição sírio — medidas que ainda serão avaliadas nos bastidores por americanos e europeus. Fontes: CNN, The Times of Israel, Al Jazeera, Washington Post

Texas contabiliza 82 mortos em enchentes e expõe falhas nos avisos de emergência

A tragédia provocada por chuvas intensas e enchentes repentinas na região do Texas continua a revelar uma escala devastadora. Após 30 centímetros de chuva nas primeiras horas da manhã de 4 de julho, o resultado foi um aumento de 8 metros no nível do Rio Guadalupe em menos de 45 minutos. Essa inundação histórica atingiu especialmente acampamentos de verão em Kerr County, como o Camp Mystic, um retiro cristão para garotas, causando impacto profundo em comunidades locais. As buscas de resgate e recuperação têm sido hercúleas: mais de 850 pessoas foram salvas, entre elas, 167 foram resgatadas por helicópteros, enquanto outras equipes utilizam barcos, drones e até veículos militares para localizar sobreviventes. Até o momento, há pelo menos 82 mortos, entre os quais 28 crianças, além de 41 pessoas desaparecidas. Entre os desaparecidos, ainda estão 10 garotas e um conselheiro do Camp Mystic. Residentes e sobreviventes descrevem o episódio como uma “parede negra de água” que não deu tempo para evacuação, pois a chuva começou enquanto muitos dormiam. As autoridades enfrentam críticas severas por conta de atrasos nos alertas de enchente. O Serviço Nacional de Meteorologia havia emitido um boletim na tarde anterior, mas o aviso urgente só foi transmitido por volta das 4 h da madrugada, quando já era tarde demais. O governador Greg Abbott declarou estado de calamidade e reforçou que novas chuvas estão previstas, o que pode agravar ainda mais a situação. O presidente Trump anunciou, por sua vez, uma declaração federal de desastre e envio de ajuda do FEMA e da Guarda Costeira. Enquanto isso, em meio aos resgates, famílias retornam a acampamentos destruídos para procurar pertences e enterrar entes queridos. Imagens mostram cabanas desabadas e mobiliário arrastado, cenas que reforçam a imprevisibilidade da fúria da natureza. Em contraste, um acampamento vizinho, o Mo‑Ranch, conseguiu evacuar aproximadamente 70 crianças e adultos antes da enchente, devido à ação rápida de monitores que monitoravam o nível do rio. Nenhuma vida foi perdida ali, sublinhando o contraste entre precaução e tragédia. A região, conhecida como “Flash Flood Alley” (Alameda das Enchentes Rápidas), é particularmente vulnerável a eventos extremos, já que seu solo seco favorece o escoamento rápido da água. Esta inundação já é considerada a mais mortífera das últimas décadas no Texas, com potencial de estar entre as mais intensas do século no país. Especialistas em clima ressaltam que o aumento da capacidade da atmosfera de reter água — devido ao aquecimento global — pode estar tornando esses eventos mais frequentes e intensos. Integrantes da comunidade apelam por sistemas de alerta mais robustos. Uma proposta semelhante já havia sido rejeitada anteriormente por conta dos custos. Em meio ao luto, cresce a pressão por respostas claras sobre a falha na comunicação dos alertas. Famílias, autoridades e especialistas debatem agora soluções para reduzir danos em futuros episódios, enquanto as tarefas de busca, resgate e recuperação seguem avançando, apesar do terreno traiçoeiro. Fontes: AP, The Guardian, AP

Trump ergue prisão para imigrantes no pântano da Flórida — cercada por jacarés e doenças

O recém-construído centro de detenção no coração dos Everglades, na Flórida, batizado de “Alligator Alcatraz” pelas autoridades estaduais, tornou-se alvo de duras críticas de especialistas em saúde pública, ambientalistas e grupos de direitos humanos. Erguido em apenas oito dias e inaugurado com entusiasmo pelo presidente Donald Trump, o campo já apresenta sinais de precariedade, como alagamentos e riscos ambientais severos. Localizado sobre uma pista de pouso abandonada cercada, o campo pretende abrigar mais de 3 mil imigrantes sob custódia, além de 100 funcionários. Apesar da retórica oficial que evoca “os migrantes mais perigosos do planeta“, especialistas apontam que as ameaças reais vêm do ambiente hostil. “O risco de doenças transmitidas por mosquitos neste local é significativo“, alertou Durland Fish, professor emérito de epidemiologia da Escola de Saúde Pública de Yale. Estudos realizados na região detectaram vírus que podem causar encefalite, uma inflamação cerebral grave sem tratamento específico. A umidade extrema, combinada com temperaturas que chegam a 91ºF (33ºC) durante o verão, agrava o quadro. As instalações consistem em grandes tendas com celas improvisadas de cercas metálicas, banheiros e chuveiros portáteis. Vídeos divulgados pela imprensa local mostram que parte do campo começou a inundar ainda durante a visita de Trump na semana passada. O estado afirma que as estruturas suportam ventos de até 110 mph (177 km/h), limite que especialistas consideram ultrapassado pelas normas de construção da Flórida desde o furacão Andrew, em 1992. “Hoje, qualquer edificação em zona de furacões deve ter resistência superior e sistemas certificados de proteção das aberturas“, disse Anthony Abbate, professor da Faculdade de Arquitetura da Florida Atlantic University. O local está em uma área classificada como de alta velocidade de furacões, o que torna as estruturas temporárias ainda mais vulneráveis. O governador Ron De Santis defendeu a iniciativa como parte de seu plano de deportação em massa de imigrantes em situação irregular, que prevê a criação de outros centros semelhantes em pontos estratégicos do estado. Para ele e seus aliados, o isolamento geográfico — cercado por quilômetros de pântano — é uma vantagem que desencoraja fugas e reforça o efeito dissuasório. “Estamos cercados por uma área traiçoeira, e a única saída real é a deportação“, declarou Trump durante sua visita. No entanto, ambientalistas e organizações indígenas que lutaram por décadas para proteger o Big Cypress Swamp afirmam que o campo ameaça o delicado equilíbrio ecológico da região. Fotógrafo e ativista Clyde Butcher, que documenta os Everglades há 40 anos, disse que o uso intenso de geradores, luzes de segurança e a possibilidade de pulverização maciça de inseticidas terão consequências devastadoras para a fauna local. “A água aqui é pura e cristalina. Este não é um lugar para campos de detenção“, lamentou. A localização remota também gera preocupação entre defensores dos direitos dos imigrantes. “É praticamente inacessível para advogados, famílias e qualquer tipo de fiscalização independente“, disse Renata Bozzetto, vice-diretora da Coalizão de Imigrantes da Flórida. “Isso cria um ambiente propício a abusos e violações de direitos humanos.“ O Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) tenta se distanciar do projeto. Em documento apresentado à Justiça, afirmou que “não autorizou, financiou ou operou” o centro, embora a secretária Kristi Noem tenha prometido reembolsar US$ 450 milhões ao estado pelo primeiro ano de funcionamento. Grupos democratas tentaram inspecionar o local na quinta-feira, mas foram barrados. “É uma afronta ao direito legal de fiscalização de instalações prisionais e mais uma tentativa de esconder abusos da opinião pública“, disseram deputados em nota conjunta. Entre críticas ambientais, dúvidas sobre segurança estrutural e denúncias de violações de direitos, o Alligator Alcatraz já se tornou um símbolo polêmico da política migratória agressiva de Trump — e um novo capítulo no debate nacional sobre o tratamento dado aos imigrantes nos Estados Unidos. Fontes: Washington Post, BBC, Il Post

Crise energética expõe vulnerabilidade de Taiwan e abre espaço para aposta geotérmica

Taiwan está à beira de um colapso energético que ameaça não apenas seu modelo econômico, mas também sua segurança estratégica diante do expansionismo chinês. Ao acelerar a eliminação gradual das usinas nucleares, a ilha se expôs a blecautes sucessivos e a tarifas de energia recordes, enquanto a prometida expansão de energia eólica offshore falhou em suprir a demanda crescente. Desde 2018, quando os primeiros reatores começaram a ser desligados, a confiabilidade do sistema elétrico de Taiwan se deteriorou. O reator final foi desativado em maio deste ano, elevando ainda mais o risco de interrupções de energia. Para compensar, a ilha intensificou a importação de gás natural liquefeito (GNL), que corresponde hoje a cerca de 38% de sua matriz elétrica. Esse recurso, além de caro e poluente, aumenta perigosamente a vulnerabilidade da ilha a bloqueios navais ou sanções vindas de Pequim — um ponto crítico, considerando as reiteradas ameaças militares chinesas ao redor do estreito de Taiwan. As tarifas de eletricidade subiram duas vezes apenas em 2024, após dois anos consecutivos de reajustes, chegando a níveis históricos. Usuários industriais, como a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), alertaram que estão pagando alguns dos preços mais altos do mundo para manter a produção de chips. Isso mina justamente o chamado escudo de silício — a dependência global de semicondutores taiwaneses, considerada por Taiwan uma garantia indireta contra invasões. Detalhes técnicos do cenário energético Frente a este quadro, o governo do presidente Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (DPP), começou a olhar para uma alternativa historicamente negligenciada: a energia geotérmica. Taiwan se localiza na Orla do Pacífico, sobre duas placas tectônicas, apresentando vastos recursos geotérmicos que permanecem praticamente inexplorados desde um frustrado projeto piloto nos anos 1980. Em 2023, o Ministério da Economia taiwanês lançou novas diretrizes para atrair investimentos privados no setor. Já em abril deste ano, o Google anunciou uma parceria com a sueca Baseload Capital para construir uma usina piloto geotérmica para abastecer seus data centers na ilha. A perfuração já começou na costa leste, onde o potencial de aquecimento subterrâneo é mais favorável. A geotermia oferece uma solução interessante: garante geração constante, como a nuclear, mas sem resíduos radioativos. Por isso, tem agradado tanto conservadores do KMT — que prezam pela confiabilidade do suprimento — quanto ambientalistas do DPP, que não querem reabrir feridas do debate nuclear após Fukushima. Ainda assim, o KMT tenta resgatar a opção nuclear. Em agosto, promoverá um referendo sobre a reativação do último reator, construído mas nunca conectado à rede. Pesquisas de opinião mostram a população dividida. A crise energética taiwanesa não é apenas um problema de tarifas ou apagões: ela expõe um ponto fraco gravíssimo para a segurança da ilha, que depende de energia estável para sustentar sua gigantesca indústria de semicondutores — vital não apenas para Taiwan, mas para toda a economia ocidental. Se a China decidir fechar as rotas de GNL ou sabotar as importações, a situação poderia se tornar insustentável rapidamente. Resta saber se Taiwan terá coragem de reavaliar de forma pragmática a energia nuclear, ou se apostará todas as fichas no geotérmico. O fato é que, sem soluções de base firme, a ilha permanecerá em risco diante de qualquer movimento de coerção de Pequim. Fonte: foreignpolicy.com

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