Emirados assumem porto sírio de Tartus em acordo bilionário e mira retomada econômica

Em 13 de julho de 2025, a Autoridade Geral de Portos Terrestres e Marítimos da Síria celebrou um acordo no valor de US$ 800 milhões com a empresa dos Emirados Árabes Unidos — DP World — visando a modernização do porto de Tartus, na costa mediterrânea síria. O pacto acontece poucos meses após a assinatura de um memorando de entendimento em maio, reforçando a cooperação entre os dois países em infraestrutura logística e atuação portuária. A cerimônia de assinatura, transmitida pela agência estatal SANA, contou com a presença do presidente interino sírio Ahmed al-Sharaa, demonstrando o alto nível de compromisso político com o projeto. O acordo engloba a construção de um terminal portuário multipropósito em Tartus, expandindo a capacidade de movimentação de cargas, com foco em contêineres, grãos e produtos industriais. Além disso, está prevista a implantação de zonas industriais e zonas de livre comércio — iniciativas estratégicas que visam fomentar a economia local, atrair investimentos estrangeiros e gerar empregos diretos e indiretos. Para a Síria, marcada por 14 anos de guerra civil, esse passo representa um marco significativo rumo à reconstrução econômica e reabilitação das suas infraestruturas principais. O porto de Tartus, tradicionalmente ligado à Marinha e à importação de combustíveis, ganhará nova relevância como hub logístico e comercial na região. O acordo com a DPWorld surge num momento em que a Síria começa a reverter seu isolamento internacional. Em junho, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou uma ordem executiva que suspende um programa de sanções econômicas à Síria, abrindo caminhos para sua reinserção no sistema financeiro global. A decisão visa facilitar a ajuda humanitária, impulsionar o comércio externo e o investimento internacional, e está diretamente ligada à retomada da economia devastada pelo conflito. Por sua vez, a DPWorld — divisão da Dubai World — reforça sua posição como uma das principais operadoras portuárias do mundo, com presença em mais de 70 portos globalmente. A parceria com a Síria representa tanto um risco — devido ao ambiente pós-guerra e riscos regulatórios — quanto uma oportunidade estratégica de ingressar num mercado emergente com baixo custo de entrada e significativo potencial de crescimento. Apesar do otimismo, o projeto enfrenta desafios. A infraestrutura local sofreu extensos danos durante o conflito; muitos acessos terrestres, sistemas de armazenagem e equipamentos portuários estão obsoletos ou destruídos. A reconstrução exigirá não apenas o aporte financeiro do acordo, mas também a mobilização de competências técnicas, quadros de engenharia e conformidade com padrões internacionais de operação portuária eficiente. Além disso, a estabilidade política e a segurança nacional continuam sendo fatores determinantes para o sucesso do investimento. O envolvimento ativo de autoridades sírias, como evidenciado pela presença do presidente al-Sharaa, pode reforçar a confiança externa e sinalizar comprometimento do Estado na continuidade do projeto. A modernização do porto de Tartus pode transformar a logística síria e estimular o crescimento econômico, catalisando investimentos adicionais em transporte, indústrias pesadas e agronegócio. As zonas econômicas associadas devem facilitar a instalação de empresas internacionais, criação de empregos e fortalecimento das cadeias de valor locais. Para a população, o impacto pode se traduzir em melhores oportunidades de trabalho, aumento da arrecadação pública e serviços urbanos mais estruturados. Já para a Síria, no plano internacional, trata-se de um movimento simbólico de reabilitação institucional e confiança de investidores estrangeiros, elementos essenciais para retomar uma trajetória de desenvolvimento sustentável. O acordo de US$ 800 milhões entre Síria e DP World marca o início de uma nova era para o porto de Tartus — com potencial para revitalizar a infraestrutura, gerar emprego, atrair investimentos e redefinir a posição da Síria no comércio mediterrâneo pós-guerra. Fontes: Al Jazeera, Reuters

Putin acuado? Trump ameaça devastar economia russa com tarifa global

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira (14) que imporá “tarifas secundárias” de até 100% a países que continuarem a negociar com a Rússia caso Moscou não assine um acordo de cessar-fogo na Ucrânia dentro de 50 dias. Paralelamente, um acordo sem precedentes foi fechado com o envio de sistemas de defesa aérea Patriot a parceiros da OTAN, cujo funcionamento será pago pelos próprios aliados. Essas medidas foram anunciadas durante evento na Casa Branca, com presença do secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, que reforçou o recado: “Se eu fosse Putin hoje, reconsideraria levar a sério as negociações“. O gesto marca uma guinada na política americana: Trump, que até então adotava tom mais favorável a Moscou, agora endurece o discurso, citando decepção com a continuidade dos bombardeios russos — “ele falava tão bem, e depois explodia prédios à noite“. A Rússia reagiu com cautela, com o ministro Lavrov afirmando que Moscou “sem dúvida suportará as novas sanções” e exigindo clareza sobre as motivações de Trump. Já o vice-ministro Ryabkov declarou que negociações podem seguir, mas “não sob ultimatos“. Enquanto isso, a ofensiva militar russa foi intensificada, com aumento expressivo de ataques aéreos na Ucrânia: drones e mísseis disparados em junho resultaram no maior número de vítimas civis dos últimos três anos, segundo a ONU. Em conjunto com o pacote de pressão econômica, Trump anunciou que sistemas Patriot fabricados nos EUA serão entregues a parceiros da OTAN — Alemanha, Finlândia, Dinamarca, Suécia, Noruega, Holanda e Canadá — para fortalecer a defesa ucraniana, com a própria Europa arcando com os custos. O secretário-geral da OTAN enfatizou a rapidez necessária na entrega: “Velocidade é essencial“. Líderes ucranianos celebram o suporte militar, mas criticam o prazo de 50 dias como muito lento, já que ele deixa espaço para mais destruição russa. Por sua vez, a Europa expressa preocupação com o impacto das sanções secundárias, especialmente em nações dependentes do gás russo. A pressão por restrições comerciais tem respaldo no Senado dos EUA: senadores Lindsey Graham e Richard Blumenthal propuseram tarifas de até 500% sobre importações de nações que mantêm relação econômica com Moscou. O projeto, já aprovado na Casa com forte apoio bipartidário, aguarda votação no Senado. Mas analistas alertam que Putin segue firme. Embora o Kremlin tenha apoiadores céticos quanto à eficácia das medidas, o presidente russo permanece determinado a continuar a guerra por concessões territoriais reais — neutralidade da Ucrânia, não ampliação da OTAN e reconhecimento de anexações. Mesmo com os indicadores econômicos russos sofrendo pressão, o Banco Central do país e empresas estatais seguem operando normalmente, apostando na resiliência financeira que a Rússia já demonstrou em sanções anteriores. Fontes: Wall Street Journal, India Today

Para inglês ver? Não! Para europeu ver: União Europeia afrouxa combate à corrupção e perde €120 Bi ao ano

Projeto obtido pelo portal Euractiv mostra que a União Europeia (UE) reduziu deliberadamente sua estratégia anticorrupção para os próximos anos. Agora, em lugar das reformas estruturais originalmente aventadas, apenas requisitos mínimos e “intenções de mudanças” serão exigidos. O documento deve ser apresentado aos comissários do bloco junto à proposta de Orçamento Multianual (MFF), ainda este mês. “Estamos apenas administrando a tensão, não lidando com ela“, admitiu um alto servidor da Comissão Europeia, órgão executivo do bloco. “Se queremos pedir a nossos cidadãos que aceitem disciplina orçamentária, a primeira coisa que devíamos fazer era mostrar que o dinheiro não está sendo roubado“, disse outro. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão, prometeu em 2024 iniciar campanha ferrenha contra a fraude orçamentária. Estimativas apontam que as perdas por corrupção custam ao bloco em torno de € 120 bilhões por ano. No caso de desvios ligados diretamente ao orçamento, as cifras anuais superam € 1 bilhão. Pressionada, porém, a presidente – ela própria respondendo no Parlamento por suposto conluio com a americana Pfizer para facilitar a compra de vacinas durante a pandemia da COVID-19 – parece ter preferido a cautela burocrática, empurrando as mudanças para 2026. No centro do debate está a indefinição de competências entre as duas agências responsáveis por garantir a integridade do orçamento do bloco. A OLAF, de cunho administrativo e ligada diretamente à Comissão, investiga e determina a reposição dos fundos desviados. Já a segunda, EPPO, de âmbito judicial, é independente e é quem efetivamente pode confiscar os recursos roubados. Servidores confidenciam que, para evitar desgastes com um lado ou outro, a Comissão se esquiva de lidar com o problema. “Assim, acabamos com um status quo que não satisfaz ninguém“, afirmou um deles. “Gates” em série assolam UE Escândalos estão longe de serem casos isolados no dia a dia da UE. De fraudes orçamentárias a nepotismo, passando pelo constante entra e sai de servidores para empresas e consultorias e chegando a relações espúrias com governos estrangeiros, a sensação de impunidade é disseminada em Bruxelas. Além do já conhecido “Pfizergate“, outras casos similares – ou “gates” como acabaram conhecidos – ficaram célebres, como o “Catargate“, em que o país árabe ofereceu vantagens financeiras a parlamentares em troca de influência política; e o “Huaweigate“, em que a empresa chinesa subornou executivos do bloco. Outra situação de destaque envolveu a nomeação por parte da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, de seu cunhado como chefe de gabinete. “O descaso com a ética e a falta de prestação de contas das instituições da UE reduz a confiança da população e ainda serve de munição para adversários dentro e fora do bloco“, apontou Alberto Alemanno, professor de direito europeu da universidade HEC Paris. Envolvendo valores superiores a € 1,2 trilhão, o MFF ditará os compromissos financeiros da UE pelos próximos 7 anos. Para Gilles Boyer, parlamentar do grupo Renovar Europa, o enfraquecimento das medidas contra fraudes expõe o bloco. “A luta contra o desperdício é essencial, indispensável, para garantir a integridade e a eficiência das finanças públicas“. Fontes: Euractiv, Politico Europe

“Mapa da Morte”: EUA sabiam do risco no Camp Mystic, mas liberaram construção

Ao longo dos últimos 15 anos, a FEMA, agência federal que lida com emergências nos Estados Unidos (EUA), concedeu diversos recursos ao Camp Mystic. Ela o excluiu de seus mapas de inundação e permitiu, com isso, que o acampamento ignorasse exigências básicas de segurança e se expandisse por áreas de risco. Recentemente, 27 pessoas, entre crianças, jovens alunas e funcionários, perderam suas vidas no Camp Mystics nas enchentes que assolaram o Texas no início de julho. Já em 2011, reportou a Associated Press, mapas da FEMA demonstravam que a maior parte das construções do Camp Mystic localizava-se em regiões sujeitas a inundações. Em 2013, novamente, um estudo demonstrou que 6 das 15 cabanas do acampamento localizavam-se em elevações extremamente próximas ao nível de alagamento esperado para eventos extremos. A inclusão das construções no que a agência chama de “Área de risco de inundação especial” proíbe a construção em determinadas áreas de perigo extremo, além de impor requisitos mínimos e exigir seguro para a construção em outras onde o risco é alto. Em todos os casos, o Camp Mystic recorreu e a FEMA acatou os apelos, retirando os acampamentos do que considerava como áreas afetadas. “É um acampamento para crianças. A gente espera que você vá além dos mínimos para dar segurança contra inundações“, lamentou Sarah Pralle, pesquisadora do assunto na Universidade de Syracuse. Ela se disse “perplexa” com a atitude dos organizadores e reguladores. Ainda que as enchentes do último dia 04 tenham sido extremamente superiores ao risco previsto nos mapas – que consideram a probabilidade de um evento extremo em 100 anos – o descaso demonstrado ao longo do período foi considerado por Pralle como “extremamente perturbador“. “Para mim, é um mistério: eles não só não tomaram a iniciativa de retirar as cabanas da área de risco, como contestaram sua inclusão nos mapas.” As mudanças após o recurso de 2013 retiraram 15 construções das regiões consideradas de risco. Análise da AP mostrou que a maior parte delas se localiza na área mais afetada pela inundação do início do mês. Novas exceções foram concedidas em 2019 e 2020, para cabanas também atingidas pelas enchentes. Nestas, porém, os danos foram menos severos. A retirada da designação como área de risco permitiu ao acampamento continuar seu processo de expansão pela região, construindo novas cabanas e atraindo mais público. Especialistas afirmaram que os recursos ao mapeamento da FEMA são estratégia comum dos proprietários, que geralmente têm seus pedidos acatados. A FEMA se defendeu dizendo que “os mapas são apenas fotografias no tempo. Não tem capacidade de prever onde as inundações vão ocorrer nem onde ocorreram“. Pralle, de Syracuse, porém, discorda: “Não é hora de brigar com os mapas. Precisamos expandi-los.” Fontes: AP News, The New York Times

Israel e Hamas mantêm posições inflexíveis e cessar-fogo continua distante

As negociações de um cessar-fogo de 60 dias entre Israel e Hamas, mediadas pelos EUA e realizadas em Doha, estão em risco por impasses críticos — sobretudo em relação à retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza, segundo fontes palestinas e israelenses com conhecimento direto do processo. As partes divergentes mantêm posições diametralmente opostas: o Hamas exige retirada completa das forças de Israel para as linhas do último cessar-fogo anterior à ofensiva de março. Já Israel, que aceitou inicialmente a proposta, busca garantir permanência em cerca de 40% do território, incluindo a região de Rafah — um importante corredor humanitário e fronteiriço. A disputa sobre o controle territorial e garantias de auxílio humanitário se manteve sem resolução, estagnando os esforços diplomáticos. O bloqueio nas conversas ocorre em paralelo à crise humanitária: pelo menos 17 pessoas foram mortas por soldados israelenses enquanto buscavam ajuda alimentícia em Rafah, elevando para quase 800 o número de vítimas em seis semanas relacionadas às distribuições de comida nos pontos apoiados pelos EUA. Além disso, os ataques aéreos em Gaza continuam intensos — ao menos 16 pessoas foram mortas em uma única ofensiva neste sábado (12), conforme dados médicos locais. Em incidentes distintos, um ataque atingiu uma clínica em Deir al-Balah, matando 10 crianças e seis adultos; o Exército israelense afirmou ter como alvo um militante e está investigando os danos colaterais. A ONU indica que a escassez de combustível em Gaza atinge níveis críticos, agravando a situação em hospitais, abrandando a distribuição de alimentos e água potável. Enquanto isso, as forças israelenses matam dezenas nos arredores de centros de assistência, incluindo ao menos 34 civis em uma fila de distribuição em Rafah, com tiros afirmados por testemunhas como disparos diretos, contrariando a alegação militar de que teriam sido apenas tiros de advertência. No campo diplomático, a Casa Branca afirmou que Steve Witkoff, enviado de Trump, irá a Doha para retomar as conversas. Autoridades israelenses indicam que, embora haja possibilidades de avanço num futuro próximo, um acordo ainda está distante, principalmente enquanto persistirem questões como retirada de tropas, assistência humanitária e libertação de reféns. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu manteve pressão por uma trégua acompanhada de desmilitarização do Hamas e da libertação completa dos reféns. Por sua vez, o grupo questiona os termos preliminares, especialmente a permanência das tropas israelenses após o cessar-fogo. A deterioração humanitária, com hospitais sem energia, reservas baixas de combustível e filas mortais por comida, amplia a urgência de um acordo. Ainda assim, o impasse sobre a retirada militar reflete a resistência de Israel em renunciar ao território, mesmo sob trégua, e a rejeição do Hamas a qualquer presença militar continuada. Enquanto isso, o presidente Trump e Netanyahu se esforçam para manter o avanço das negociações, angariando apoio internacional — incluindo do Catar, Egito e ONU — para superar o impasse. No entanto, a combinação de divergências territoriais, vítimas civis crescentes e violência persistente coloca sob ameaça o modelo de trégua negociada entre as partes. Fontes: Reuters, Reuters, AP

União Europeia e México são os novos alvos de tarifas de Trump

O presidente Donald Trump anunciou em 12 de julho uma nova rodada de tarifas comerciais que promete sacudir alianças históricas e retratar uma era de protecionismo agressivo, ao direcionar suas investidas contra o México e a União Europeia. A medida, que inclui taxas de até 30% sobre europeus e mexicanos, eleva a disputa a um novo patamar, revelando a estratégia “America First” em sua forma mais contundente. A justificativa oficial se baseia em alegações de práticas comerciais injustas, defasagem tecnológica europeia em relação aos EUA e problemas de segurança nacional. A resposta europeia foi rápida. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou em Bruxelas que tarifas de 30% “interromperiam as cadeias de suprimentos transatlânticas essenciais, em detrimento de empresas, consumidores e pacientes em ambos os lados do Atlântico” e sinalizou o caminho da retaliação, com estudos sobre possíveis contramedidas envolvendo tarifas sobre produtos americanos. Um diplomata europeu, que falou sob condição de anonimato, classificou a medida como “um golpe contra parcerias de longa data”, alertando para o impacto inevitável nos setores automotivo, energético e industrial. Concomitantemente, também foi anunciada tarifa de 30% sobre uma vasta gama de produtos mexicanos. A medida mexe profundamente na economia mexicana, que depende dos EUA para 85% de suas exportações, e ameaça consequências para cadeias produtivas inteiras. Segundo fontes ouvidas pelo The Guardian, além das motivações econômicas, Trump mira ganhos políticos internos em um ano eleitoral. A análise sugere que partiu de informações equivocadas sobre práticas comerciais do México e supostas distorções de subsídios europeus em setores como aço, veículos e tecnologia. O envolvimento econômico é relevante. A indústria automotiva norte-americana tem pressionado o governo por proteção contra importações que colocam pressão sobre a produção doméstica, argumentando risco de desemprego em massa e dependência tecnológica. Analistas alertam que a onda de tarifas pode deflagrar uma escalada — lembra a guerra comercial entre EUA e China em 2018 — com EUA tentando ampliar o protecionismo e a Europa articulando um front coeso contra o desmantelamento progressivo do sistema multilateral. A guerra tarifária de 2025 se apresenta mais ampla do que a de 2018, atingindo aliados tradicionais dos EUA com medidas que podem corroer bases diplomáticas e pressionar diversos países a buscarem acordos menos favoráveis para não perder o mercado norte-americano. Fontes: Reuters, The Guardian

Tortura, execuções e enterros secretos: o arquivo mortal de Bashar al-Assad

Uma investigação em curso conduzida pelo New York Times e diversas organizações internacionais expõe a descoberta de extensas valas comuns nas regiões de Najha e de Qutayfah, nos arredores de Damasco — evidências devastadoras da repressão sistemática perpetrada pelo regime de Bashar al‑Assad ao longo de mais de uma década de guerra civil. Após a queda do regime em dezembro de 2024, bombeiros, voluntários e autoridades locais começaram a encontrar covas clandestinas com centenas de corpos em várias regiões do país. Uma das maiores dessas valas, registrada por imagens de satélite, abrange cerca de 40.000 m² e contém estimadas 100 mil vítimas, muitas identificadas por marcas de tortura. Investigadores do Wall Street Journal relataram entrevistas com sobreviventes de Saydnaya, a prisão-tortura símbolo da brutalidade do regime. Testemunhos confirmam execuções em massa, incluindo o assassinato de 600 detentos em apenas três noites durante março de 2023. Documentos do regime e relatos de operários escalados para enterrar os mortos confirmam o caráter burocrático e sistemático dos crimes. Grupos de direitos humanos como Human Rights Watch e Anistia Internacional alertam para a urgência em preservar esses locais e os arquivos do regime — muitos já saqueados ou destruídos — para garantir vestígios cruciais para investigações e julgamentos futuros. Representantes dessas ONGs instam o governo interino — incluindo a recém-criada Comissão Nacional para os Desaparecidos e Comissão de Justiça Transitória — a agir para desvendar os crimes cometidos pelo antigo governo sírio. A ONU também divulgou em janeiro de 2025 um relatório com base em mais de 2.000 testemunhas, denunciando padrão sistemático de detenções arbitrárias, tortura, execuções extrajudiciais e desaparecimentos como “matéria-prima para crimes contra a humanidade“. Stephen Rapp, ex-embaixador de crimes de guerra dos EUA, comparou a máquina de morte implementada por Assad à dos nazistas. Segundo ele, haveria mais de 100.000 pessoas desaparecidas e assassinadas, reforçando a legitimidade do pedido de justiça. As valas comuns encontradas em Najha datam de 2011 a 2014, e de Qutayfah de 2014 a 2019 e eram abastecidas regularmente por caminhões refrigerados. Testemunhas que trabalhavam no local descrevem corpos com marcas de tortura, indicando que muitos morreram nas prisões e hospitais militares, depois foram levados para enterros em locais ocultos. Apesar das evidências, operadores do regime também teriam removido parte dos corpos em 2019, possivelmente na tentativa de ocultar provas. Enquanto isso, civis tentam localizar entes desaparecidos, o que pode ameaçar ainda mais a preservação dos vestígios. A Comissão Nacional para os Desaparecidos, criada em 17 de maio de 2025, liderada por Mohammad Reda Jalkhi, e a Comissão de Justiça Transitória, presidida por Abdulbaset Abdullatif, são vistas como passos promissores para responsabilização, mas enfrentam desafios enormes, como institucionalização, acesso a arquivos e proteção dos locais. Ainda há apelos de entidades como a SNHR, que registra cerca de 136 mil desaparecidos sob o regime de Assad — apenas 31 mil foram libertados — e cujos números são considerados conservadores. Restam ao menos 100 mil mortos não identificados. Com o regime em colapso e a atual coalizão tentando restaurar instituições, sem ação imediata, os vestígios podem ser irremediavelmente perdidos. A preservação de valas, documentos e arquivos é vital não apenas para punir perpetradores, mas para dar dignidade aos desaparecidos, dar respostas às famílias e reconstituir a memória coletiva. À medida que a Síria tenta se reerguer, a tarefa de enfrentar o legado de atrocidades será decisiva para a reconciliação nacional e para que se evite o retorno do ciclo de impunidade. Fontes: New York Times, Wall Street Journal, ONU

Desertora norte-coreana entra com ações judiciais por tortura e estupro contra Kim Jong-un

Uma ex-prisioneira política norte-coreana entrou nesta semana com dois processos judiciais inéditos contra o ditador Kim Jong-un na Coreia do Sul, acusando o líder comunista e outros seis altos funcionários do regime por crimes contra a humanidade, tortura sistemática, estupro e perseguição política. A ação, revelada pela plataforma especializada NK News e repercutida por veículos como The Guardian nesta quinta-feira (11), representa a primeira tentativa formal de responsabilizar judicialmente o líder norte-coreano em território sul-coreano por violações de direitos humanos cometidas dentro da ditadura mais fechada do mundo. A denunciante é Choi Min-kyung, hoje com 53 anos, que conseguiu escapar do país em 2012 após ser presa e deportada quatro vezes entre 2000 e 2008. Durante os anos em que esteve sob custódia do regime, ela afirma ter sido espancada repetidamente, torturada psicologicamente, submetida a trabalho forçado e vítima de violência sexual por parte de guardas. Em entrevista à imprensa sul-coreana, Choi disse que ainda sofre com as sequelas dos abusos, incluindo perda auditiva permanente, trauma psicológico e dependência de medicamentos. “Sobrevivi, mas vivo todos os dias com o peso daquilo que passei“, declarou. A ação judicial, protocolada em um tribunal de Seul com o apoio do Database Center for North Korean Human Rights (NKDB), busca uma indenização de 50 milhões de wones sul-coreanos (cerca de 37 mil dólares) e solicita à Justiça que inicie uma investigação formal com base no princípio da responsabilidade de comando. Esse conceito jurídico, já utilizado em tribunais internacionais para julgar crimes de guerra, sustenta que líderes políticos e militares podem ser responsabilizados por atrocidades cometidas sob sua autoridade, mesmo que não as tenham ordenado diretamente. O advogado responsável pelo caso, Lee Young-hyun, também é um ex-refugiado da Coreia do Norte e atualmente o primeiro cidadão norte-coreano naturalizado sul-coreano a atuar como advogado no país. Embora a Coreia do Sul não reconheça oficialmente o regime norte-coreano como Estado separado, sua legislação permite que crimes cometidos em território norte-coreano sejam julgados por suas cortes, uma vez que Seul considera toda a península como parte de seu território soberano. A expectativa, no entanto, é de que, mesmo em caso de condenação, as sanções sejam simbólicas, já que não há mecanismos práticos para fazer cumprir uma sentença contra Kim Jong-un. Ainda assim, o caso pode abrir precedente para futuras ações, tanto domésticas quanto internacionais. A denúncia surge em um momento em que governos conservadores, especialmente nos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump, têm reforçado sua retórica contra regimes autoritários, sobretudo os comunistas. Em maio, o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio citou em audiência no Senado a necessidade de pressionar o regime de Pyongyang e apoiar os desertores norte-coreanos em busca de justiça. A ação movida por Choi é vista por diplomatas sul-coreanos como um possível catalisador para aumentar a pressão sobre o regime, inclusive em instâncias como o Conselho de Direitos Humanos da ONU ou o Tribunal Penal Internacional, embora a Coreia do Norte não reconheça essas jurisdições. As denúncias de Choi Min-kyung reforçam o extenso histórico de violações de direitos humanos documentado por missões da ONU e por organizações como a Human Rights Watch. Em 2014, uma comissão da ONU concluiu que o regime norte-coreano mantinha campos de prisioneiros políticos com práticas de tortura, assassinatos arbitrários, fome forçada e escravidão — muitos desses crimes classificados como “contra a humanidade“. Apesar da gravidade das acusações, pouco avanço foi feito no sentido de responsabilização judicial de altos membros do regime. Ao tornar-se a primeira vítima a entrar com ação direta contra Kim Jong-un, Choi afirma que pretende dar voz a milhares de norte-coreanos que não tiveram a chance de escapar ou de contar sua história. “Nós somos testemunhas vivas“, declarou. “Devemos agir enquanto ainda podemos.“

Europa aposta alto: plano bilionário para reerguer a Ucrânia e frear influência russa

A União Europeia anunciou nesta quinta-feira (10), em Roma, um ambicioso plano bilionário para reconstrução da Ucrânia, reunindo apoio político e financeiro de países-membros, instituições europeias e setor privado para ajudar Kiev a resistir à guerra e preparar sua recuperação pós-conflito. No total, foram comprometidos mais de 10 bilhões de euros, conforme detalhado na quarta Conferência de Recuperação da Ucrânia. A presidente da Comissão Europeia, Ursula  von  der  Leyen, anunciou €2,3 bilhões inicialmente desbloqueados pela UE, capazes de atrair até €10 bilhões adicionais em investimentos públicos e privados para reconstrução de infraestrutura, saúde, energia e negócios. O Fundo Europeu para Reconstrução da Ucrânia, maior fundo de capital privado até hoje dedicado ao país, foi lançado com uma injeção de €220 milhões, com meta de elevar esse investimento para €500 milhões até 2026. A iniciativa faz parte do “Ukraine Facility”, que reúne uma previsão total superior a €50 bilhões para o período 2024‑2027, combinando empréstimos e subsídios. Participantes do evento incluíram o presidente ucraniano Volodymyr  Zelensky, que classificou os ataques russos recentes como “terrorismo puro” e defendeu o uso de ativos congelados da Rússia para financiar a reconstrução. Zelensky reforçou ainda que a reconstrução da Ucrânia deve ser vista como investimento estratégico, destacando potencial de modernização para infraestrutura, energia e digitalização conectando o país à União Europeia . No evento, a primeira-ministra italiana enfatizou que as experiências da Itália e Alemanha após a Segunda Guerra Mundial demonstram que a reconstrução é possível mesmo em cenários adversos. Líderes como Emmanuel Macron, Keir Starmer e Friedrich Merz fortaleceram o compromisso europeu de apoio à Ucrânia, com Macron e Starmer pedindo sanções mais rigorosas à Rússia e suporte contínuo a Kiev. Contexto macroeconômico: a Ucrânia enfrenta um déficit orçamentário projetado de até US$ 19 bilhões em 2026, segundo relatório do FT. O Ukraine Facility foi estruturado para cobrir esse hiato, utilizando recursos da UE, do Banco Europeu de Investimento (EIB) e do Fundo Europeu para Desenvolvimento Sustentável Plus (EFSD+). Uma tranche de €2 bilhões em garantias já foi assinada com o EIB em março, focada em energia, transporte, habitação e infraestrutura urbana. Especialistas destacam que a abordagem de Reino Unido ‑ União Europeia ‑ Itália combina subsídios, empréstimos garantidos e capitais privados para acelerar a reconstrução e atrair investimento estrangeiro, sinalizando a definição de padrões de governança e transparência para futura adesão ao bloco. Críticos, porém, alertam que os valores anunciados ainda ficam aquém dos US$ 486 bilhões estimados pelo Banco Mundial como custo da reconstrução a longo prazo. Além disso, há desafios — violência contínua, acesso limitado à justiça, risco de corrupção e seguros para investidores — que exigem garantias robustas antes que capitais privados sejam liberados . Com a crise humanitária ainda presente e a guerra em curso, a iniciativa emerge como um marco — um “novo plano Marshall” europeu para a Ucrânia. O sucesso dependerá da execução eficaz, alinhamento com reformas do país, e capacidade de atrair investimento sustentável que aproxime Kiev de sua meta de aderir à União Europeia até 2030. Fontes: Financial Times, The Guardian, EU4Ukraine

Taiwan realiza os maiores jogos militares de sua história

Na última quarta-feira (9), Taiwan deu início a edição de 2025 de seus jogos militares anuais, o Han Kuang. Os exercícios terão duração de 10 dias, avaliando a capacidade do país de resistir a uma invasão chinesa à ilha. Este ano, a mobilização envolverá aproximadamente 22.000 reservistas, maior número da história. Novos cenários serão testados, especialmente aqueles relacionados a ataques cibernéticos e desinformação. “Os comandantes precisam pensar em quais desafios as tropas poderão enfrentar, e então passá-los a seus subordinados“, explicou um oficial taiwanês, citando o conflito na Ucrânia como principal referência de combate real. Os exercícios abrangerão situações como o bloqueio naval imposto por Pequim a ilhas próximas, manobras para repelir o desembarque de tropas chinesas no território e medidas para lidar com ataques aos sistemas de comando e comunicação do país durante o conflito. Nesta edição, os jogos militares serão combinados a exercícios de resiliência civil, de forma a testar o quão preparada está a sociedade taiwanesa como um todo para enfrentar ameaças à soberania do país. A ideia é estimular a cooperação dos setores público e privado e aumentar a participação e consciência popular quanto à defesa da ilha. “Esse será o Han Kuang mais intenso que já fizemos“, disse o general Tung Chi-hsing, responsável pela divisão de planejamento do Estado Maior taiwanês. “O treinamento imagina uma guerra disputada em estágios, nas praias, nas cidades e pela sociedade“. O início dos jogos vem um dia após um representante chinês classificar de “inevitável” a reunificação de Taiwan à China. Pequim considera a ilha como uma província separatista, e vem gradativamente elevando a pressão – política e militar – sobre Taiwan. “Não importa como se saiam ou que armas usem, eles não tem como resistir à espada da anti-independência e a tendência histórica da reunificação à pátria-mãe“, declarou o porta-voz do ministério da Defesa chinês, Jiang Bing. “O Han Kuang nada mais é do que um blefe, um truque do Partido Democrático Progressista“. Diante das ameaças, os militares taiwaneses preferem não economizar no treinamento. Comentando a estratégia de prover às tropas informações mínimas sobre os exercícios, um oficial disse que “o objetivo é estar preparado para inesperado“. Fontes: Reuters, Al Jazeera, Focus Taiwan, South China Morning Post

plugins premium WordPress