Bukele na mira de Maduro: Venezuela investiga suposta tortura a presos venezuelanos no CECOT

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, anunciou nesta segunda-feira (21) a abertura de uma investigação oficial contra o presidente Nayib Bukele e contra o diretor do sistema penitenciário de El Salvador por alegados casos de tortura e maus-tratos a mais de 250 cidadãos venezuelanos que estiveram detidos na prisão de segurança máxima CECOT (Centro de Confinamento do Terrorismo). Segundo Saab, os detentos teriam sofrido violência física extrema — incluindo espancamentos que teriam causado a perda de um rim, além de queimaduras por uso de armas menos letais e cortes —, foram alvo de abuso sexual, negados atendimento médico adequado e alimentados com comida e água contaminadas. As denúncias foram corroboradas por vídeos enviados pelas vítimas com imagens de escoriações e cicatrizes. Porém, as imagens não podem ser confirmadas de forma independente, o que levanta dúvidas sobre as condições em que os presos fizeram essas afirmações. Os venezuelanos acusados de pertencer ao grupo criminoso Tren de Aragua foram deportados dos Estados Unidos para El Salvador em março de 2025, sob o controverso uso da Alien Enemies Act de 1798, durante o governo Trump. Desde então, foram mantidos no CECOT por até quatro meses e, desde 18 de julho, já haviam retornado à Venezuela como parte de uma troca de prisioneiros que envolveu a liberação de 10 cidadãos norte-americanos detidos no país caribenho. A investigação mira diretamente Nayib Armando Bukele, o ministro da Justiça e Segurança Pública Gustavo Villatoro e Osiris Luna Meza, diretor geral do Sistema Penitenciário. Saab afirmou que os crimes investigados incluem tortura, tratamento cruel, desumano ou degradante, desaparecimento forçado, privação arbitrária de liberdade e associação para delinquir. O governo venezuelano alegou que tais detenções configuram crimes contra a humanidade, baseando-se no Estatuto de Roma da Corte Penal Internacional. Ele denunciou que a motivação dos presos teria sido puramente xenofóbica e discriminatória, pois muitos não tinham antecedentes criminais e não receberam denúncia formal nem julgamento. Organizações de direitos humanos, como Human Rights Watch e Anistia Internacional, também criticaram duramente o caso, descrevendo o estado de detenção como precário, alheio ao devido processo legal e comparando-o a uma forma institucionalizada de desaparecimento forçado e punição coletiva baseada em estigmatização nacional. Segundo o governo venezuelano, os detidos já estão recebendo atendimento médico e passando por entrevistas para avaliar danos físicos e psíquicos, como parte do processo de retorno gradual dos cidadãos ao território nacional. Embora o governo Bukele ainda não tenha emitido uma resposta oficial às acusações, a situação agrava ainda mais as tensões diplomáticas entre os dois países, que não mantêm relações formais desde 2019. A proposta de troca humanitária de 252 venezuelanos por presos norte-americanos mantidos por Caracas havia sido apresentada em abril, mas até então não havia resposta do Executivo de Maduro. O caso se torna emblemático não apenas por apontar graves violações de direitos humanos no contexto de políticas de segurança e migração, mas também por colocar em xeque práticas de cooperação internacional em processos de deportação e contenção de fluxo migratório. Fontes: CNN, Reuters, Anistia Internacional, El Español
“Pablo Escobar” equatoriano: Fito é extraditado para os EUA, onde será julgado

O governo do Equador extraditou José Adolfo Macías Villamar, conhecido como “Fito”, para os Estados Unidos no domingo (20), tornando-se o primeiro cidadão equatoriano enviado diretamente ao país norte-americano após a abertura legal da medida em 2024. Macías lidera a organização criminosa Los Choneros, considerada a mais poderosa do Equador, com extensas operações de tráfico internacional de cocaína, contrabando de armas e conexão com cartéis mexicanos e europeus. Enfrenta uma acusação de sete crimes federais em Nova York — incluindo tráfico de drogas e armas — podendo pegar até 50 anos de prisão nos EUA. Fito foi recapturado em 25 de junho de 2025, em um bunker subterrâneo sob uma casa de luxo na cidade portuária de Manta, região que serve como base de operações do grupo. Ele cumpria sentença de 34 anos em La Roca, prisão de segurança máxima em Guayaquil, de onde havia fugido em janeiro de 2024, desencadeando uma onda de violência e instabilidade no país. Sua extradição foi aceita de forma voluntária durante audiência por videoconferência no dia 11 de julho, diante do juiz da Corte Nacional de Justiça equatoriana. O processo avançou rapidamente em função da decisão e do apoio institucional do presidente Daniel Noboa, que promoveu um referendo em abril de 2024, legalizando a entrega de nacionais ao exterior como estratégia de combate ao crime organizado. A operação de entrega contou com forte escolta de policiais e militares. Embora os governos do Equador e dos EUA ainda não tenham emitido comunicado oficial sobre a transferência, registros de voo indicam que um avião do governo norte-americano decolou de Guayaquil após as 14h locais de domingo para transportar Fito aos EUA. Em declaração à imprensa, o advogado de defesa Alexei Schacht informou que Macías se declarará “não culpado” quando for levado à Corte Federal do Distrito Leste de Nova York. Ele permanecerá detido em prisão a ser definida pelas autoridades norte-americanas. A extradição de Fito marca um momento decisivo na estratégia de segurança do Equador, destacando-se como um passo inédito na colaboração bilateral contra organizações transnacionais do crime. A ação sinaliza maior pressão judicial sobre facções dominantes e abre precedente para futuras extradições.
Estrategista de Trump aponta Moraes como “Dono do Brasil”

O estrategista político americano Jason Miller, conhecido por sua atuação nas campanhas de Donald Trump e por seu apoio a Jair Bolsonaro, voltou a atacar o Supremo Tribunal Federal (STF) em duas postagens no X na noite de 21 de julho. As mensagens, publicadas às 22:42 e 23:16, miraram os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, acusando-os de perseguição política e hipocrisia em relação à liberdade de expressão no Brasil. Na primeira postagem, Miller criticou diretamente Moraes, afirmando que ele “assume todo o crédito pela perseguição política contra o presidente Jair Bolsonaro” e sugeriu que o ministro age como a principal autoridade do país, acima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Moraes quer que o mundo saiba que ELE governa o Brasil, não Lula” – Jason Miller Na segunda postagem, Miller direcionou suas críticas ao que chamou de “principal apoiador de Moraes no STF”, em resposta a uma postagem de Barroso. Ele acusou o ministro de hipocrisia, alegando que “antes criticava censura e comportamento ditatorial, mas agora lidera esses esforços”. A menção está ligada ao papel de Barroso em decisões do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre moderação de conteúdo online. As postagens de Miller surgem em um momento de tensão entre o STF e o ex-presidente Bolsonaro, especialmente após medidas cautelares que o proibiram de usar redes sociais e a recente revogação de vistos americanos para Moraes e outros, anunciada pelo senador americano Marco Rubio em 18 de julho. Miller, que já foi detido brevemente no Brasil em 2021 por ordem de Moraes, é uma figura proeminente no movimento conservador. As críticas de Miller geraram reações mistas no X, com apoiadores de Bolsonaro ecoando suas acusações e críticos do ex-presidente defendendo as ações do STF como necessárias para combater a desinformação. Até o momento, nem Moraes nem Barroso comentaram as postagens. O episódio reforça a polarização em torno do papel do Judiciário brasileiro e sua relação com figuras políticas internacionais. Fonte: X, XII
O governo Obama fabricou e politizou informações de inteligência sobre interferência da Rússia nas eleições de 2016. O “Russiagate” foi uma farsa

Nos últimos anos, a narrativa de que a Rússia interferiu nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016, o famigerado “Russiagate“, tem sido um dos temas mais controversos da política americana. Documentos desclassificados e declarações recentes da Diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, reacenderam o debate, sugerindo que o governo de Barack Obama, com o envolvimento de figuras como o ex-Diretor da CIA John Brennan e o ex-Diretor de Inteligência Nacional, James Clapper, pode ter fabricado e politizado informações de inteligência para sustentar essa narrativa. Este artigo mergulha nas acusações de que Obama sabia, a história da interferência russa, confronta os argumentos contrários e destrincha o contexto para revelar se a narrativa do “Russiagate” foi uma farsa ou se teria alguma base real. O Contexto das Eleições de 2016 As eleições presidenciais de 2016 foram marcadas por uma polarização intensa e eventos inesperados. A vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton desafiou as previsões das pesquisas e gerou especulações sobre fatores externos que poderiam ter influenciado o resultado. Entre esses fatores, a suposta interferência russa ganhou destaque, com relatos de hackers acessando e-mails do Comitê Nacional Democrata (DNC) e campanhas de desinformação em redes sociais. Essas acusações foram amplificadas pela administração Obama, que, em outubro de 2016, viu o Departamento de Segurança Interna e o Diretório de Inteligência Nacional emitirem uma declaração conjunta acusando a Rússia de ciberataques. Após a eleição, em dezembro de 2016, Obama ordenou sanções contra a Rússia, incluindo a expulsão de diplomatas e o fechamento de instalações diplomáticas russas nos EUA, como resposta às supostas atividades de interferência. As alegações de Tulsi Gabbard Em julho de 2025, Tulsi Gabbard trouxe à tona documentos desclassificados que questionam a narrativa oficial. Segundo ela, a administração Obama, com a participação ativa de John Brennan, então Diretor da CIA, e James Clapper, então Diretor de Inteligência Nacional, teria “fabricado e politizado inteligência” para sugerir que a Rússia tentou influenciar a eleição de 2016 em favor de Trump. Gabbard alega que avaliações iniciais da comunidade de inteligência, incluindo um briefing presidencial de 8 de dezembro de 2016, indicavam que “atores russos e criminosos não impactaram os resultados das eleições americanas recentes por meio de atividades cibernéticas maliciosas contra a infraestrutura eleitoral“. No entanto, em janeiro de 2017, a Avaliação da Comunidade de Inteligência (ICA) contradisse essas conclusões, afirmando que Vladimir Putin dirigiu esforços para ajudar Trump a derrotar Clinton, baseando-se, em parte, no controverso dossiê Steele. Gabbard acusa Brennan e Clapper de desempenharem papéis centrais na manipulação dessas informações, pressionando analistas a alinharem o relatório com uma narrativa politizada que servisse aos interesses democratas após a derrota de Hillary Clinton. Ela aponta que a inclusão do dossiê Steele, um documento não verificado e financiado por aliados de Clinton, foi um movimento deliberado para reforçar a narrativa de conluio entre Trump e a Rússia, apesar de objeções internas de analistas de inteligência. Respostas e contra-argumentos As alegações de Gabbard foram recebidas com críticas de figuras democratas e alguns republicanos. O deputado Jim Himes, do Comitê de Inteligência da Câmara, classificou as acusações como “infundadas”, destacando que investigações bipartidárias, como a do Comitê de Inteligência do Senado, confirmaram as conclusões da ICA de 2017. O senador Mark Warner, também do Comitê de Inteligência do Senado, argumentou que o relatório de Gabbard confunde tentativas russas de manipular a infraestrutura eleitoral (que não tiveram sucesso) com operações de influência, como campanhas de desinformação em redes sociais, que buscavam moldar a opinião pública em favor de Trump. Relatórios anteriores, incluindo os do Comitê de Inteligência do Senado e a investigação de Robert Mueller, afirmam que a Rússia conduziu uma campanha de influência em 2016, envolvendo a divulgação de e-mails roubados do DNC e a disseminação de desinformação. Embora a investigação de Mueller não tenha encontrado evidências de conluio criminoso entre a campanha de Trump e a Rússia, teve como conclusão que a interferência russa foi “sistemática e abrangente”. O papel do Dossiê Steele O dossiê Steele, compilado pelo ex-oficial de inteligência britânico Christopher Steele, é um ponto central nas alegações de Gabbard. O documento, que alegava que a Rússia possuía material comprometedor sobre Trump, foi incluído na ICA de 2017, apesar de objeções de analistas que consideravam suas informações não verificadas. Críticos, incluindo Gabbard, argumentam que o dossiê era uma peça de inteligência politicamente motivada, financiada por aliados de Hillary Clinton, e sua inclusão comprometeu a credibilidade do relatório. Documentos desclassificados sugerem que Brennan e Clapper, cientes das limitações do dossiê, pressionaram por sua inclusão para reforçar a narrativa de interferência russa. Motivações A administração Obama enfrentou um dilema em 2016. Havia preocupações legítimas sobre ciberataques russos contra o DNC e tentativas de acessar sistemas eleitorais estaduais. No entanto, a Casa Branca hesitou em agir publicamente antes da eleição, temendo acusações de favorecer Clinton, especialmente em um contexto em que Trump alegava que o processo eleitoral seria manipulado. Essa hesitação foi criticada por ex-funcionários, que acreditam que Obama deveria ter tomado medidas mais decisivas. Além disso, uma revisão interna da CIA em 2025 apontou “anomalias processuais” na elaboração da ICA, incluindo a exclusão do Conselho Nacional de Inteligência e o envolvimento direto. Obama sabia? Uma questão crucial levantada pelas alegações de Gabbard é até que ponto Barack Obama estava ciente da fragilidade das evidências que sustentavam a narrativa do “Russiagate”. Documentos desclassificados, incluindo comunicações internas da comunidade de inteligência, sugerem que Obama foi informado, ainda em 2016, de que as evidências de interferência russa direta na infraestrutura eleitoral eram inconclusivas. O briefing presidencial de 8 de dezembro de 2016, citado por Gabbard, indicava que os ciberataques russos não alteraram os resultados eleitorais, uma avaliação que contrastava com a narrativa pública promovida após a eleição. Apesar disso, Obama endossou sanções contra a Rússia e permitiu que a ICA de 2017, com a inclusão do dossiê Steele, fosse publicada, reforçando a percepção de uma conspiração russa para eleger Trump. Críticos argumentam que Obama, pressionado por aliados democratas e pela necessidade de justificar a derrota de Clinton, optou
Ucrânia propõe nova rodada de negociações à Rússia

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou neste fim de semana que a Ucrânia propôs à Rússia uma nova rodada de negociações de paz, com foco na retomada do diálogo diplomático e na obtenção de um cessar-fogo duradouro. Segundo Zelensky, a proposta visa estabelecer um ambiente mínimo de segurança para negociações mais amplas, o que passa por um cessar-fogo de pelo menos 30 dias como condição preliminar. A iniciativa foi revelada durante uma coletiva de imprensa transmitida nacionalmente em Kyiv, e ocorre em meio a uma escalada da violência tanto no leste da Ucrânia quanto em regiões da Rússia afetadas por ataques ucranianos com drones. Zelensky afirmou que o convite foi feito formalmente ao Kremlin, e que o momento é oportuno para “restaurar algum grau de racionalidade no meio da guerra”. A última tentativa de negociação entre os dois países, realizada em Istambul, havia resultado apenas em trocas de prisioneiros, sem avanços concretos em relação a um armistício ou retirada de tropas. A nova proposta, segundo o governo ucraniano, inclui a realização de um encontro entre representantes de alto escalão e até mesmo um possível encontro direto entre Zelensky e Vladimir Putin, o que marcaria uma reaproximação inédita desde os primeiros meses da invasão russa iniciada em fevereiro de 2022. Do lado russo, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou que a proposta foi recebida e está em análise. No entanto, a Rússia reiterou suas exigências básicas para qualquer avanço nas negociações: o reconhecimento do controle russo sobre os territórios já ocupados, a garantia de neutralidade da Ucrânia em relação à OTAN e o fim das sanções ocidentais. Moscou também afirmou que “não aceitará ultimatos”, em resposta à pressão exercida pelos Estados Unidos, que vêm defendendo um novo pacote de sanções caso a Rússia não aceite um cessar-fogo até o fim de agosto. O presidente Donald Trump, que reassumiu o cargo em janeiro, impôs um prazo de 50 dias para a redução dos combates, ameaçando tarifas punitivas a países que mantiverem relações comerciais com Moscou se a guerra não for interrompida. Internamente, a Ucrânia tem intensificado seus ataques retaliatórios com drones, especialmente contra alvos em território russo. Na última semana, mais de 230 drones ucranianos atingiram regiões próximas a Moscou, forçando o fechamento temporário de aeroportos e gerando alarme entre a população civil russa. Em resposta, a Rússia aumentou os bombardeios nas regiões de Donetsk, Kharkiv e Sumy, mirando infraestrutura energética e zonas residenciais, o que agrava ainda mais o cenário humanitário no país. A comunidade internacional acompanha com atenção os desdobramentos. Países como França, Alemanha, Turquia e Vaticano já se colocaram à disposição para atuar como mediadores, enquanto a União Europeia busca manter um papel central nas negociações, contrariando o desejo dos Estados Unidos de concentrar o processo sob sua liderança. O grupo composto por França, Alemanha e Reino Unido reforçou que a Europa não deve ser marginalizada neste momento crítico. A nova proposta de Zelensky é vista por analistas como uma tentativa estratégica de reposicionar a Ucrânia como parte ativa na busca pela paz, após meses de impasse e desgaste militar. Ao propor um cessar-fogo e estabelecer como prioritária a proteção da população civil, o presidente ucraniano busca criar condições mínimas para uma negociação legítima. No entanto, sem garantias firmes de que Moscou aceitará interromper os ataques, o processo pode repetir o fracasso dos Acordos de Minsk, que, embora firmados, nunca foram verdadeiramente respeitados. Fontes: Reuters, Politico, New York Post
Massacre em Suweida: Mais de 1.000 mortos em uma semana de terror na Síria

Aprovada como um passo rumo à estabilidade, a trégua anunciada ontem à noite pelo presidente interino sírio Ahmed al-Sharaa tenta conter a escalada de violência entre milícias drusas e tribos beduínas sunitas aliadas a forças do novo governo. Isso resultou em mais de 1.000 mortos em cerca de uma semana. Segundo o Syrian Observatory for Human Rights (SOHR), os mortos incluem cerca de 336 combatentes drusos e 262 civis drusos, dos quais ao menos 182 teriam sido executados sumariamente por forças do governo sírio. Do lado contrário, morreram 342 agentes de segurança do governo e cerca de 21 combatentes beduínos, incluindo três civis, que também teriam sido executados por drusos. Além disso, 15 militares sírios morreram em ataques aéreos israelenses. A onda de violência começou em torno de 13 de julho, com o sequestro de um comerciante druso por beduínos sunitas. O incidente desencadeou uma série de rixas, troca de sequestros e confrontos armados em diversas localidades de Suweida. Os conflitos migraram para dentro da cidade, e o número de vítimas rapidamente disparou. Uma trégua foi anunciada ontem (19), com mediação dos EUA e estados árabes. O Exército sírio chegou a se retirar da região, e líderes como Ahmed al‑Sharaa prometeram restaurar a ordem na região e conter as perseguições a minorias no país. Relatos apontam que forças do governo sírio teriam se aliado tacitamente aos combatentes beduínos, cometendo abusos e execuções extrajudiciais contra drusos. Em contrapartida, milícias drusas também são acusadas de ataques contra aldeias beduínas e execuções de civis e combatentes rendidos. O chefe espiritual druso Sheikh Hikmat al‑Hijri denunciou massacres e convocou para uma investigação internacional, afirmando que a confiança nas autoridades emergentes do país já se esgotou. O custo humano da onda de violência é devastador. Aproximadamente 80.000 pessoas foram deslocadas desde o início dos confrontos, das quais 20.000 somente em 17 de julho. A infraestrutura local entrou em colapso: falta de água, eletricidade, telecomunicações e combustível tornaram-se rotina. Hospitais superlotados passaram a armazenar corpos nos corredores e até mesmo nas ruas, enquanto equipamentos médicos deixaram de funcionar por falta de energia. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha classificou a situação como crítica. Israel entrou na crise, realizando ataques aéreos contra alvos militares sírios na província de Suweida e em Damasco, justificando as ações como proteção à minoria drusa na Síria. Os EUA, por sua vez, exigiram desarmamento e o cumprimento da trégua, apoiando a administração de Ahmed al‑Sharaa, que também é apoiada por potências do Oriente Médio, como Arábia Saudita e Catar. Entretanto, milícias drusas rechaçaram a presença armada externa e afirmaram que somente aceitariam desmilitarização em um cenário de reconciliação nacional — ainda utópico num país fragmentado por conflitos sectários. Esta ofensiva marca o maior surto de violência sectária na província de Suweida desde a queda de Bashar al‑Assad, e representa um teste crítico para o governo interino de Ahmed al‑Sharaa. A legitimidade do Estado sírio está em xeque, à medida que minorias como os drusos e alauítas questionam sua proteção dentro da nova ordem. A escalada das mortes, os relatos de massacres e a falha da trégua expõem uma Síria ainda longe da pacificação nacional, onde a reconciliação e o restabelecimento da ordem devem competir com ódios sectários, rivalidades locais e influências externas. Fontes: Middle East Eye, The Times of Israel, Al Mayadeen, Financial Times
Hezbollah bate de frente com os EUA e diz que só larga armas quando Israel recuar

O líder do Hezbollah, Naim Qassem, declarou que o grupo se recusará a entregar seu arsenal, rejeitando publicamente uma proposta dos Estados Unidos que condicionava o desarmamento à retirada de Israel do sul do Líbano. Em vídeo divulgado por mídias do Hezbollah, Qassem afirmou: “não vamos nos render ou entregar nossas armas ao israel; Israel não tomará nossas armas”. A proposta dos EUA, apresentada pelo enviado especial Thomas Barrack ao governo libanês no mês passado, oferecia apoio econômico e suspensão dos ataques israelenses em troca do desarmamento completo do Hezbollah até o final de 2025. O governo do Líbano respondeu com um documento de sete páginas, hipótese considerada por Barrack como “espetacular” e digna de “satisfação”. Já o primeiro-ministro libanês Nawaf Salam disse que o plano poderia ser viável se vinculado à retirada israelense do território libanês e ao cumprimento do cessar-fogo estabelecido em novembro de 2024. Desde o fim da guerra devastadora com Israel, entre 2023 e 2024, o Hezbollah vem sofrendo perdas significativas em lideranças e capacidade militar. O grupo iniciou uma revisão estratégica interna para ponderar uma possível redução de seu arsenal — embora não seu desmantelamento total —, visando manter apenas armas leves e mísseis antitanque para defesa, principalmente enquanto Israel mantiver ocupação militar e ataques a alvos libaneses. Fontes consultadas afirmam que o Hezbollah avalia entregar parte de seus estoques de mísseis e drones se Israel encerrar seus ataques e se retirar do sul do país. Contudo, mantém firme a decisão de manter um componente defensivo significativo, especialmente diante do avanço de grupos jihadistas sunitas na Síria e do sentimento popular entre sua base eleitoral de que o desarmamento seria suicídio político. Qassem posicionou-se mesmo antes ao rejeitar o desarmamento sob a justificativa de que seria “um presente para Israel” e justificou que a entrega de armas sem a retirada israelense equivale a ceder aos interesses de ocupação. Ele destacou que o Hezbollah não aceitará a proposta dos EUA nem a normalização com Israel até que as ameaças externas sejam removidas de forma substancial. A proposta dos EUA renovou o debate sobre a soberania libanesa e a consolidação do monopólio de armas pelo Estado, uma meta histórica desde os acordos de Taif em 1989. O presidente Joseph Aoun e o primeiro-ministro Salam reiteraram a intenção de exercer controle estatal sobre todas as armas dentro do país, porém reconhecem a recusa resistente do Hezbollah, que ainda detém força política expressiva. Apesar da pressão tanto interna quanto internacional, o Hezbollah insiste que sua existência armada é essencial contra a ocupação israelense, enquanto o governo libanês tenta equilibrar reconstrução, segurança e manutenção de sua autoridade legítima. Fontes: Al Jazeera, Reuters, Politico
Quem mandou matar Miguel Uribe? Sexto preso revela plano contra líderes da direita na Colômbia

A Procuradoria da Colômbia confirmou nesta sexta-feira a prisão de Cristian Camilo González Ardila, o sexto suspeito diretamente envolvido no brutal atentado contra o senador e pré-candidato presidencial Miguel Uribe Turbay, ocorrido no dia 7 de junho em Bogotá. Com um passado criminal marcado por tráfico de armas e roubos, González é acusado de ter dado suporte à fuga do autor material dos disparos: um adolescente de 15 anos que foi apreendido momentos após a tentativa de assassinato. A detenção de González representa um avanço crucial nas investigações de um caso que abalou profundamente o país e colocou a segurança política no centro do debate nacional. Segundo a Fiscalía, ele teria ajudado a remover o menor do local do crime, em um esquema cuidadosamente planejado, o que configura participação ativa em crime de tentativa de homicídio agravado, porte ilegal de armas e associação criminosa. Durante audiência realizada nesta sexta-feira, González se declarou inocente e não aceitou as acusações contra ele. Seu advogado alegou que ele “não tinha conhecimento pleno da gravidade da ação que se desenrolaria”, uma versão rejeitada pela promotoria, que sustentou a existência de provas materiais e testemunhais que o colocam no epicentro da operação criminosa. González detalhou a existência de um plano para atacar diversas figuras políticas importantes, principalmente da direita, em várias regiões da Colômbia. Durante o interrogatório, ele disse: “Se eu soubesse que era Miguel Uribe, teria cobrado mais”. O atentado que reacendeu fantasmas do passado Na manhã de 7 de junho, Miguel Uribe Turbay fazia um discurso em um ato de campanha no bairro Modelia, zona ocidental da capital colombiana, quando foi atingido por três tiros à queima-roupa: dois na cabeça e um na perna. A cena, gravada por câmeras de pessoas presentes, mostra o momento exato em que um jovem armado se aproxima e abre fogo contra o senador, em pleno espaço público. O ataque foi descrito por investigadores como “meticulosamente planejado”e “com intenção letal inequívoca”. Uribe Turbay, neto do ex-presidente Julio César Turbay e um dos principais nomes da oposição ao governo Gustavo Petro, foi levado às pressas para a Clínica Santa Fé. Sobreviveu após três cirurgias neurocirúrgicas de alto risco, mas ainda permanece internado com prognóstico neurológico reservado. Familiares informaram que ele segue sob sedação e respira com auxílio de aparelhos. Além de González e do menor de idade autor do ataque, outros quatro adultos foram presos nas últimas semanas. Entre eles está Elder José Arteaga Hernández, conhecido como “Costeño”, considerado o cérebro por trás da operação. Segundo fontes da inteligência policial, Costeño teria recebido ordens de fora do país e comandado a ação a partir de um conjunto de instruções logísticas que incluíam armas, rotas de fuga e dispersão dos envolvidos. A prisão de González reacende as dúvidas sobre as motivações reais do atentado. Apesar da ausência, até o momento, de reivindicação oficial por parte de grupos armados, o uso de um menor e a sofisticação do plano apontam para um modus operandi típico de organizações criminosas ou paramilitares. Autoridades não descartam que o atentado tenha sido encomendado com fins políticos ou como recado para desestabilizar o processo eleitoral de 2026. Fontes: DW, CNN, Reuters
Patrimônio saqueado: Turquia reavê estátua romana contrabandeada por magnata dos EUA

Uma estátua que especialistas acreditam representar o imperador e filósofo romano Marco Aurélio será repatriada à Turquia após anos de batalhas judiciais. A figura faz parte do acervo do Museu de Arte de Cleveland, no estado americano de Ohio, desde 1986. “A história em seu devido lugar é linda, e nós vamos preservá-la“, comemorou o ministro da Cultura e Turismo turco, Mehmet Nuri Ersoy. Um voo fretado da Turkish Airlines levará a obra de volta a seu país nos próximos dias. Datada de aproximadamente 50 a 250 d.c., a peça mede 1,93m e tem sua identidade contestada por pesquisadores. Acadêmicos concordam tratar-se de uma representação romana, mas o fato de a estátua ter tido sua cabeça danificada dificulta a efetiva indicação do retratado. O próprio Museu demonstra incerteza, afirmando em nota recente que “sem cabeça ou inscrição, a identidade da estátua segue incerta“. O próprio recibo de aquisição – cercado de controvérsias – descrevia a estátua como “provavelmente Marco Aurélio“. Investigadores acreditam que a imagem fazia parte do sítio arqueológico de Sebasteion, na atual cidade de Burdur, no sudoeste da Turquia. O santuário, que abrigava diversas estátuas de dignatários romanos, teria sido soterrado por um terremoto e, então, saqueado por habitantes locais. Posteriormente, uma rede de tráfico internacional de obras de arte a adquiriu. Após passar por restaurações ilegais na Suiça e no Reino Unido, foi vendida a colecionadores, chegando, finalmente, aos Estados Unidos, onde o Museu de Arte Cleveland a comprou por US$ 1,86 milhão. Estima-se que, neste momento, seu valor de mercado já supere os US$ 20 milhões. Entre os supostos participantes da quadrilha envolvida em sua aquisição estaria Robert Hetch, milionário americano acusado repetidas vezes de tráfico de antiguidades. Entre os casos mais notórios, Hetch teria contrabandeado um vaso grego, posteriormente vendido por US$ 1 milhão de dólares, além de traficar obras de arte da Itália e moedas históricas turcas. Marco Aurélio liderou o Império Romano por aproximadamente 20 anos, entre 161 d.c. e 180 d.c. Ele foi um dos “Cinco Bons Imperadores“, período marcado por estabilidade, em que Roma atingiu seu ápice territorial. Sua morte marcou um ponto de virada no império, com conflitos e uma guerra civil eclodindo poucos anos depois. O retorno de obras de arte a seus países de origem tem ganhando força nos últimos anos, com instituições de renome devolvendo peças históricas supostamente adquiridas de modo ilegal. Em Nova Iorque, diversos museus concordaram em entregar 4.600 artefatos a seus donos e locais originais, em casos que envolvem de colonialismo a peças roubadas durante o Nazismo. No início deste ano, em caso celebrado como um marco, a Holanda retornou à Nigéria os Bronzes de Benin, que teriam sido expropriados durante a ocupação britânica da África. Fontes: AA, Smithsonian Magazine, New York Times, Al Jazeera
Comissão Europeia apresenta orçamento com 101% de gastos e vira piada em Bruxelas

A proposta de orçamento de longo prazo apresentada pela Comissão Europeia nesta quarta-feira (16) rapidamente se tornou alvo de chacota em Bruxelas — e não sem motivo. Com um gráfico que somava 101% de alocação de recursos, um evento repleto de confusão e atrasos e ausência total de articulação política, o novo Quadro Financeiro Plurianual (MFF) foi descrito como um “show de horrores” por membros do próprio bloco. A reunião que deveria marcar o lançamento de um novo ciclo de investimentos da União Europeia — com cifras próximas a € 2 trilhões — resultou em críticas unânimes, inclusive de aliados próximos da presidente da Comissão, Ursula von der Leyen. Embaixadores participaram de reuniões sem ter acesso aos documentos, comissários foram informados pela imprensa e não por canais oficiais, e os próprios representantes da Comissão chegaram ao evento com quatro horas de atraso. “Eu não faço a menor ideia do que está acontecendo”, desabafou o eurodeputado Siegfried Mureșan, do mesmo partido de von der Leyen (EPP). Reuniões precisaram ser canceladas ao longo do dia por pura falta de organização. Um plano bilionário que não agradou ninguém Segundo o plano, € 1,82 trilhão seriam destinados a programas estratégicos da União, enquanto € 165 bilhões iriam para o pagamento de dívidas assumidas durante a pandemia da COVID-19. As maiores fatias seriam para programas nacionais e regionais (€ 895 bilhões) e para fortalecer a competitividade econômica (€ 589 bilhões) — este último com aumento de quase 50% em relação ao ciclo anterior. Von der Leyen classificou o plano como o “mais ambicioso, estratégico e transparente” já elaborado pela UE. Mas seu discurso otimista não resistiu ao bombardeio de críticas que veio a seguir. Agricultores em pé de guerra Um dos principais focos de indignação veio do setor agrícola. A proposta prevê um corte de mais de € 80 bilhões na Política Agrícola Comum, reduzindo os subsídios de € 386 bilhões para € 300 bilhões. A resposta foi imediata: protestos foram convocados, e líderes do setor acusaram a Comissão de “declarar guerra” aos agricultores. “Estão jogando fora 70 anos de história“, afirmou Massimiliano Giansanti, principal representante do setor agrícola. “Estamos prontos para reagir.“ Do lado político, Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, criticou duramente a destinação de recursos para a Ucrânia, acusando Bruxelas de abandonar os produtores europeus. Já Alemanha e Holanda rejeitaram o crescimento do orçamento e pediram mais eficiência no uso dos recursos. A batalha por recursos está apenas começando Apesar das promessas da Comissão de que a agricultura continuará protegida, a falta de confiança entre os estados-membros ficou evidente. O plano agora passará por uma longa rodada de negociações com os governos nacionais, que deve durar até dois anos. Somente após isso o MFF poderá entrar em vigor — com validade entre 2028 e 2034. No entanto, a desorganização da apresentação e a má recepção política colocaram em xeque não apenas o conteúdo do orçamento, mas também a liderança de Ursula von der Leyen à frente da Comissão. O episódio serviu como mais um sintoma da crescente instabilidade política dentro da União Europeia — e um sinal de alerta para o futuro do bloco. Fontes: Euractiv, Politico Europe, EU News