EUA e Irã mantêm conversas secretas sobre programa nuclear

Em meio à recente ofensiva militar contra três instalações nucleares iranianas, os Estados Unidos seguem engajados em conversas com Teerã sobre seu programa nuclear. Segundo a CNN, o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, e autoridades iranianas têm mantido diálogos secretos, inclusive após o bombardeio ordenado pelo presidente Trump, sinalizando disposição para retornar à mesa de negociações. De acordo com quatro fontes consultadas pela emissora, os EUA ofereceram uma proposta abrangente: entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões em investimentos para um programa nuclear civil sem enriquecimento, e potencial desbloqueio de US$ 6 bilhões em ativos iranianos congelados. A proposta inclui também que aliados do Golfo possam financiar a reconstrução da usina de Fordow, convertida, sob supervisão internacional, em uma instalação puramente civil. Essa postura pragmática ocorre mesmo após Trump afirmar na cúpula da OTAN que “um novo acordo nuclear talvez não seja necessário“. Ainda assim, ele confirmou que conversas estão sendo agendadas para a próxima semana, sem data definida. Por outro lado, o Irã resiste às negociações. O Ministro das Relações Exteriores Abbas Araghchi afirmou que ainda não há “nenhum acordo, promessa ou data“ para retomar o diálogo e que os ataques americanos complicaram significativamente qualquer retomada das conversações. Fontes da ONU e diplomatas europeus relatam que, apesar das dificuldades, o cenário permanece volátil: o cessar‑fogo entre Israel e Irã, intermediado pelos EUA, reabriu canais com europeus, que têm conduzido conversas paralelas com Teerã em Genebra, embora sem avanços significativos até o momento. O impacto geopolítico é evidente. A Europa, representada pelas nações do E-3 (França, Alemanha e Reino Unido), vem pressionando para que o Irã se comprometa com a suspensão total do enriquecimento de urânio, como base para qualquer retorno aos tratados nucleares. O enviado britânico ao Conselho de Segurança da ONU alertou que, se não houver progresso até o verão, sanções da ONU poderão ser impostas ao país. A conjuntura atual é tensa: os EUA e Israel realizaram ataques militares que, embora tenham causado “danos significativos” a instalações como Fordow, Natanz e Isfahan, não eliminaram o potencial nuclear do Irã, e segundo relatórios, as centrifugas permanecem operacionais e parte do urânio acumulado foi realocado. Mesmo assim, o presidente Trump defendeu no Fórum da OTAN que a reconstrução civil supervisionada é viável, condicionando a retomada das negociações ao fim do enriquecimento de urânio e à segurança regional. O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, alertou que a única forma de avaliar o real estado das instalações é por meio de inspeções diretas. Ele lembrou que, sem o acesso dos inspetores, não é possível confirmar se o material foi removido ou se o programa nuclear se restabelece. Analistas de segurança consideram que os EUA tentam equilibrar a dissuasão militar com uma reconexão diplomática, usando incentivos econômicos como contrapartida. Mas advertem: sem garantias jurídicas que impeçam o Irã de retomar o enriquecimento, qualquer acordo será apenas temporário. A ambiguidade prevalece também porque Trump enfrenta pressões internas, membros do Partido Republicano exigem garantias de proibição total do programa nuclear, enquanto setores do movimento “America First” preferem evitar envolvimento militar prolongado no Oriente Médio. Embora os passos sejam cautelosos, a abertura de canais diplomáticos paralelos aos ataques marca uma nova fase nesta crise: os EUA buscam converter as tensões e os ataques em alavancas para um acordo mais estável, ainda que o Irã se mantenha reticente. O futuro das negociações dependerá tanto da capacidade norte-americana de oferecer garantias credíveis quanto da disposição iraniana de aceitar limitações reais ao seu programa nuclear. Fontes: CNN, The Daily Beast

Irã pediu que Hezbollah não atacasse Israel

Apesar da escalada militar entre Irã e Israel nas últimas semanas, o grupo libanês Hezbollah permaneceu surpreendentemente inativo, sustentado por uma combinação de fatores domésticos, regionais e militares. Fontes dos Estados Unidos apontam que uma mistura de limitações internas e advertências externas resultou na decisão de evitar o envolvimento direto na guerra. Hezbollah, fundado nos anos 1980 com apoio dos Guardas Revolucionários do Irã, consolidou-se como força militar e política dominante no Líbano, frequentemente descrita como um “Estado dentro do Estado”. No entanto, após o conflito prolongado com Israel em 2024, o grupo sofreu perdas severas, incluindo a destruição de infraestrutura, eliminação de líderes e enfraquecimento de comando. Segundo um alto oficial norte-americano, o Hezbollah “recebeu ordens claras de Teerã para não entrar na briga, evitando uma resposta militar que aceleraria o risco de retaliação israelense e ameaçaria sua capacidade remanescente”. O discurso retórico em apoio ao Irã foi intenso, mas restrito a declarações públicas, sem ação militar real no sul do Líbano. Israel bombardeou posições do Hezbollah Mesmo com o cessar-fogo entre Israel e Hezbollah em vigor, o sul do Líbano continua sendo bombardeado pelas Forças de Defesa de Israel. No ataque mais recente realizado na manhã de hoje (27), as IDF visaram redes de túneis e infraestrutura do grupo no entorno da cidade de Nabatieh. Uma pessoa foi morta e 11 ficaram feridas após os ataques atingirem um edifício na cidade. Israel não divulgou se esse ataque visava algum alvo específico.  Internamente, a milícia enfrenta restrições significativas. O governo libanês, com apoio americano e francês, exige agora o monopólio do uso de armas dentro das fronteiras nacionais. O Exército do Líbano (LAF) removeu gradualmente armas e posições do Hezbollah do sul do país, com cerca de 80% das metas de desarmamento já alcançadas sob supervisão militar e inteligência israelense. Hezbollah está enfraquecido O apoio da própria base política e social do Hezbollah está enfraquecido. A devastação causada pelo conflito de 2024 aumentou a desilusão entre seus principais apoiadores xiitas, que agora exigem prioridade na reconstrução civil, não em novos confrontos militares. Lideranças políticas, como o presidente Joseph Aoun e o premiê Nawaf Salam, reforçam a necessidade de neutralidade para evitar uma queda ainda maior no Líbano, abalado por colapso estatal, economia em ruínas e crise humanitária. Até o momento, a postura cautelosa do Hezbollah tem sido reforçada por coalizões internacionais focadas em limitar o envolvimento libanês no conflito. EUA e França encorajaram o grupo a permanecer à margem da escalada, oferecendo ao governo libanês apoio militar se ele assumisse a segurança interna. A situação geopolítica atual coloca o Hezbollah em um ponto de inflexão. Embora mantenha um arsenal significativo de mísseis, inclusive de alcance médio e longo, e a capacidade de projetar poder, a destruição de armas e infraestrutura, a queda de líderes como Hassan Nasrallah e a imposição de limites domésticos tornaram seu retorno ao confronto arriscado. Autopreservação Após o ataque de Hamas a Israel em outubro de 2023, Hezbollah lançou uma segunda frente no Líbano, marcando um prolongado período de combates, destruição e mais de mil mortes. Contudo, ao longo do conflito, tornou-se evidente que o grupo estava fisicamente limitado, especialmente após a morte de lideranças-chave e a perda de uma quantidade substancial de seu arsenal. Hoje, embora retórica, solidariedade simbólica e apoio diplomático ainda façam parte de sua estratégia, o Hezbollah optou por preservar sua capacidade, evitando a devastação de um novo confronto em guerra aberta. Essa postura reflete uma lição aprendida à força: depois de ter ficado quase irreconhecível, a organização prioriza sua sobrevivência em vez de impulsionar nova escalada. Fontes: The National News, Oxford Analytica, ABC

plugins premium WordPress