Tensões regionais: escândalo de espionagem em Itaipu ecoa no cenário internacional e atrai apoio dos EUA ao Paraguai

O escândalo de espionagem envolvendo a barragem binacional de Itaipu, revelado pela imprensa brasileira e detalhado em reportagem publicada pela revista Foreign Policy em 10 de julho de 2025, repercutiu internacionalmente e reacendeu disputas geopolíticas históricas entre Brasil e Paraguai. A crise diplomática ganhou novos contornos ao atrair o apoio explícito de parlamentares norte-americanos ao governo paraguaio, ampliando a pressão sobre Brasília. Segundo a Foreign Policy, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) monitorou ilegalmente as comunicações de ao menos seis autoridades paraguaias envolvidas nas negociações sobre o novo tratado de Itaipu, que substitui o acordo firmado entre as duas ditaduras militares em 1973. A espionagem teria começado ainda no governo Jair Bolsonaro, mas continuou pelos primeiros seis meses do governo Lula — inclusive após o presidente tomar conhecimento do caso, segundo as denúncias. O governo brasileiro nega envolvimento direto e afirma que suspendeu o monitoramento assim que foi informado, prometendo uma investigação interna. No entanto, a explicação não foi suficiente para conter a indignação do presidente do Paraguai, Santiago Peña, que suspendeu as negociações com o Brasil e exigiu uma resposta formal. O chanceler paraguaio, Rubén Ramírez Lezcano, classificou o ato como “violação do direito internacional” e uma “interferência inaceitável nos assuntos internos do Paraguai“. A crise diplomática ganhou dimensão internacional ao ser citada em maio por Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA, durante uma audiência no Senado americano. Rubio elogiou o potencial energético do Paraguai e encorajou investimentos estratégicos em data centers movidos à energia limpa gerada por Itaipu, afirmando que o país tem uma “enorme oportunidade” de se tornar um polo de inteligência artificial na América do Sul. A declaração foi interpretada por diplomatas brasileiros como um gesto claro de apoio de Washington ao Paraguai — especialmente vindo de um governo republicano com o qual Peña mantém laços estreitos. Segundo a Foreign Policy, esse movimento faz parte de uma aproximação coordenada. Em janeiro, Rubio visitou Assunção, e em fevereiro foi recebido novamente pela equipe de Peña, que tem priorizado o relacionamento com o Partido Republicano dos EUA, incluindo no apoio a Israel e no reconhecimento diplomático de Taiwan — posições que diferenciam o Paraguai de seus vizinhos sul-americanos. Analistas apontam que o escândalo reforça a posição do Paraguai no tabuleiro diplomático. Para a a analista de política externa argentina paraguaia, Julieta Heduvan, ouvida pela revista, “há uma vítima e um agressor muito claros” no caso, o que tem gerado simpatia internacional pela causa paraguaia. A exposição global do episódio fortalece a narrativa de um país menor tentando corrigir décadas de assimetrias impostas por uma potência regional. A barragem de Itaipu, construída nos anos 1970, é a maior fonte de energia do Paraguai e fornece cerca de 8% da energia consumida no Brasil. O tratado original obriga o Paraguai a vender seu excedente exclusivamente ao Brasil a preços abaixo do mercado. Desde o fim do pagamento da dívida da construção da barragem, em 2023, Assunção tenta renegociar os termos para obter maior autonomia sobre sua energia — e agora exige, além de novos preços, compensações históricas e reparações por danos ambientais e sociais causados pela obra. A revelação da espionagem ocorre num momento de instabilidade regional. O Mercosul enfrenta divisões internas entre governos de esquerda, como o de Lula e o da Bolívia, e lideranças conservadoras como Javier Milei, da Argentina, e Peña, no Paraguai. A ruptura entre Brasil e Paraguai se intensificou em março, quando o governo brasileiro retirou seu apoio à candidatura do chanceler paraguaio à secretaria-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), agravando o distanciamento diplomático. Com o embaixador paraguaio ainda fora de Brasília e as negociações de Itaipu paralisadas, o caso se tornou um teste para a diplomacia regional. Para especialistas, a continuidade da crise pode afetar não apenas o futuro energético dos dois países, mas também parcerias estratégicas em áreas como segurança, comércio e combate ao narcotráfico. Embora o Brasil siga sendo a principal potência econômica da região, o escândalo deixou claro que a assimetria histórica entre os dois países está sendo desafiada por novas alianças internacionais — e que o Paraguai, mesmo com limitações, soube explorar o momento a seu favor. Como resume Heduvan, “o Paraguai sempre jogou com o tabuleiro inclinado, mas agora conseguiu, pela primeira vez em muito tempo, colocar o Brasil na defensiva“. Fonte: foreignpolicy.com

Europa aposta alto: plano bilionário para reerguer a Ucrânia e frear influência russa

A União Europeia anunciou nesta quinta-feira (10), em Roma, um ambicioso plano bilionário para reconstrução da Ucrânia, reunindo apoio político e financeiro de países-membros, instituições europeias e setor privado para ajudar Kiev a resistir à guerra e preparar sua recuperação pós-conflito. No total, foram comprometidos mais de 10 bilhões de euros, conforme detalhado na quarta Conferência de Recuperação da Ucrânia. A presidente da Comissão Europeia, Ursula  von  der  Leyen, anunciou €2,3 bilhões inicialmente desbloqueados pela UE, capazes de atrair até €10 bilhões adicionais em investimentos públicos e privados para reconstrução de infraestrutura, saúde, energia e negócios. O Fundo Europeu para Reconstrução da Ucrânia, maior fundo de capital privado até hoje dedicado ao país, foi lançado com uma injeção de €220 milhões, com meta de elevar esse investimento para €500 milhões até 2026. A iniciativa faz parte do “Ukraine Facility”, que reúne uma previsão total superior a €50 bilhões para o período 2024‑2027, combinando empréstimos e subsídios. Participantes do evento incluíram o presidente ucraniano Volodymyr  Zelensky, que classificou os ataques russos recentes como “terrorismo puro” e defendeu o uso de ativos congelados da Rússia para financiar a reconstrução. Zelensky reforçou ainda que a reconstrução da Ucrânia deve ser vista como investimento estratégico, destacando potencial de modernização para infraestrutura, energia e digitalização conectando o país à União Europeia . No evento, a primeira-ministra italiana enfatizou que as experiências da Itália e Alemanha após a Segunda Guerra Mundial demonstram que a reconstrução é possível mesmo em cenários adversos. Líderes como Emmanuel Macron, Keir Starmer e Friedrich Merz fortaleceram o compromisso europeu de apoio à Ucrânia, com Macron e Starmer pedindo sanções mais rigorosas à Rússia e suporte contínuo a Kiev. Contexto macroeconômico: a Ucrânia enfrenta um déficit orçamentário projetado de até US$ 19 bilhões em 2026, segundo relatório do FT. O Ukraine Facility foi estruturado para cobrir esse hiato, utilizando recursos da UE, do Banco Europeu de Investimento (EIB) e do Fundo Europeu para Desenvolvimento Sustentável Plus (EFSD+). Uma tranche de €2 bilhões em garantias já foi assinada com o EIB em março, focada em energia, transporte, habitação e infraestrutura urbana. Especialistas destacam que a abordagem de Reino Unido ‑ União Europeia ‑ Itália combina subsídios, empréstimos garantidos e capitais privados para acelerar a reconstrução e atrair investimento estrangeiro, sinalizando a definição de padrões de governança e transparência para futura adesão ao bloco. Críticos, porém, alertam que os valores anunciados ainda ficam aquém dos US$ 486 bilhões estimados pelo Banco Mundial como custo da reconstrução a longo prazo. Além disso, há desafios — violência contínua, acesso limitado à justiça, risco de corrupção e seguros para investidores — que exigem garantias robustas antes que capitais privados sejam liberados . Com a crise humanitária ainda presente e a guerra em curso, a iniciativa emerge como um marco — um “novo plano Marshall” europeu para a Ucrânia. O sucesso dependerá da execução eficaz, alinhamento com reformas do país, e capacidade de atrair investimento sustentável que aproxime Kiev de sua meta de aderir à União Europeia até 2030. Fontes: Financial Times, The Guardian, EU4Ukraine

Taiwan realiza os maiores jogos militares de sua história

Na última quarta-feira (9), Taiwan deu início a edição de 2025 de seus jogos militares anuais, o Han Kuang. Os exercícios terão duração de 10 dias, avaliando a capacidade do país de resistir a uma invasão chinesa à ilha. Este ano, a mobilização envolverá aproximadamente 22.000 reservistas, maior número da história. Novos cenários serão testados, especialmente aqueles relacionados a ataques cibernéticos e desinformação. “Os comandantes precisam pensar em quais desafios as tropas poderão enfrentar, e então passá-los a seus subordinados“, explicou um oficial taiwanês, citando o conflito na Ucrânia como principal referência de combate real. Os exercícios abrangerão situações como o bloqueio naval imposto por Pequim a ilhas próximas, manobras para repelir o desembarque de tropas chinesas no território e medidas para lidar com ataques aos sistemas de comando e comunicação do país durante o conflito. Nesta edição, os jogos militares serão combinados a exercícios de resiliência civil, de forma a testar o quão preparada está a sociedade taiwanesa como um todo para enfrentar ameaças à soberania do país. A ideia é estimular a cooperação dos setores público e privado e aumentar a participação e consciência popular quanto à defesa da ilha. “Esse será o Han Kuang mais intenso que já fizemos“, disse o general Tung Chi-hsing, responsável pela divisão de planejamento do Estado Maior taiwanês. “O treinamento imagina uma guerra disputada em estágios, nas praias, nas cidades e pela sociedade“. O início dos jogos vem um dia após um representante chinês classificar de “inevitável” a reunificação de Taiwan à China. Pequim considera a ilha como uma província separatista, e vem gradativamente elevando a pressão – política e militar – sobre Taiwan. “Não importa como se saiam ou que armas usem, eles não tem como resistir à espada da anti-independência e a tendência histórica da reunificação à pátria-mãe“, declarou o porta-voz do ministério da Defesa chinês, Jiang Bing. “O Han Kuang nada mais é do que um blefe, um truque do Partido Democrático Progressista“. Diante das ameaças, os militares taiwaneses preferem não economizar no treinamento. Comentando a estratégia de prover às tropas informações mínimas sobre os exercícios, um oficial disse que “o objetivo é estar preparado para inesperado“. Fontes: Reuters, Al Jazeera, Focus Taiwan, South China Morning Post

Rússia recruta estrangeiros: a nova legião de Putin e os ecos da história militar europeia

Com mais de três anos de guerra intensa contra a Ucrânia, a Rússia enfrenta um dilema estratégico e político: como manter sua ofensiva sem provocar uma nova onda de mobilização interna que possa desestabilizar ainda mais o país? A resposta veio em julho de 2025, quando o presidente Vladimir Putin assinou um decreto que autoriza cidadãos estrangeiros a servirem no exército russo mesmo fora de estados de emergência ou lei marcial. A medida também permite que especialistas acima do limite de idade ingressem em agências como o FSB e o SVR, ampliando o escopo do recrutamento militar e de inteligência. Essa decisão não é apenas uma resposta ao desgaste humano da guerra — que já causou mais de um milhão de baixas entre soldados russos, segundo o Estado-Maior da Ucrânia — mas também uma tentativa explícita de evitar o custo político de uma nova mobilização nacional. O decreto de mobilização parcial de setembro de 2022, ainda em vigor, provocou o êxodo de mais de 261 mil russos, revelando o impacto social e psicológico da guerra. Ao invés de repetir esse trauma, o Kremlin aposta na internacionalização de suas forças armadas, oferecendo incentivos financeiros e a promessa de cidadania russa a estrangeiros dispostos a lutar. Entre abril de 2023 e maio de 2024, mais de 1.500 estrangeiros foram recrutados para combater na Ucrânia, segundo o Ministério da Defesa britânico. A maioria veio do Sul e do Leste da Ásia (771), seguida por cidadãos de ex-repúblicas soviéticas (523) e países africanos (72). Os principais atrativos são os bônus de assinatura e a possibilidade de obter cidadania russa — uma oferta que transforma Moscovo em um polo internacional de alistamento militar. Essa estratégia, embora adaptada ao contexto contemporâneo, tem raízes profundas na história militar europeia. Em 1831, a França criou a Legião Estrangeira como forma de reforçar suas campanhas coloniais sem comprometer o tecido social interno. Formada exclusivamente por estrangeiros — exilados políticos, mercenários e aventureiros — a Legião atuava fora do território metropolitano, especialmente na Argélia, permitindo à França expandir seu império sem agitar o cenário doméstico. Mais do que uma solução logística, a Legião era um instrumento de controle político e reforço imperial. A Espanha seguiu o mesmo caminho ao fundar, em 1920, o Tercio de Extranjeros, sua própria legião estrangeira. Enfrentando derrotas na Guerra do Rif, o país buscava tropas mais resilientes e motivadas. Inspirada na francesa, a Legião Espanhola recrutava voluntários estrangeiros para missões de alto risco no norte da África. Seu ethos heroico e sua independência em relação ao exército regular espanhol conferiram à unidade uma aura de elite e utilidade política em tempos turbulentos. A Rússia, ao permitir o alistamento de estrangeiros, parece reativar esse princípio com nova roupagem. A medida não apenas reforça o contingente militar, mas também sinaliza uma mudança de paradigma: o Kremlin reconhece que sua capacidade de mobilização interna está esgotada e que, para sustentar sua ofensiva, será preciso recorrer a soluções externas. Ao incluir especialistas acima do limite de idade em agências de segurança, a Rússia amplia ainda mais sua rede de recrutamento, buscando talentos que possam contribuir com inteligência, logística e operações especiais. Outros países também adotaram estratégias semelhantes. Os Estados Unidos têm uma longa tradição de recrutamento estrangeiro em suas forças armadas, especialmente durante os conflitos no Oriente Médio. A promessa de green card e cidadania funcionou como alavanca de recrutamento. Israel, durante sua Guerra de Independência, contou com voluntários da diáspora judaica e veteranos da Segunda Guerra Mundial. Mais recentemente, a Ucrânia criou sua própria Legião Internacional, atraindo estrangeiros para combater a invasão russa. Esses exemplos revelam uma constante histórica: quando a mobilização interna se torna politicamente arriscada ou inviável, os exércitos recorrem a recursos humanos externos. É uma forma de terceirização da guerra, que transfere o custo da defesa para mãos estrangeiras em troca de compensações materiais e promessas de pertencimento. A Rússia, portanto, não apenas reage às pressões da guerra na Ucrânia, mas também reposiciona sua política militar em sintonia com modelos consagrados — e polêmicos — da tradição europeia. Embora o impacto numérico dos estrangeiros no exército russo ainda seja limitado, o gesto tem peso simbólico e estratégico. Ele mostra que o Kremlin está disposto a adaptar sua política de defesa para evitar novos traumas sociais e políticos. Ao abrir seus quartéis aos estrangeiros, a Rússia confere à sua política de guerra um novo rosto — mais pragmático, mais internacional e menos dependente do consenso nacional. Essa “nova legião de Putin” não é apenas uma resposta ao desgaste da guerra. É uma tentativa de reinventar a máquina militar russa, inspirando-se em práticas históricas que permitiram a outras potências sustentar seus projetos imperiais sem sacrificar sua estabilidade interna. Em tempos de guerra prolongada, a História sempre retorna com novas fardas — e a Rússia, ao que tudo indica, está vestindo a sua.

Hamas no limite: 95% dos líderes mortos e Gaza entregue a grupos criminosos

Novas denúncias sugerem uma inquietante possibilidade: a liderança do Hamas em Gaza pode estar em colapso, enquanto milícias locais — algumas com apoio israelense — buscam ocupar o vazio de poder. As informações surgiram após uma entrevista exclusiva à BBC com um suposto tenente-coronel das forças de segurança da organização, feita no mesmo dia em que ocorria rodada de negociações de cessar-fogo em Doha, entre Israel e Hamas. De acordo com a fonte, o Hamas teria perdido cerca de 80% do seu controle territorial na Faixa de Gaza, incluindo a desintegração de sua estrutura de comando. Destaca-se que 95% de seus principais líderes teriam sido eliminados por ataques aéreos israelenses. Segundo o oficial, “o Hamas foi praticamente desintegrado e perdeu o controle sobre a população na Faixa de Gaza” — uma declaração forte, sugerindo que, embora ainda detenha 35% a 40% da área e controle cerca de 2 milhões de pessoas, a organização estaria desmoralizada e sem capacidade de manter uma administração coerente. Se isso for verdadeiro, surge a pergunta: por que o Hamas seguiria negociando em Doha com postura firme, exigindo liberação de prisioneiros palestinos em troca de reféns, interrupção das ofensivas israelenses e a facilitação de reconstrução em Gaza? E por que Israel não lançaria um avanço final, acreditando ter “vencido” o grupo? Yasser Abu Shabab A resposta pode estar na possível estratégia por detrás da declaração do tenente-coronel. Apesar do suposto colapso, o Hamas ainda controla regiões-chave — como a cidade de Gaza e acampamentos centrais —, onde Israel não ingressou devido ao risco de atingir reféns mantidos pelo grupo. Esse território pode estar servindo como “zona de segurança” para que a organização reagrupe forças. Além disso, o vazamento coincide com o surgimento de uma nova liderança emergente: Yasser Abu Shabab, identificado como chefe de milícia com ligação com a Autoridade Palestina, Egito e com o ex-líder de Gaza Mohammad Dahlan — este último apoiado pelos Emirados Árabes Unidos. Segundo relatos, ele estaria recebendo treinamento, armas e apoio logístico, inclusive de Israel, que enxerga a possibilidade de enfraquecer o Hamas com uma força mais alinhada aos seus interesses. Em sua declaração à BBC, o oficial descreveu Abu Shabab como figura que consolida milícias locais formando um conselho conjunto para derrubar o Hamas. Fontes diplomáticas confirmam que ao menos seis grupos armados já surgiram nos territórios onde o Hamas perdeu influência. “Gangues estão presentes por toda a área, e a sociedade está em colapso“, relatou o tenente-coronel, indicando que o vácuo de poder teria sido rapidamente ocupado por milícias locais. Porém, nem todos os analistas acreditam na narrativa de descontrole total. A diplomacia israelense não se pronuncia oficialmente sobre os rumores, embora tenha confirmado a provisão de apoio material a grupos como o de Abu Shabab. Por outro lado, o Hamas continua a negociar com firmeza em Doha, como se sua capacidade de pressão ainda fosse relevante. Aparentemente, Israel não consideraria útil atacar massivamente a área por temer consequências humanitárias, o que comprometeria sua imagem diplomática. A controvérsia gera um impasse: o Hamas estaria efetivamente enfraquecido, incapaz de governar, mas paradoxalmente fortalecido por permanecer ativo politicamente e manter controle sobre áreas estratégicas. Se sua autoridade — já seriamente comprometida — der lugar ao poder dessas novas facções, pode haver um processo de transição de regime em Gaza, com permissão tácita de Israel, Egito e Autoridade Palestina. Essa possível realocação de poder no terreno poderá ter impactos profundos. Por um lado, enfraqueceria uma liderança unificada responsável pelo sequestro de reféns e pelos atentados. Por outro lado, instabiliza ainda mais uma Palestina já fragmentada, podendo gerar confrontos internos e caos humanitário no pós-guerra, caso o cessar-fogo se concretize. Enquanto durar a guerra e o esperado cessar-fogo não se consolidar, a incerteza sobre quem realmente governa Gaza permanece — e o anúncio de colapso do Hamas pode representar, ao mesmo tempo, verdade amarga e jogada estratégica cuidadosamente orquestrada. Fontes: BBC, Jerusalem Post

Putin desafia Trump e OTAN com maior ataque aéreo da guerra na Ucrânia

Em uma ofensiva recorde, a Rússia lançou um massivo ataque aéreo sobre a Ucrânia entre os dias 9 e 10 de julho, mirando principalmente Kyiv e regiões do oeste do país. A artilharia aérea combinada incluiu 728 drones (em grande parte do modelo Shahed, de fabricação iraniana), além de mísseis hipersônicos Kinzhal e mísseis de cruzeiro Kh-101/Iskander-K. Entre a noite de quarta (9) e a madrugada de quinta (10), surgiram explosões intensas em diversos setores de Kyiv. O impacto foi profundo: pelo menos três lançadores de mísseis e uma clínica de saúde foram atingidos, gerando incêndios em edifícios residenciais, garagens e veículos. Duas pessoas morreram e outras 16 ficaram feridas, muitas atingidas por estilhaços. Diante da magnitude do ataque, os sistemas de defesa aérea de Kyiv interceptaram 296 drones e todos os sete mísseis de cruzeiro lançados, além de neutralizar centenas de drones por guerra eletrônica, em uma operação que evitou uma destruição ainda maior . Levando em conta seu sucesso defensivo, as Forças Armadas da Ucrânia concluíram que o ataque russo teve grande intensidade, mas não obteve o resultado esperado por Moscou. Mesmo assim, as autoridades relatam danos estruturais e feridos civis. A Rússia, que já vinha intensificando o uso de drones noturnos, ampliou a campanha aérea como uma ação coordenada com avanço terrestre em outras frentes. A operação e intensificação dos ataques russos busca não apenas ações militares, mas também impacto psicológico e enfraquecimento da moral civil e política da Ucrânia . O ataque ocorre logo após o presidente americano Donald Trump reafirmar o apoio defensivo aos ucranianos, criticando as promessas polêmicas de Vladimir Putin. Além disso, a OTAN mobilizou aeronaves na Polônia como medida preventiva, dado o risco de expansão das operações russas próximo à fronteira Polônia-Ucrânia. O secretário de defesa do Reino Unido também revisitou a necessidade de apoio contínuo à Ucrânia, enquanto o presidente Volodymyr Zelensky ressaltou a urgência de sanções mais rígidas à Rússia, especialmente contra sua indústria energética . O resultado imediato é claro: destruição significativa de infraestrutura, deslocamento de famílias e desgaste psicológico nas áreas urbanas atingidas. Contudo, o verdadeiro teste agora é diplomático e estratégico: até que ponto Moscou continuará sua campanha, e como responderá o Ocidente — tanto militar quanto politicamente. Com a escalada da violência, cresce também o foco internacional sobre o plano de sanções, a manutenção do apoio ucraniano e a pressão sobre a Rússia. O risco de confronto direto entre a OTAN e o Kremlin aumenta, uma vez que mais países da aliança estão adotando medidas de prontidão nas faixas fronteiriças. Fontes: The Sun, CNN

Trump volta atrás e anuncia envio de armas à Ucrânia

O presidente dos EUA, Donald Trump, surpreendeu a comunidade internacional ao anunciar o envio de mais armas defensivas à Ucrânia pouco após uma pausa inesperada na entrega de equipamentos militares críticos, como mísseis superfície-ar e sistemas de artilharia de precisão. A decisão reflete uma guinada em sua política, contrapondo a posição anterior do Pentágono. Na semana passada, o Pentágono suspendeu o envio de interceptores Patriot, mísseis Stinger e mísseis ar-ar AIM, citando preocupações com o esgotamento dos estoques militares. No entanto, a decisão foi tomada sem informar o presidente Trump — segundo fontes da CNN, nem o próprio recebeu aviso prévio. Em resposta, o mandatário afirmou que o Congresso e a imprensa precisam esclarecer a origem dessa pausa, já que, segundo ele, não deu nenhuma ordem nesse sentido. Logo depois, Trump reverteu a suspensão: autorizou a entrega de dez interceptores Patriot e manifestou a intenção de fornecer um novo sistema, caso necessário. Durante reunião no Salão Oval, o presidente criticou duramente o presidente russo Vladimir Putin, acusando-o de falar besteira demais diante de promessas diplomáticas vazias. Trump deixou claro que “Putin mata muita gente” e justificou a retomada das entregas como um imperativo para proteger vidas civis na Ucrânia. A intensificação dos bombardeios russos sobre cidades ucranianas, com uso de drones e mísseis, aumentou a demanda ucraniana por sistemas de defesa aérea. Autoridades ucranianas relataram mortos e dezenas de feridos civis, tornando urgente o envio de armamentos avançados O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky saudou o anúncio, afirmando que as entregas são essenciais para salvar vidas e conter a ofensiva russa. Entretanto, a reviravolta gerou críticas. O caso evidenciou falhas na coordenação entre Casa Branca e Ministério da Defesa, e especialistas alertam que a abordagem “America First” pode reduzir o apoio dos EUA aos parceiros, se decisões internas forem tomadas de forma unilateral. A Casa Branca comunicou que, sob comando de Trump, o Pentágono reiniciará o suporte em linha com os interesses de defesa dos EUA. Ainda está em análise a possível entrega de mais sistemas Patriot, reconhecendo a crescente pressão aérea russa sobre áreas estratégicas. Analistas apontam que o envio reforça a retórica de “paz por meio da força” de Trump, que também ameaçou retomar sanções a Moscou e impor tarifas elevadas sobre países que importam energia russa – uma clara mensagem a aliados como China e Índia. A reversão de Trump, de pausa surpreendente para apoio avançado à Ucrânia, destaca a volatilidade das decisões de política externa sob sua administração. A tensão com o Pentágono e a urgência dos pedidos ucranianos evidenciam os dilemas estratégicos dos EUA na atual fase da guerra — com riscos globais e pressões domésticas que prometem pesar nas conversas sobre futuro financiamento e apoio militar. Fontes: AP, The Times, Welt

Brasil divulga vídeo com território ucraniano incorporado à Rússia

Durante a cúpula do BRICS, realizada no Rio de Janeiro, um vídeo distribuído pela equipe oficial do governo brasileiro causou indignação e desconforto na equipe. Nas imagens, foi apresentada de forma gráfica, a anexação de territórios ucranianos atualmente ocupados pela Rússia, incluindo as regiões de Donetsk e Luhansk, anexadas em 2022 com validade jamais reconhecida internacionalmente. O conteúdo circulou nas redes sociais da presidência brasileira, mostrando mapas que incorporavam oficialmente partes do território ucraniano ao domínio da capital russa. Essa inserção explícita aconteceu num momento considerado inapropriado durante a reunião do bloco. A prática foi vista como uma tentativa de reforçar a narrativa de Moscou, sob o pretexto de defender os interesses de segurança legítimos agora estendidos aos membros do bloco. Antes, a Rússia já havia declarado anexações em setembro de 2022 em Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhia — referendos cujos resultados foram amplamente rejeitados por 143 países membros da ONU em declaração posterior. No entanto, a exibição do vídeo na cúpula marcou um salto retórico, transformando reivindicações não reconhecidas em parte da agenda visual e midiática do BRICS. O episódio pode servir para isolar ainda mais o bloco, enfraquecendo o apoio implícito às ações russas na Ucrânia. Por outro lado, também ressalta a abertura do BRICS como vitrine para a voz de potências revisionistas, mostrando sua fragilidade normativa frente a disputas militares contemporâneas. Para a diplomacia ocidental, a exibição de símbolos de anexação reflete que o Kremlin não recuou na sua estratégia territorial na Ucrânia. Ainda que a ferramenta usada tenha sido digital, o recado é real e preocupante: a Rússia busca consentimento de países emergentes, mesmo a toque de caixa, para dar contornos visíveis a uma guerra que continua em curso. Fonte: CNN

Guerra, corrupção e morte: ministro russo cai em desgraça e aparece morto em Moscou

O ministro russo dos Transportes, Roman Starovoit, foi encontrado morto nesta segunda-feira (07) em Odintsovo, subúrbio de Moscou, capital do país. Segundo o Comitê Russo de Investigação, principal órgão investigativo local, o corpo baleado de Starovoit foi encontrado em seu carro e uma arma foi achada próxima a ele. O caso está sendo tratado como um provável suicídio. Starovoit, de 53 anos, havia sido demitido por um decreto presidencial na manhã da própria segunda-feira, após pouco mais de um ano no cargo. O decreto não especificou o motivo da demissão, mas sua publicação veio após um fim de semana de caos aéreo na Rússia, com diversos voos cancelados e inúmeros aeroportos fechados em virtude da ameaça de drones ucranianos. Outras fontes na mídia russa, porém, alegam que a demissão pode ter relação com as suspeitas de envolvimento do ex-ministro com um suposto esquema de desvio de recursos públicos na região fronteiriça de Kursk, onde Starovoit foi governador antes de ser nomeado para a pasta de Transportes. Seu sucessor no governo regional, Alexei Smirnov, foi preso por corrupção em abril deste ano. O caso ganhou forte repercussão na Rússia por envolver o desvio de fundos alocados para a defesa militar da região. Em agosto de 2024, um ataque surpresa da Ucrânia rompeu as linhas defensivas locais, avançando com facilidade e fazendo milhares de prisioneiros pelo caminho. Foi a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial em que o território russo foi ocupado. No último mês de maio, quase nove meses após a invasão, o exército russo anunciou a retomada de Kursk. As autoridades russas vem investigando diversos casos de corrupção entre funcionários do alto escalão civil e militar. Na última semana, Timur Ivanov, ex-vice ministro da Defesa, foi condenado a 13 anos de prisão. No mesmo dia, Viktor Strigunov, alto funcionário da Guarda Nacional, foi preso por corrupção e abuso de poder. E, por sua vez nesta segunda (07), Khalil Arslanov, ex-segundo no comando do Estado-Maior, recebeu pena de 17 anos pelos mesmos crimes. Fonte: The Times of Israel, Associated Press

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