Ucrânia cria polo de armas para fortalecer Europa e contornar falta de apoio dos EUA

A Ucrânia anunciou uma guinada estratégica em sua postura defensiva no momento em que os Estados Unidos suspendem temporariamente o envio de sistemas de defesa aérea. O governo norte-americano decidiu interromper o fornecimento dos sistemas Patriot e de outros armamentos críticos — como os mísseis Hellfire e Stinger — devido à escassez desses equipamentos nos próprios estoques. A medida reforça a prioridade dada pelos EUA à sua prontidão militar diante de ameaças globais, especialmente na China e no Oriente Médio. Campanha aérea russa intensa Para Kiev, porém, a medida chega em momento crítico. A Ucrânia enfrenta uma campanha aérea russa intensificada que agrava a necessidade de reforço de defesa antiaérea. Autoridades veem a decisão com preocupação e já alertaram para o risco de falta de mísseis Patriot, essenciais para neutralizar ataques de mísseis balísticos e drones russos. Diante desse contexto, o ministro da Defesa ucraniano, Rustem Umerov, anunciou um ambicioso programa de produção armamentista conjunta com países da coalizão Ramstein. O plano foi revelado durante reunião do Ukraine Defense Contact Group, em que participam cerca de 57 nações, incluindo membros da OTAN e União Europeia. A proposta prevê a instalação de linhas de produção licenciadas para drones, mísseis, munições e sistemas eletrônicos, em território ucraniano e também em países aliados, mas com destino exclusivo às forças ucranianas. Diversas empresas europeias já estariam envolvidas no projeto. O presidente Volodymyr Zelenskyy reforçou a urgência da iniciativa no mesmo encontro, afirmando que a Ucrânia precisa aumentar em ao menos 50% o volume de produção conjunta para suprir a demanda urgente de equipamentos. Já o vice-ministro Serhiy Boyev ressaltou a necessidade de investimento dos lucros oriundos de ativos congelados da Rússia para expandir essas capacidades industriais. A tensão entre o congelamento temporário do apoio americano e a mobilização internacional pelo fortalecimento da base produtiva reflete uma estratégia dupla de Kiev: lidar com os desafios imediatos de segurança e construir uma autonomia militar mais sólida a longo prazo. Ao mesmo tempo em que busca socorro urgente, a Ucrânia aposta na integração de sua indústria à rede ocidental de defesa, reduzindo a dependência de sistemas caros e de fornecimento limitado. Enquanto os EUA restringem o envio de armas sofisticadas por conta de sua mudança de conduta em relação à ajuda enviada, a Ucrânia avança em sua ambição de se tornar um polo de armamento na Europa. Isso exige coordenação entre aliados para enfrentar o dilema entre urgência e sustentabilidade militar. Fontes: Wall Street Journal, Kyiv Independent, Kyiv Independent, RBC-Ukraine
Pentágono congela envio de mísseis à Ucrânia e expõe fragilidade de estoques norte-americanos

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, determinou a suspensão temporária de um carregamento de mísseis e munições para a Ucrânia, segundo confirmaram fontes do Departamento de Defesa, do Congresso e pessoas próximas ao processo. A medida reflete crescentes preocupações com o nível crítico dos estoques militares norte-americanos, após anos de envios maciços de armamentos para Kiev e operações no Oriente Médio. A paralisação ocorre semanas depois de Hegseth ordenar uma revisão completa dos arsenais norte-americanos, desgastados não apenas pela guerra de defesa da Ucrânia contra a invasão russa, mas também pelos combates no Iêmen contra os houthis e pelo apoio contínuo a Israel e a aliados contra o Irã. Leia mais: Putin anuncia corte do orçamento militar para 2026 Entre os armamentos retidos estão dezenas de interceptadores Patriot, milhares de munições de artilharia 155mm de alto explosivo, mais de 100 mísseis Hellfire, 250 sistemas GMLRS, dezenas de mísseis Stinger, mísseis ar-ar AIM e lançadores de granadas. Fontes afirmam que esses itens poderão permanecer bloqueados até a conclusão da revisão do Pentágono — e podem até ser redirecionados caso sejam considerados prioritários para outros teatros de operações. Em nota, a porta-voz da Casa Branca, Anna Kelly, justificou a decisão. “Esta medida foi tomada para colocar os interesses da América em primeiro lugar após a revisão do DOD sobre a assistência militar global. A força das Forças Armadas dos Estados Unidos permanece inquestionável — basta perguntar ao Irã“, afirmou. Leia mais: Sabotagem do Nord Stream: Zelensky foi avisado, CIA tentou impedir, Alemanha ignorou alerta O presidente Donald Trump, em evento recente da OTAN em Haia, reconheceu que a Ucrânia segue solicitando sistemas de defesa aérea Patriot, mas ressaltou que o arsenal norte-americano também é limitado. “Eles querem ter os mísseis antimísseis, e vamos ver se podemos disponibilizar alguns. Mas nós também precisamos deles“, explicou. Do lado ucraniano, a reação foi de frustração. O parlamentar Fedir Venislavskyi, membro do comitê de defesa de Kiev, declarou à Reuters que a decisão do Pentágono é “muito desagradável” e “dolorosa” diante da sequência de ataques aéreos russos. A suspensão, ainda que temporária, lança dúvidas sobre a capacidade de Washington de sustentar o ritmo de apoio militar à Ucrânia sem comprometer sua própria prontidão estratégica. Fonte: www.nbcnews.com
Maior fundo de pensão norueguês liquida investimento em empresas com negócios em Israel

O KLP, maior fundo de pensão da Noruega, com aproximadamente US$114 bilhões em ativos sob gestão, anunciou que não investirá mais em duas companhias, uma americana e uma alemã, por receio de que os equipamentos produzidos sejam utilizados no conflito em Gaza. “Em junho de 2024, chegou ao conhecimento da KLP que diversas empresas estavam fornecendo armas ou equipamentos ao exército israelense”, declarou à Al Jazeera a chefe de investimentos responsáveis do fundo, Kiran Aziz. Ela acusou as empresas de “falharem em sua obrigação de documentar ações de diligência para verificar potencial cumplicidade em violações de direitos humanos”. “Concluímos que as empresas desrespeitaram nossas regras de responsabilidade”, Aziz seguiu. “Por isso, decidimos excluí-las de nosso universo de investimentos”. As empresas afetadas são a fabricante de veículos americana Oshkosh, da qual US$1,8 milhão foi desaportado, e a gigante industrial alemã ThyssenKrupp, que perdeu aproximadamente US$1 milhão. Ambas foram excluídas de acordo com o critério de “venda de armamentos para estados em conflito, que as utilizam de formas que representam violações sérias e sistemáticas ao direito internacional”. A política de cortar relações com empresas suspeitas de envolvimento em questões controversas já é antiga e não se restringe à situação em Gaza. Em 2021, a KLP retirou aportes de companhias ligadas à junta no poder em Myanmar, por exemplo. Outras instituições europeias adotaram postura similar nos últimos meses. O Government Pension Fund, maior fundo soberano do mundo, também norueguês, reduziu recentemente investimentos em empresas estabelecidas em ou com ligação a Israel. Fundos de pensão na Dinamarca e no Reino Unido seguiram o mesmo caminho. Fonte: bloomberg, aljazeera, the times of israel
Sabotagem do Nord Stream: Zelensky foi avisado, CIA tentou impedir, Alemanha ignorou alerta

Uma operação chamada “Diameter”, conduzida por um comando secreto ucraniano para sabotagem dos gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 26 em setembro de 2022, poucos meses após o início da invasão russa ao território ucraniano, foi divulgada pela revista Der Spiegel, no dia 20 de novembro de 2024. A reportagem traz muitos detalhes da operação, inclusive revela que os serviços de inteligência ocidentais souberam dos planos de ataque em junho de 2022, três meses antes das explosões. O artigo deixa claro que, tanto para a Ucrânia quanto para o comando secreto ucraniano que fez a sabotagem, os gasodutos eram um alvo militar legítimo em um conflito armado – em águas internacionais. Eles usaram um iate chamado “Andrômeda” para a execução da sabotagem. Nós trouxemos para nossos leitores os detalhes da operação e as intenções de sabotar outro gasoduto, o Turkish Stream, que conecta a Rússia com a Turquia. Segundo a reportagem, relatos indicavam que o ex-comandante-em-chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Valeri Zaluzhny, havia sugerido explodir a ligação de gás natural através do Mar Negro também. Leia mais: Como um comando secreto ucraniano explodiu o gasoduto russo Nord Stream – Danuzio Serviços de inteligência ocidentais souberam Ao que tudo indica, foi um agente sueco que soube dos preparativos realizados pelos sabotadores, de acordo com os círculos de segurança com quem os investigadores conversaram. A informação explosiva posteriormente chegou em outros serviços de inteligência. Um representante da CIA, em Kiev, visitou o palácio presidencial com uma mensagem clara: os planos de ataque deveriam ser interrompidos. Apesar de negar que soubesse de qualquer operação, neste momento fica claro que Volodymyr Zelensky foi informado da operação pela CIA. Os agentes dos EUA também entram em contato diretamente com o comando secreto – conforme mencionamos no primeiro texto que trata dessa investigação, alguns membros do comando foram treinados pela CIA. Os ucranianos deveriam deixar para lá os planos. O chefe do Exército ucraninao, General Valerii Zaluzhny, supostamente descobre que os serviços de inteligência souberam do plano. Se eles não parassem os preparativos, provavelmente todos iriam para a prisão, dizem os militares que transmitiram a informação ao comando secreto. Os homens que estavam executando a missão não entenderam isso como uma ordem de cancelamento. Em geral, não era possível esperar que o clima em Kiev se tornasse mais favorável. Os planos precisariam ser executados antes de outubro, devido às condições do tempo em outubro, pois o Mar Báltico estaria muito agitado para permitir que os mergulhadores entrassem na água apartir de um veleiro com tanques pesados de ar comprimido e bombas a partir daquela data. A Chancelaria alemã subestimou o perigo Em junho de 2022, o Serviço Federal de Inteligência alemão também recebeu um relatório criptografado e ultrassecreta com um aviso claro. Ele vem do serviço de inteligência militar da Holanda. A CIA também foi colocada em cena pelos holandeses, os americanos lideram as informações posteriores sobre segurança para os alemães. Os relatórios secretos descrevem um ataque aos gasodutos Nord Stream: seis comandos ucranianos, disfarçados com identidades falsas, planejavam alugar um barco, usar equipamento especial para mergulhar até os dutos no fundo do Mar Báltico e explodi-los. Os homens estariam sob o comando do comandante-em-chefe ucraniano Valery Salushny, mas o presidente Volodymyr Zelensky não havia sido informado. O ato de sabotagem foi planejado em torno da manobra “Baltops” da OTAN, no Mar Báltico. O Serviço Federal de Inteligência repassou as informações à Chancelaria, mas na sede do governo os relatórios não foram considerados relevantes. Eles ficaram disponíveis apenas na chancelaria depois que terminou a manobra da OTAN e nenhuma providência foi tomada. E foi por isso que os alarmes não foram disparado. Algumas pessoas em Berlim disseram que souberam do aviso, mas a visão predominante foi a de que a burocracia de segurança atrapalhou, classificando o relatório como falso. E devido a essa classificação, nem a Polícia Federal, a Marinha e os centros de combate ao terrorismo do governo federal e estadual da Alemanha foram alertados e nem orientados para os riscos do ataque aos gasodutos.
The Wall Street Journal: “Irã segue sendo uma ameaça nas Américas”, inclusive no Brasil

No último domingo (29), o The Wall Street Journal publicou um artigo revelando que o Irã possui uma rede de espiões e intermediários em toda a América Latina. Capazes de realizar espionagem, atividades cibernéticas e até mesmo atentados diretos, tanto nos EUA quanto em países latino-americanos. O artigo de Mary Anastasia O’Grady, colunista especialista em relações internacionais, começa informando que, nos dias sequentes à operação “Midnight Hammer“, o bombardeio americano em instalações nucleares iranianas, o ICE (Agência Federal de Imigração e Alfândega dos EUA) deteve 11 iranianos ligados ao Irã ou ao Hezbollah, incluindo ex-militares da Guarda Revolucionária Iraniana. Esse fato corrobora com o alerta do FBI sobre a necessidade de vigilância redobrada sobre redes iranianas, que podem se intensificar após a operação americana. Cita que o Irã pode escalar sua resposta para ameaças cibernéticas, espionagem e atentados, utilizando-se para tal de redes globais de proxies (intermediários). A colunista afirma que o Irã está expandindo sua influência na América Latina por meio de alianças com regimes autoritários de esquerda. Aliança com a Venezuela O artigo cita que o Irã possui estreita colaboração militar com a Venezuela, fornecendo drones e embarcações armadas. Aponta que o país, governado por Maduro, é um apoio estratégico para o Irã no ocidente, fornecendo proteção e estrutura para operações clandestinas iranianas. A autora do artigo menciona que o Irã envia agentes secretos para a região, via Caracas, com ajuda do regime venezuelano. Há relatos de emissão de passaportes venezuelanos a milhares de iranianos e oriundos do Oriente Médio. Somente sob Hugo Chávez teriam sido emitidos cerca de 10 mil passaportes falsificados. Alianças com outros países latino-americanos, incluindo o Brasil O texto ainda interliga essa rede iraniana à esquerda latino-americana, incluindo o Brasil, sob o governo Lula, Cuba, Nicarágua e Bolívia. Citando que os mesmos colaboram ou se alinham, ideologicamente, com o Irã, que estaria se aproveitando da retórica anti-EUA e de fragilidades institucionais, para se infiltrar. Por meio de grupos como o Hezbollah, o Irã pode criar bases logísticas, espionar e lavar dinheiro, no hemisfério sul das Américas, representando uma ameaça significativa aos EUA e à América Latina. O’Grady exemplifica lembrando que ações terroristas do Irã estão documentadas e que o principal caso é o atentado em um centro comunitário judaico em Buenos Aires pelo Hezbollah em 1994, resultando na morte de 85 pessoas. Assim como um atentado suicida em 1992, que vitimou 29 pessoas, também na cidade argentina. O promotor que investigava os atentados foi misteriosamente assassinado em 2015, um dia antes de seu depoimento no Congresso argentino, onde apontaria sobre um eventual “acobertamento do papel do Irã pelo governo da então presidente na época, Cristina Kirchner.“ Sobre o Brasil, a autora lembra da atuação do governo Lula: “Em 2023, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva permitiu que 2 navios de guerra iranianos atracassem no Rio de Janeiro” e sobre as notas emitidas pelo Itamaraty condenando os bombardeios dos EUA e citando violação à soberania iraniana. Já sobre a Bolívia, comenta sobre ligações e afinidade ideológica antiocidental sob a influência do ex-presidente Evo Morales e que Cuba e Nicarágua também são aliadas do Irã. O’Grady alerta ser provável que o Irã utilize agentes clandestinos para atacar os EUA e aliados, em vingança pelos ataques sofridos. E finaliza tecendo elogios à decisão de Donald Trump, descrevendo-a como uma “brilhante e heroica missão, um presente para a humanidade“.
Putin anuncia corte do orçamento militar para 2026

O presidente Vladimir Putin declarou recentemente que a Rússia planeja reduzir seus gastos militares a partir do ano que vem, encerrando um ciclo de crescimento impulsionado pela guerra na Ucrânia. A afirmação foi feita durante uma coletiva de imprensa em Minsk, onde Putin criticou o aumento exponencial dos orçamentos de defesa da OTAN, afirmando que os países ocidentais estão se preparando para ações “agressivas” e fortalecendo a indústria bélica norte-americana. Em 2025, o governo russo elevou em 25% o gasto com defesa, o que representa 6,3% do PIB — o maior patamar desde o fim da Guerra Fria — e cerca de 32% do orçamento federal. O investimento de cerca de 13,5 trilhões de rublos (aproximadamente US$ 145 bilhões) reforçou a capacidade militar em meio ao conflito prolongado e à mobilização em larga escala. Putin afirmou que cortes progressivos são esperados ao longo de um horizonte de três anos, embora nenhum acordo formal entre os ministérios de Defesa, Finanças e Economia tenha sido especificado. “Estamos planejando reduzir os gastos de defesa”, disse. “Enquanto a Europa segue o caminho contrário.” Ceticismo Apesar do otimismo oficial, analistas ocidentais e até do próprio Kremlin veem o anúncio com ceticismo. A Rússia ainda enfrenta uma guerra não resolvida na Ucrânia, e um relatório da SIPRI aponta que, mesmo com o aumento recorde em 2025, os gastos russos somaram em torno de 7,2% do PIB — ou cerca de 15,5 trilhões de rublos. A escalada das despesas militares parece estar esgotando os recursos do Estado. A inflação permanece alta, acima de 8%, e o Tesouro russo revisou o déficit previsto para 2025 para 1,7% do PIB, ante a previsão inicial de 0,5%. O Ministério da Economia admite risco de recessão, enquanto o Banco Central reconhece que os “recursos livres estão se esgotando“. A SIPRI estima que o orçamento militar planejado para 2025 seja 3,4% maior do que em 2024, mas alerta para a crescente dificuldade de financiar esse modelo de economia de guerra, que já representa um terço das despesas federais. Isso ocorre enquanto Moscou também arca com custos fora do orçamento oficial, por meio de empréstimos privilegiados e fundos de contingência para sustentar o esforço bélico na Ucrânia, estimados em mais de US$ 200 bilhões. A discrepância entre o discurso otimista de redução e a realidade financeira complexa ressalta a tensão entre manter capacidades militares essenciais, especialmente em um conflito que se arrasta, e a necessidade de aliviar pressões inflacionárias e socioeconômicas. A menção de Putin ao presidente dos EUA, Donald Trump, como um agente de pacificação, foi pouco convincente para observadores, que apontam que a produção militar russa continua em ritmo elevado. Por outro lado, a OTAN segue ampliando seu arsenal. Em junho, seus líderes aprovaram uma nova meta de gasto de até 5% do PIB até 2035, sendo 3,5% em defesa e 1,5% em infraestrutura e cibersegurança — uma iniciativa que Putin usou como justificativa, afirmando que sua proposta de corte é mais segura e econômica. Para muitos analistas, a vitória política do Kremlin será convencer a população a aceitar eventuais cortes no orçamento militar sem reduzir substancialmente o apoio à guerra. O próximo orçamento federal, previsto para o outono russo, será o termômetro dessa pressão. Fontes: Reuters, Reuters, SIPRI
Rússia abate F-16 e piloto morre na queda

Na madrugada de 29 de junho, a Ucrânia enfrentou o maior bombardeio aéreo desde o início da invasão russa, quando Moscou lançou uma ofensiva massiva composta por 477 drones kamikaze Shahed e 60 mísseis de cruzeiro, balísticos e hipersônicos. O ataque atingiu diversos centros urbanos ucranianos — incluindo Kyiv, Lviv, Cherkasy, Kherson e Ivano‑Frankivsk — deixando pelo menos 12 civis feridos e causando danos a edificações residenciais e infraestrutura. No entanto, foi durante essa ofensiva que se registrou uma tragédia para as Forças Aéreas ucranianas: o piloto de F‑16 Maksym Ustymenko, tenente‑coronel de 32 anos, foi morto após abater sete alvos aéreos — uma combinação de drones e mísseis — com seu jato, até seu avião ser atingido enquanto realizava a sétima interceptação. Segundo informações do alto comando da Força Aérea ucraniana, Ustymenko manobrou a aeronave para longe de áreas povoadas, mas, sem tempo hábil para ejetar, morreu quando o F‑16 caiu. Em sua rede social, o presidente Volodymyr Zelensky homenageou-o in memoriam com o título de “Herói da Ucrânia”, elogiando sua coragem e destacando a gravidade do ataque russo: “Ele morreu defendendo nossos céus e nosso povo… É doloroso perder alguém como ele”, disse Zelensky. Dados militares detalham que, durante o ataque russo, ao menos 211 drones e 38 mísseis foram interceptados por sistemas convencionais, enquanto outros 225 drones foram neutralizados por contramedidas eletrônicas — ou simplesmente eram dispositivos sem carga explosiva. O ataque brutal também derrubou uma carga significativa da capacidade aérea ucraniana, que agora contabiliza três F‑16 já perdidos desde que os primeiros caças norte-americanos foram entregues no verão de 2024. A Ucrânia não divulga qual é o tamanho da sua frota de F-16. Embora o F‑16 seja eficaz em combates aéreos e bombardeios contra alvos terrestres, especialistas como Roman Svitan observam que a aeronave não foi projetada para enfrentar enxurradas de drones baratos — uma estratégia que tem desgastado os estoques de mísseis ainda limitados da Ucrânia. A economia de guerra virou uma corrida contra o tempo. O presidente Zelensky aproveitou para reforçar seu apelo à OTAN e especialmente aos EUA para o envio imediato de sistemas avançados de defesa aérea, como baterias Patriot.” Isso protegerá vidas”, escreveu ele, destacando que a Ucrânia está pronta para comprá-los. A Rússia tem aumentado a intensidade dos ataques, registrando na última semana mais de 1.270 drones e 1.100 bombas planadoras foram lançadas sobre o território ucraniano. A dimensão da ofensiva representa uma estratégia multifacetada: dispersar defesas, gerar pânico e testar novas tecnologias como mísseis Kinzhal e drones kamikaze integrados via comando por satélite. A perda de Ustymenko reforça a vulnerabilidade dos F‑16 e a urgência da Ucrânia em receber reforços, tanto em equipamentos quanto em munições. Zelensky alerta ainda que a Rússia está planejando uma nova ofensiva para o verão de 2025, inclusive com uma informação recente divulgada pela inteligência sul-coreana de que a Coreia do Norte estaria pronta para enviar milhares de novos soldados em apoio a Putin. Fontes: Kyiv Independent, Reuters, Financial Times
Fome e desespero em Gaza: Israel endurece bloqueios à ajuda humanitária

Na última semana, um grupo de caminhões carregados com alimentos e suprimentos médicos entrou em Gaza, levando um vislumbre de esperança aos moradores do norte devastado pelo conflito – mas a alegria foi breve. Em poucos dias, Israel interrompeu novas entregas e fechou a principal rota de acesso, citando suspeitas de que o Hamas estaria desviando parte da ajuda humanitária. Entretanto, líderes tribais locais afirmam que foram eles, e não o grupo militante, que garantiram a segurança das cargas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou que a última remessa trouxe suprimentos médicos vitais — incluindo bolsas de sangue e plasma — a primeira vez desde março, através do ponto de passagem de Kerem Abu Salem, no sul de Gaza. Já no norte, dezenas de caminhões entraram em uma operação independente organizada por clãs palestinos, resultando nas primeiras distribuições em quatro meses em locais como Jabalia. Mesmo diante do breve alívio, o fechamento da entrada de ajuda no norte intensificou os alertas da ONU sobre risco iminente de fome e colapso das condições de sobrevivência nos territórios sob bloqueio israelense. Dados da ONU indicam que apenas quatro centros de apoio estão operando, com uma queda drástica no fornecimento diário de refeições — em média, apenas 300 mil ao dia – diante de uma população estimada em 2,1 milhões. Há relatos de violência durante tentativas de coleta de alimentos: 23 palestinos foram mortos apenas no sul ao tentarem acessar ajuda nos pontos operados pelo Gaza Humanitarian Foundation (GHF), respaldado pelos EUA e Israel. Graves denúncias também apontam para mortes causadas por tiros, conforme informado por jornalistas e ONGs. O secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou com severidade o modelo de distribuição conduzido pelos EUA, respaldado pelo GHF, classificando-o como “inseguro por excelência” e diretamente responsável por mortes de civis. Guterres exigiu uma revisão imediata do modelo e a abertura irrestrita de fronteiras humanitárias . A comunidade internacional, incluindo União Europeia, Reino Unido, França e Canadá, intensificou a pressão sobre Israel. A UE considera medidas punitivas caso não seja retomada com urgência a ajuda vital. Josep Borrell, ex-alto diplomata da UE, pediu ação mais firme do bloco, argumentando que a instituição não pode permanecer inerte diante da crise. Organizações humanitárias, como a International Rescue Committee (IRC) alertam que a escassez de acesso a alimentos, combustível e medicamentos ameaça causar desnutrição em massa, sobretudo entre crianças — uma geração pode estar à beira de um colapso físico e psicológico. Segundo o IRC, 1,9 milhão de palestinos já estão deslocados, e as remessas de comida foram reduzidas em mais de 70% desde abril. As consequências são profundas: doenças, colapso da rede médica e condições insalubres agravam a situação humanitária. Apesar das tensões, Israel mantém que o GHF é responsável por garantir entrega segura das cargas, desde que haja garantias de que o Hamas não interfere no processo. Já o clã palestino Mukhtar Salman Al Mughani negou qualquer envolvimento do grupo, afirmando que “os clãs garantem a segurança”. A realidade complexa de Gaza evidencia que, enquanto pequenos sinais de alívio surgem, a ajuda é frequentemente interrompida, insuficiente ou perigosa. A crise demanda uma resposta humanitária robusta, neutra e contínua, antes que o desaparecimento de vidas se transforme em um colapso generalizado. Fontes: The National, Financial Times, Reuters
Cessar-fogo entre Congo e Ruanda mediado por EUA entra em vigor

O governo da República Democrática do Congo (RDC) e Ruanda chegaram a um acordo pós-conflito que estabelece uma trégua e o retorno de refugiados, mas especialistas e ativistas alertam que existe o risco real de transformar a guerra em exploração de recursos naturais. O documento, divulgado recentemente e analisado por especialistas, inclui cláusulas para desmilitarização de certas regiões no leste da RDC, repatriação de populações deslocadas e reorganização de forças armadas na província de Kivu. No entanto, a falta de garantias ambientais, sociais e econômicas levanta preocupação diante da histórica riqueza mineral da região. Pela carta, os grupos de resistência congoleses devem ser integrados às forças armadas (FARDC), enquanto as tropas ruandesas se retirarão gradualmente. O pacto prevê monitoramento por uma força neutra da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e da União Africana. Embora o cessar-fogo tenha reduzido confrontos diretos, a estabilidade ainda é frágil e dependerá da implementação eficiente das cláusulas. A região oriental da RDC é estratégica devido a recursos como ouro, coltan, estanho e cobalto — minerais vitais para tecnologias modernas. Especialistas destacam que a reconstrução pós-conflito muitas vezes serve de porta de entrada para corporações e governos estrangeiros em busca de concessões. “Sem salvaguardas claras, essa ‘paz em troca de exploração’ pode abrir espaço para que atores externos se apoderem dos lucros sem beneficiar a população local”, alertou a pesquisadora Marie N’Doumba. O filósofo e analista congolês Jean-Marc Tshonda reforça a crítica: “O acordo abstrai o contexto econômico. A mineração sempre foi fonte de conflito — se não houver controle social, a violência será apenas substituída pelo extrativismo predatório”. Organizações civis apontam que a inclusão de regulamentações ambientais e sociais foi mínima. Embora exista menção à reparação e reintegração de populações, não há mecanismos robustos de supervisão ou módulos fiscais para garantir que a renda permaneça no país. O uso de pequenas empresas locais como guardas comunitárias foi proposto, mas carece de amparo legal ou financeiro. Representantes do governo ruandês disseram à imprensa que a retirada das forças militares busca criar condições de confiança mútua e permitir que a RDC retome sua soberania sobre o território e seus recursos. Já Kinshasa ressaltou que o acordo é uma primeira etapa, e que os detalhes de implementação — como a distribuição de títulos de exploração e medidas de governança — devem ser negociados em fóruns técnicos multilaterais com apoio financeiro de parceiros internacionais. A ONU manifestou apoio, classificando o acordo como “oportunidade histórica de restauração da paz e reestruturação econômica”. Porém, também expressaram cautela, vinculando evolução a compromissos claros com direitos humanos, transparência e combate à corrupção. Fato preocupante é a autonomia limitada dos governos locais em Kivu: prefeitos e administrativos ainda dependem de decisões tomadas em Kinshasa ou Kigali, o que pode comprometer o monitoramento em campo. Pesquisas da International Crisis Group e Human Rights Watch já documentaram violações nos campos de refugiados que ainda permanecem ativos, com denúncias de violência sexual e abandono. O arcabouço internacional incluiu um fundo de transição orçado em US$ 500 milhões, sob supervisão da SADC e da UA, destinado à integridade das operações de limpeza, reintegração e gestão sustentável dos recursos. Contudo, fontes diplomáticas afirmam que a liberação do fundo dependerá de relatórios trimestrais e auditorias, cujo mecanismo de aplicação ainda está em definição. Para a população local, esse acordo é uma via de esperança, mas também de incertezas. A paz sem controle, fiscalização e justiça social corre o risco de se transformar em exploração disfarçada de desenvolvimento. O momento tornou-se simbólico não apenas para a RDC e Ruanda, mas para toda a África, refletindo a tensão entre restauração da ordem e equidade econômica num continente rico em recursos naturais. Fonte: Al Jazeera, BBC
Perseguição religiosa continua na Síria, com sequestros de mulheres alauítas

Desde o fim do regime de Bashar al‑Assad, em dezembro de 2024, a minoria alauíta passou por um aumento alarmante de sequestros e desaparecimentos. A Reuters revelou que pelo menos 33 mulheres alauítas, entre 16 e 39 anos, desapareceram nos últimos meses nas regiões de Tartous, Latakia e Hama — regiões costeiras onde essa comunidade concentra-se. Uma das vítimas, Abeer Suleiman, de 29 anos, foi raptada na cidade de Safita. A família recebeu exigências de resgate de quase US$ 15.000, transferidos em pequenas quantias a bancos situados na cidade turca de Izmir. Em contato telefônico com a família, Abeer mencionou que o acento árabe que ela ouviu sugeria estar fora da Síria, embora não pudesse dar maiores informações. Esse caso é apenas parte de um padrão que, segundo famílias entrevistadas, mostra frequentes pedidos de resgate entre US$ 1.500 e US$ 100.000. A polícia síria, entretanto, investiga pouco e não oferece respostas satisfatórias. Perfis compilados com 16 famílias afetadas indicam que sete desses desaparecimentos envolvem sequestros confirmados, alguns com provas de que as mulheres foram levadas para fora do país. Embora quase metade tenha sido encontrada posteriormente, muitos retornaram em circunstâncias duvidosas e com receio de comentar o ocorrido. Esses casos ocorrem num contexto de escalada de violência brutal contra os alauítas na costa síria. Em março, ataques sectários causaram mais de mil mortes, e houve massacres e represálias de militantes xiitas e sunitas, que acusavam alauítas de serem cúmplices do agora deposto regime de Assad. Grupos armados teriam invadido aldeias, executado famílias com perguntas sobre afiliação religiosa e forçado famílias a abandonarem suas casas sem aviso prévio. Na falta de respostas internas, a Comissão de Inquérito da ONU iniciou investigação formal sobre os sequestros de mulheres alauítas, já documentando ao menos seis casos graves neste ano. O relatório revela que as investigações locais não avançaram e que as famílias continuam desamparadas. Em Tartous, um jornalista local acusou que muitos desaparecimentos são atribuídos a problemas familiares, uma versão contestada pelos relatos e provas documentais, como gravações, transferências bancárias e testemunhos. A inação das autoridades reforça a percepção de impunidade. Grupos de direitos humanos alertam que esses ataques podem representar uma forma de “genocídio cultural“. O analista Sami Kayal classificou os sequestros como “instrumentos sistemáticos para destruir a coesão social alauíta“, comparando-os à violência sexual usada como arma por extremistas. ONGs como Human Rights Watch apontam que os sequestradores, muitas vezes, agem com financiamento ou apoio de milícias sunitas alinhadas ao novo governo. As motivações seriam misturadas: ganhos financeiros, vingança, coerção religiosa e limpeza demográfica. A resposta internacional está aumentando. A ONU condenou os sequestros e o massacre de civis alauítas, e o Escritório de Direitos Humanos exigiu ações urgentes para proteger minorias e seus locais sagrados. Ainda assim, o governo interino sírio, liderado por uma coalizão sunita, afirma que a maioria dos desaparecimentos se deve à fuga ou disputas familiares, contradizendo denúncias de sequestros dirigidos. Enquanto isso, as famílias das vítimas vivem entre esperança e desespero. Muitas limitam-se a esperar por qualquer notícia, receosas de novas represálias caso falem publicamente. A atmosfera de medo se torna ainda mais tensa. O silêncio das ruas costeiras reflete um trauma profundo e o desmoronar da confiança na proteção estatal. O aumento desses crimes marca um preocupante retrocesso no processo de reconstrução da Síria, aprofundando divisões sectárias e minando qualquer proposta de reconciliação nacional. Para essas mulheres e comunidades, a queda de Assad, que prometia um novo começo, transformou-se em tempestade de horror e insegurança, sem garantias de retorno ou justiça. A Síria se vê diante de um dilema: permitir que o trauma sectário se enraíze ou buscar mecanismos urgentes para garantir proteção, verdade e reparação para todos. Fontes: Reuters e Qantara