Lula está no Chile tirando foto com Boric, em um tipo de campanha eleitoral antecipada. Diante da maior crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos das últimas décadas, causada pelo tarifaço de Donald Trump que impôs uma sobretaxa de 50% sobre as importações brasileiras a partir de 1º de agosto, esperava-se do presidente Lula uma atuação firme, institucional e estratégica. Mas o que se viu foi exatamente o oposto. Lula preferiu o palco da militância internacional a qualquer esforço real para conter os danos que essa medida pode causar à indústria, ao agronegócio, ao comércio e aos trabalhadores brasileiros.

Enquanto a bomba estoura na economia nacional, Lula segue ausente, tratando a diplomacia como se fosse um campo de batalha ideológica. Desde o início da crise, o presidente não fez um único gesto concreto de aproximação com os Estados Unidos. Limitou-se a discursos genéricos e ideológicos, como o da “jabuticaba”. Em plena campanha informal para 2026, Lula age como se o impacto real nas exportações brasileiras fosse um detalhe menor diante de sua permanente agenda internacional.
Sem acesso ao governo Trump, o seu papel foi delegado ao vice-presidente Geraldo Alckmin ocupando um espaço que, por natureza, também é presidencial. Mas sua atuação revela despreparo e falta de autonomia. Ao invés de apresentar uma política externa consistente, Alckmin vem apelando para apresentações em PowerPoint e pedidos informais a empresários. Em reunião com parlamentares como Davi Alcolumbre e Hugo Motta, Alckmin defendeu não pedir o adiamento das tarifas de imediato para “não demonstrar fraqueza” — um raciocínio que beira o amadorismo diplomático.
Segundo relato do senador Jorge Seif, um empresário brasileiro, grande exportador, saiu indignado de uma reunião com Alckmin e Gleisi Hoffmann. Diante da gravidade da situação, a solução oferecida foi que os próprios empresários “ligassem para seus contatos nos EUA” e tentassem “aliviar a pressão” junto ao governo Trump. Como se fosse papel do setor produtivo intermediar uma crise diplomática de Estado.
Empresário virou chanceler. Exportador virou embaixador. Isso não é articulação diplomática. Isso é abandono do papel de governo.
Alckmin ainda tenta mostrar que está munido de dados e pronto para negociar — “assim que os americanos aceitarem dialogar“. A verdade é que, até agora, o Brasil não tem canal oficial ativo com o governo norte-americano. A embaixadora brasileira foi ignorada, a carta enviada por Alckmin ao Departamento de Comércio ainda não recebeu resposta, e o ambiente político nos EUA já trata o Brasil como caso perdido, diante da retórica agressiva e desinteressada de Lula.
Mesmo armado com números que mostram a interdependência econômica — como o fato de o Brasil ser o terceiro maior comprador do carvão siderúrgico americano, essencial para a fabricação de aço exportado para os próprios EUA —, Alckmin aposta numa pressão de CEOs americanos contra Trump. Mas isso revela o esgotamento do canal diplomático brasileiro e a transferência da responsabilidade para o setor privado.
Enquanto isso, Lula continua engajado em encontros com Pedro Sánchez, Gabriel Boric e Gustavo Petro, discutindo temas distantes da realidade comercial brasileira. Com isso, demonstra que sua única preocupação é manter sua base ideológica aquecida, mesmo que o custo disso seja a perda de empregos, contratos internacionais e a credibilidade do país.
É uma crise real, com efeitos reais, sendo tratada como uma querela de bastidores. E Lula, em vez de liderar, terceiriza a crise, terceiriza o prejuízo e terceiriza a responsabilidade. Está mais preocupado em subir em palanques do que em defender a soberania econômica do país.