Em um movimento sem precedentes desde o início do atual confronto, tanques do Exército israelense avançaram, nesta segunda-feira (21), para as áreas sul e leste da cidade de Deir al‑Balah, no centro da Faixa de Gaza. Fontes militares afirmaram que o avanço visa resgatar possíveis reféns mantidos pelo grupo Hamas em instalações subterrâneas na região. Ordens de evacuação foram emitidas no domingo, determinando que civis deixassem a área antes da ofensiva terrestre, que marca um novo patamar na campanha lançada por Israel em outubro passado.
Médicos em Gaza relataram que ao menos três palestinos foram mortos e diversos ficaram feridos em bombardeios de artilharia pesada, que atingiram oito residências e três mesquitas. Os ataques obrigaram dezenas de famílias, muitas das quais já desabrigadas por confrontos anteriores, a buscar refúgio a oeste, em direção à faixa costeira e ao setor vizinho de Khan Younis.
Ainda na manhã desta segunda, um ataque aéreo israelense em Khan Younis deixou pelo menos cinco mortos — um homem, sua esposa e dois filhos — após o impacto de um míssil em uma tenda improvisada de refugiados. Não houve resposta imediata das Forças de Defesa de Israel (IDF) a respeito desse incidente, que exacerba o sofrimento da população civil.
Em nota oficial, o Exército israelense destacou que, até então, não havia entrado nos distritos alvo da ordem de retirada e que suas operações continuam “com grande força para destruir capacidades inimigas e infraestrutura terrorista na área“. Fontes de segurança confirmaram que a hesitação inicial em avançar se deve à suspeita de que dezenas de reféns restantes ainda estariam sob custódia do Hamas no subsolo de Deir al‑Balah. Estima‑se que, dos cerca de 50 reféns ainda em cativeiro em Gaza, pelo menos 20 permaneçam vivos.
Familiares dos reféns, amparados por organizações internacionais de direitos humanos, cobram explicações concretas sobre as medidas de proteção aos prisioneiros e criticam o risco elevado a que estariam expostos com a escalada dos combates. A incômoda possibilidade de um confronto urbano prolongado, em meio a túneis e construções densas, reforça o temor de perdas humanas entre civis e capturados.
Paralelamente, a Agência de Saúde de Gaza alertou para um cenário de “mortes em massa” nas próximas horas, diante do agravamento da crise de fome que já vitimou 19 pessoas desde sábado (19). Hospitais operam com estoques críticos de combustível, alimentos e medicamentos; segundo Khalil Al‑Deqran, porta‑voz do Ministério da Saúde local, pacientes chegam clamando alívio da exaustão provocada pela falta de comida, enquanto equipes médicas sobrevivem a uma única refeição diária.
No domingo (20), mais de 70 civis foram atingidos por disparos do Exército israelense enquanto aguardavam a entrada de caminhões de ajuda humanitária da ONU na Passagem de Rafah. As autoridades militares israelenses defenderam-se dizendo que efetuaram “tiros de advertência” contra uma multidão que representava “ameaça imediata” e negaram ter tido a intenção de atingir veículos ou beneficiários de ajuda.
O novo capítulo de violência ocorre em meio a negociações de cessar‑fogo mediadas pelo Catar e pelo Egito, com apoio dos Estados Unidos. Fontes do Hamas afirmaram que o aumento do número de mortos e a fome aguda podem minar seriamente as tratativas, cuja continuidade já se mostra frágil diante do endurecimento das posições de ambos os lados.
O atual conflito teve início em 7 de outubro de 2023, quando militantes do Hamas invadiram o território israelense, resultando na morte de 1.200 pessoas e no sequestro de 251 reféns, segundo estatísticas israelenses. Desde então, a contraofensiva de Israel em Gaza deixou um rastro de mais de 58 mil vítimas palestinas, deslocou quase toda a população e desencadeou uma das mais graves crises humanitárias recentes.
A batalha em Deir al‑Balah, até então considerada um “reduto sensível” devido ao risco aos reféns, sinaliza uma intensificação drástica das operações terrestres israelenses, cujas consequências humanitárias e políticas prometem reverberar pelas próximas semanas, com impactos diretos sobre a já combalida população civil de Gaza e o futuro das negociações de paz.