Enquanto o governo federal alega falta de verba para cumprir compromissos estratégicos no exterior, a arrecadação de impostos continua batendo recordes. Um telegrama interno do Ministério das Relações Exteriores (MRE), datado de 11 de julho, revelou que o Itamaraty não tem previsão para efetivar as remoções diplomáticas previstas para o primeiro semestre de 2025, devido a “restrições orçamentárias“. A informação foi divulgada pela coluna do jornalista Jamil Chade, do UOL.
O documento oficial (telegrama nº 035279), assinado pela Secretaria de Estado, afirma que o órgão está “envidando esforços” para restabelecer os recursos necessários para as transferências, mas reconhece que não há previsão para liberação do orçamento, o que deve deixar dezenas de diplomatas — muitos deles com cargos estratégicos em embaixadas e consulados — sem a esperada mudança de posto. A expectativa mais otimista é de que algo possa ser liberado apenas em setembro, ou seja, com pelo menos três meses de atraso.
A situação, no entanto, contrasta diretamente com os dados divulgados nesta semana sobre a arrecadação federal. Segundo levantamento do site Investing.com, o governo Lula registrou arrecadação recorde de R$ 8 bilhões apenas com IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) no mês de junho de 2025 — o maior valor mensal da série histórica iniciada em 1997. O montante representa um crescimento de quase 30% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Enquanto isso, diplomatas relatam incertezas logísticas, prejuízos pessoais e prejuízos institucionais. Muitos já haviam organizado a mudança de país, arcado com despesas, vendido móveis, retirado filhos de escolas — tudo com base no planejamento oficial. Agora, com a indefinição, resta aguardar. Postos no exterior seguem incompletos, chefias seguem vagas e a representação internacional do Brasil enfraquece.
Além da frustração dos servidores, a medida expõe uma contradição central do governo federal: como justificar cortes em áreas estratégicas sob alegação de falta de verba, quando a arrecadação fiscal atinge máximas históricas? O caso escancara a falta de prioridade para a diplomacia — exatamente num momento em que o Brasil tenta projetar influência em fóruns internacionais como BRICS, G20 e ONU.
Fontes ouvidas pela coluna de Jamil Chade apontam que esse congelamento já era temido há semanas, diante de um orçamento considerado insuficiente mesmo após o plano de remoções internas e internacionais ter sido finalizado. O Itamaraty recomendou que os diplomatas que não queiram mais ser removidos façam formalmente o pedido de prorrogação para continuar nos postos atuais.
Até o momento, o Palácio do Planalto e o MRE permanecem em silêncio público sobre o tema. Mas para analistas ouvidos pela imprensa, o recado já está dado: o Brasil arrecada como nunca, mas continua gastando mal — e onde realmente importa, falta até o básico.