Uma investigação da Polícia Federal, em parceria com o Ministério da Saúde e a Receita Federal, revelou um esquema de fraudes no programa Farmácia Popular que pode ter desviado milhões de reais dos cofres públicos e financiado atividades ilícitas, incluindo o tráfico internacional de drogas. A operação, batizada de Dose Dupla, foi deflagrada nesta segunda-feira (21) em diversos estados do país e expôs o envolvimento de farmácias fantasmas e empresas de fachada utilizadas para emitir receitas médicas falsas e simular vendas de medicamentos subsidiados pelo governo federal.
De acordo com a Polícia Federal, o grupo criminoso operava há pelo menos quatro anos, com ramificações no Brasil, Paraguai e Colômbia. A partir da emissão de receitas fraudulentas, essas farmácias inseriam no sistema compras fictícias de medicamentos de uso contínuo, como remédios para diabetes e hipertensão, obtendo reembolsos milionários do Farmácia Popular. Parte do dinheiro desviado era então convertido em moeda estrangeira e enviado para fora do país por meio de doleiros, segundo os investigadores.
As autoridades identificaram mais de 70 estabelecimentos cadastrados no programa com indícios de irregularidades. Em muitos casos, os endereços informados não correspondiam a pontos comerciais reais, e os responsáveis legais eram “laranjas” sem vínculos com o setor farmacêutico. A Receita Federal estima que o prejuízo aos cofres públicos pode ultrapassar R$ 120 milhões.
O mais alarmante, segundo os investigadores, foi a descoberta de conexões diretas entre operadores do esquema e facções do narcotráfico internacional. O dinheiro desviado estaria sendo usado para financiar rotas de envio de entorpecentes para a Europa e para abastecer operações logísticas de organizações criminosas na fronteira.
O ministro da Saúde, em nota oficial, afirmou que o governo “não medirá esforços para garantir a integridade do Farmácia Popular” e que um processo de auditoria rigorosa está em andamento. A Controladoria-Geral da União (CGU) também anunciou que ampliará o monitoramento sobre estabelecimentos credenciados.
Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em São Paulo, Paraná, Amazonas, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal. Ao todo, mais de 300 agentes federais participaram da operação, que resultou na apreensão de documentos, computadores, dinheiro em espécie e medicamentos falsificados. Vários suspeitos já foram presos preventivamente.
As investigações continuam, e novas fases da operação devem ocorrer nas próximas semanas. O Ministério Público Federal deve apresentar denúncias formais ainda nesta semana contra os principais envolvidos.
Fonte: G1