A Europa está novamente no radar do mercado, mas a França corre o risco de ficar de fora.
Sufocada por problemas fiscais e paralisada pela constante balbúrdia política, a segunda maior economia da União Europeia (UE) vê os investidores se afastando, em busca da estabilidade alemã ou de oportunidades promissoras em economias menores, como a Espanha. Até mesmo geografias outrora relegadas, como a Grécia, vêm sendo priorizadas.
“Enquanto outras economias com alto nível de endividamento – como Portugal, Grécia, Espanha e Itália – se aproveitaram por anos da inflação elevada para ajustar sua relação dívida/PIB, a França destoa cada vez mais“, criticou o ex-primeiro-ministro das Finanças Pierre Moscovici.
A França registra agora o maior déficit público de toda a Zona do Euro. Para equacionar o problema, a administração do primeiro-ministro François Bayrou propôs cortes de € 40 bilhões para o orçamento de 2026. A aprovação da peça, no entanto, parece tarefa hercúlea. Sem maioria no parlamento, o governo já enfrentou 8 moções de desconfiança desde dezembro de 2024, quando Bayrou assumiu o posto. Seu antecessor, Michel Barnier, perdeu o cargo justamente durante as negociações do orçamento anterior.
“Qualquer compromisso trará no máximo medidas temporárias, insuficientes para reduzir a dívida e equacionar o déficit“, apontou Nicolas Forest, CIO da gestora Candriam.
O receio dos investidores com a economia francesa se reflete no prêmio de risco cobrado para captação de recursos pelo governo quando comparado às demais economias do continente. Em relação à Alemanha, por exemplo, o prêmio gira em torno de 70 pontos base (bps), significativamente superior aos 50 bps de quando o presidente Emmanuel Macron assumiu. O cenário se repete mesmo no comparativo com economias tradicionalmente mais arriscadas, como Itália e Espanha, o que é, nas palavras de analistas do mercado, “totalmente inusitado“.
Segundo Alexandre Bompard, CEO do Carrefour, a incerteza política e fiscal pesa no comportamento das famílias, que compartilham do temor por seu futuro financeiro. “A recuperação dos gastos dos consumidores na França é mais tímida que em nossos outros mercados“, atestou o executivo.
Pierre-Olivier Gourinchas, economista do FMI, afirmou que o governo francês não pode mais fugir do problema.
“A França não está apartada das leis da gravidade“, disse. “Teremos que nos adaptar“.
Fonte: Reuters