Nesta segunda-feira (07), o governo dos Estados Unidos anunciou a retirada da designação de organização terrorista estrangeira da Hayʼat Tahrir al‑Sham (HTS), movimento que governa a Síria e cuja liderança agora integra o governo de transição do país, após a deposição e consequente fuga de Bashar al Assad em dezembro de 2024. A decisão, oficializada por meio de um memorando do Departamento de Estado assinado em 23 de junho pelo secretário Marco Rubio, entra em vigor hoje.
A medida representa uma mudança radical na postura de Washington em relação à Síria. Desde 2018, o HTS (antes conhecido como Frente al-Nusra, braço da Al-Qaeda na Síria) estava oficialmente listado como organização terrorista, com sanções severas e recompensas por seus líderes. O grupo cortou ligações com a Al-Qaeda em 2016 e, em janeiro deste ano, se dissolveu oficialmente e se integrou às instituições do Estado sírio, sob comando do presidente de transição e líder do grupo, Ahmed al‑Sharaa.
A decisão faz parte de um pacote ampliado de flexibilizações, como a revogação de sanções à economia síria, assinada por Trump no dia 30 de junho. Rubio afirmou que a retirada da designação terrorista reconhece “ações positivas” do novo governo de transição, voltadas à estabilização da Síria e à reconstrução após 13 anos de guerra civil. Já o líder do HTS, al‑Sharaa, expressou vontade de combater o terrorismo de todos os tipos e substituir o regime de Assad por um governo mais inclusivo.
A política do governo Trump na região vem ganhando forte impacto diplomático: ambos os Estados Unidos e parceiros como Arábia Saudita, Turquia e Reino Unido já vêm restabelecendo contato com a Síria – o Reino Unido anunciou no fim de semana o retorno de sua embaixada em Damasco. A expectativa em Washington é que a reabilitação do HTS facilite o acesso do país a créditos internacionais e investimentos para reconstrução, bem como acelere a integração da Síria ao comércio global.
Entretanto, a decisão dividiu opiniões nos Estados Unidos e entre especialistas. Instituições como o Washington Institute alertaram que o HTS ainda carrega um histórico de abusos e questões relacionadas a direitos humanos, e que a retirada do grupo da lista deve ser condicionada a garantias concretas de transparência e moderação. No Reino Unido, ainda vigora cautela: autoridades afirmaram que o HTS só poderá ser retirado da lista de terroristas se demonstrar compromisso com inclusão política e respeito a minorias.
Além disso, o embaixador dos EUA em Damasco ressaltou que a remoção da designação terrorista não anula a vigilância sobre possíveis retomadas das redes extremistas, e que órgãos como o Departamento do Tesouro e o Congresso ainda analisarão detalhes jurídicos.
Para o regime sírio, o gesto sinaliza o fim de um isolamento internacional de longa data. A retomada de relações com a Arábia Saudita e a Turquia, aliada ao alívio parcial das sanções, pode acelerar uma reestruturação turística e comercial em áreas bombardeadas, além de permitir parcerias em reconstrução vitalícia, como infraestrutura e abastecimento de água.
Por fim, a retirada do HTS da lista de organizações terroristas marca uma redefinição das relações entre Washington e Damasco, abrindo espaço para uma nova era de engajamento diplomático e econômico. Essa transição pode favorecer uma estabilização regional, mas dependerá das garantias de moderação política e reforma institucional prometidas pelo governo de transição sírio — medidas que ainda serão avaliadas nos bastidores por americanos e europeus.
Fontes: CNN, The Times of Israel, Al Jazeera, Washington Post