Eduardo Bolsonaro vira interlocutor exclusivo com governo Trump – Itamaraty é ignorado

Compartilhe:

Em meio ao agravamento das tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) assumiu, na prática, o papel de principal interlocutor entre os dois países, em especial com o círculo próximo de Donald Trump. Ao lado do comentarista Paulo Figueiredo, Eduardo tem conduzido articulações paralelas que desautorizaram a diplomacia oficial brasileira e deixaram o Itamaraty à margem das decisões mais sensíveis da nova administração americana.

Segundo a CNN, a embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luísa Escorel, retornou às pressas de um período de férias para tentar restabelecer pontes com a Casa Branca. Procurou reuniões com membros do alto escalão do governo Trump, mas recebeu como resposta uma frase curta e simbólica do novo momento político: “É tarde demais“. O episódio marcou, segundo diplomatas ouvidos sob reserva, o esvaziamento da representação institucional do Brasil nos Estados Unidos, agora ofuscada pela atuação direta do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Reportagem do Washington Post revelou que Eduardo Bolsonaro circulou durante semanas na Casa Branca, mantendo reuniões recorrentes com auxiliares do presidente americano. O objetivo declarado era pressionar o governo dos EUA a impor sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, usando como base a Lei Magnitsky, que permite punir autoridades estrangeiras acusadas de violar direitos humanos. Quatro fontes familiarizadas com as conversas confirmaram sua participação nas negociações, e duas delas afirmaram ter visto uma minuta de sanções já redigida no mês anterior, indicando que a ofensiva diplomática paralela avançou mais do que o Itamaraty imaginava.

Paulo Figueiredo e Eduardo Bolsonaro. Foto: X.

Eduardo não esteve sozinho nessas tratativas. Ao seu lado, Paulo Figueiredo — influenciador de direita e investigado por envolvimento no suposto plano de golpe de 2022 — atuou como conselheiro e interlocutor constante nas reuniões com autoridades americanas. Juntos, eles entregaram dossiês, fizeram lobby com congressistas republicanos e insistiram em medidas contra Moraes, retratado aos aliados de Trump como símbolo de autoritarismo judicial no Brasil. Segundo fontes próximas ao governo americano, a dupla esteve com funcionários da Casa Branca “mais vezes do que consigo contar”.

A atuação dos dois causou perplexidade e frustração entre diplomatas brasileiros. Integrantes do Itamaraty afirmam que o governo Lula não foi consultado previamente sobre a revogação dos vistos de ministros do STF, tampouco recebeu qualquer notificação formal sobre eventuais sanções em estudo. A sensação entre os quadros da diplomacia é de que a estrutura institucional brasileira foi desconsiderada, substituída por uma rede informal de influência alinhada aos interesses políticos e ideológicos da família Bolsonaro.

No Palácio do Planalto, o clima é de alerta. Embora o governo ainda não tenha se manifestado oficialmente sobre os últimos episódios, assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já classificam o momento como uma ruptura inédita nas relações bilaterais com os Estados Unidos. Entre as medidas em discussão estão o retorno da embaixadora ao Brasil e uma reavaliação da política externa diante do novo cenário imposto pela interlocução direta entre Eduardo Bolsonaro e o governo Trump.

Fonte: The Washington Post, CNN Brasil

Compartilhe:

Leia Também

plugins premium WordPress