Diddy é culpado — mas não do que queriam

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Eles queriam a máfia. Queriam um Don Corleone do hip hop, com engrenagens criminosas funcionando sob ordens murmuradas ao pé do ouvido. Queriam provar RICO — essa peça de artifício jurídico feita sob medida para destruir impérios subterrâneos. O que encontraram, no entanto, foi um pervertido.

Um homem com gostos minuciosamente grotescos: viciado, violento, e obcecado por espetáculos privados em que homens besuntados em óleo de bebê Johnson eram colocados como brinquedos vivos em cenas que nem o Marquês de Sade imaginaria com tanta produção.

Provaram que Sean Combs bate em mulher, que cheira o que vê pela frente, que domina pelo medo e pelo vício. Provaram que odeia mulheres do modo mais íntimo e destrutivo — o modo de quem as consome e as desmantela. Mas não conseguiram provar a conspiração. O RICO escorreu dele como escorre o óleo das costas nuas de seus parceiros de fetiche.

Foi Cassie quem o entregou — depois de onze anos. Onze anos ao lado de seu algoz, organizando orgias com a mesma eficiência de uma assessora de palco. Ela apanhou, ficou, participou. E isso, para o júri, foi demais. O que o júri não disse — mas pensou — é que mulher que fica não pode depois posar de vítima. O que não entenderam — ou se recusaram a entender — é que a vítima às vezes só descobre que é vítima quando já está completamente moldada à cela.

Queriam a máfia. Encontraram o espelho sujo da América: o show, o vício, o abuso. Um império depravado, sim — mas pessoal, íntimo, suado. E isso, talvez, tenha sido ainda mais difícil de engolir.

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