Comissão Europeia apresenta orçamento com 101% de gastos e vira piada em Bruxelas

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A proposta de orçamento de longo prazo apresentada pela Comissão Europeia nesta quarta-feira (16) rapidamente se tornou alvo de chacota em Bruxelas — e não sem motivo. Com um gráfico que somava 101% de alocação de recursos, um evento repleto de confusão e atrasos e ausência total de articulação política, o novo Quadro Financeiro Plurianual (MFF) foi descrito como um “show de horrores” por membros do próprio bloco.

A reunião que deveria marcar o lançamento de um novo ciclo de investimentos da União Europeia — com cifras próximas a € 2 trilhões — resultou em críticas unânimes, inclusive de aliados próximos da presidente da Comissão, Ursula von der Leyen. Embaixadores participaram de reuniões sem ter acesso aos documentos, comissários foram informados pela imprensa e não por canais oficiais, e os próprios representantes da Comissão chegaram ao evento com quatro horas de atraso.

“Eu não faço a menor ideia do que está acontecendo”, desabafou o eurodeputado Siegfried Mureșan, do mesmo partido de von der Leyen (EPP). Reuniões precisaram ser canceladas ao longo do dia por pura falta de organização.

Um plano bilionário que não agradou ninguém

Segundo o plano, € 1,82 trilhão seriam destinados a programas estratégicos da União, enquanto € 165 bilhões iriam para o pagamento de dívidas assumidas durante a pandemia da COVID-19. As maiores fatias seriam para programas nacionais e regionais (€ 895 bilhões) e para fortalecer a competitividade econômica (€ 589 bilhões) — este último com aumento de quase 50% em relação ao ciclo anterior.

Von der Leyen classificou o plano como o “mais ambicioso, estratégico e transparente” já elaborado pela UE. Mas seu discurso otimista não resistiu ao bombardeio de críticas que veio a seguir.

Agricultores em pé de guerra

Um dos principais focos de indignação veio do setor agrícola. A proposta prevê um corte de mais de € 80 bilhões na Política Agrícola Comum, reduzindo os subsídios de € 386 bilhões para € 300 bilhões. A resposta foi imediata: protestos foram convocados, e líderes do setor acusaram a Comissão de “declarar guerra” aos agricultores.

Estão jogando fora 70 anos de história“, afirmou Massimiliano Giansanti, principal representante do setor agrícola. “Estamos prontos para reagir.

Do lado político, Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, criticou duramente a destinação de recursos para a Ucrânia, acusando Bruxelas de abandonar os produtores europeus. Já Alemanha e Holanda rejeitaram o crescimento do orçamento e pediram mais eficiência no uso dos recursos.

A batalha por recursos está apenas começando

Apesar das promessas da Comissão de que a agricultura continuará protegida, a falta de confiança entre os estados-membros ficou evidente. O plano agora passará por uma longa rodada de negociações com os governos nacionais, que deve durar até dois anos. Somente após isso o MFF poderá entrar em vigor — com validade entre 2028 e 2034.

No entanto, a desorganização da apresentação e a má recepção política colocaram em xeque não apenas o conteúdo do orçamento, mas também a liderança de Ursula von der Leyen à frente da Comissão. O episódio serviu como mais um sintoma da crescente instabilidade política dentro da União Europeia — e um sinal de alerta para o futuro do bloco.

Fontes: Euractiv, Politico Europe, EU News

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