Patrimônio saqueado: Turquia reavê estátua romana contrabandeada por magnata dos EUA

Uma estátua que especialistas acreditam representar o imperador e filósofo romano Marco Aurélio será repatriada à Turquia após anos de batalhas judiciais. A figura faz parte do acervo do Museu de Arte de Cleveland, no estado americano de Ohio, desde 1986. “A história em seu devido lugar é linda, e nós vamos preservá-la“, comemorou o ministro da Cultura e Turismo turco, Mehmet Nuri Ersoy. Um voo fretado da Turkish Airlines levará a obra de volta a seu país nos próximos dias. Datada de aproximadamente 50 a 250 d.c., a peça mede 1,93m e tem sua identidade contestada por pesquisadores. Acadêmicos concordam tratar-se de uma representação romana, mas o fato de a estátua ter tido sua cabeça danificada dificulta a efetiva indicação do retratado. O próprio Museu demonstra incerteza, afirmando em nota recente que “sem cabeça ou inscrição, a identidade da estátua segue incerta“. O próprio recibo de aquisição – cercado de controvérsias – descrevia a estátua como “provavelmente Marco Aurélio“. Investigadores acreditam que a imagem fazia parte do sítio arqueológico de Sebasteion, na atual cidade de Burdur, no sudoeste da Turquia. O santuário, que abrigava diversas estátuas de dignatários romanos, teria sido soterrado por um terremoto e, então, saqueado por habitantes locais. Posteriormente, uma rede de tráfico internacional de obras de arte a adquiriu. Após passar por restaurações ilegais na Suiça e no Reino Unido, foi vendida a colecionadores, chegando, finalmente, aos Estados Unidos, onde o Museu de Arte Cleveland a comprou por US$ 1,86 milhão. Estima-se que, neste momento, seu valor de mercado já supere os US$ 20 milhões. Entre os supostos participantes da quadrilha envolvida em sua aquisição estaria Robert Hetch, milionário americano acusado repetidas vezes de tráfico de antiguidades. Entre os casos mais notórios, Hetch teria contrabandeado um vaso grego, posteriormente vendido por US$ 1 milhão de dólares, além de traficar obras de arte da Itália e moedas históricas turcas. Marco Aurélio liderou o Império Romano por aproximadamente 20 anos, entre 161 d.c. e 180 d.c. Ele foi um dos “Cinco Bons Imperadores“, período marcado por estabilidade, em que Roma atingiu seu ápice territorial. Sua morte marcou um ponto de virada no império, com conflitos e uma guerra civil eclodindo poucos anos depois. O retorno de obras de arte a seus países de origem tem ganhando força nos últimos anos, com instituições de renome devolvendo peças históricas supostamente adquiridas de modo ilegal. Em Nova Iorque, diversos museus concordaram em entregar 4.600 artefatos a seus donos e locais originais, em casos que envolvem de colonialismo a peças roubadas durante o Nazismo. No início deste ano, em caso celebrado como um marco, a Holanda retornou à Nigéria os Bronzes de Benin, que teriam sido expropriados durante a ocupação britânica da África. Fontes: AA, Smithsonian Magazine, New York Times, Al Jazeera

Comissão Europeia apresenta orçamento com 101% de gastos e vira piada em Bruxelas

A proposta de orçamento de longo prazo apresentada pela Comissão Europeia nesta quarta-feira (16) rapidamente se tornou alvo de chacota em Bruxelas — e não sem motivo. Com um gráfico que somava 101% de alocação de recursos, um evento repleto de confusão e atrasos e ausência total de articulação política, o novo Quadro Financeiro Plurianual (MFF) foi descrito como um “show de horrores” por membros do próprio bloco. A reunião que deveria marcar o lançamento de um novo ciclo de investimentos da União Europeia — com cifras próximas a € 2 trilhões — resultou em críticas unânimes, inclusive de aliados próximos da presidente da Comissão, Ursula von der Leyen. Embaixadores participaram de reuniões sem ter acesso aos documentos, comissários foram informados pela imprensa e não por canais oficiais, e os próprios representantes da Comissão chegaram ao evento com quatro horas de atraso. “Eu não faço a menor ideia do que está acontecendo”, desabafou o eurodeputado Siegfried Mureșan, do mesmo partido de von der Leyen (EPP). Reuniões precisaram ser canceladas ao longo do dia por pura falta de organização. Um plano bilionário que não agradou ninguém Segundo o plano, € 1,82 trilhão seriam destinados a programas estratégicos da União, enquanto € 165 bilhões iriam para o pagamento de dívidas assumidas durante a pandemia da COVID-19. As maiores fatias seriam para programas nacionais e regionais (€ 895 bilhões) e para fortalecer a competitividade econômica (€ 589 bilhões) — este último com aumento de quase 50% em relação ao ciclo anterior. Von der Leyen classificou o plano como o “mais ambicioso, estratégico e transparente” já elaborado pela UE. Mas seu discurso otimista não resistiu ao bombardeio de críticas que veio a seguir. Agricultores em pé de guerra Um dos principais focos de indignação veio do setor agrícola. A proposta prevê um corte de mais de € 80 bilhões na Política Agrícola Comum, reduzindo os subsídios de € 386 bilhões para € 300 bilhões. A resposta foi imediata: protestos foram convocados, e líderes do setor acusaram a Comissão de “declarar guerra” aos agricultores. “Estão jogando fora 70 anos de história“, afirmou Massimiliano Giansanti, principal representante do setor agrícola. “Estamos prontos para reagir.“ Do lado político, Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, criticou duramente a destinação de recursos para a Ucrânia, acusando Bruxelas de abandonar os produtores europeus. Já Alemanha e Holanda rejeitaram o crescimento do orçamento e pediram mais eficiência no uso dos recursos. A batalha por recursos está apenas começando Apesar das promessas da Comissão de que a agricultura continuará protegida, a falta de confiança entre os estados-membros ficou evidente. O plano agora passará por uma longa rodada de negociações com os governos nacionais, que deve durar até dois anos. Somente após isso o MFF poderá entrar em vigor — com validade entre 2028 e 2034. No entanto, a desorganização da apresentação e a má recepção política colocaram em xeque não apenas o conteúdo do orçamento, mas também a liderança de Ursula von der Leyen à frente da Comissão. O episódio serviu como mais um sintoma da crescente instabilidade política dentro da União Europeia — e um sinal de alerta para o futuro do bloco. Fontes: Euractiv, Politico Europe, EU News

Acabou o dinheiro? Senado dos EUA aprova corte bilionário no financiamento público à “TV Cultura” americana

Após mais de 12 horas de negociações, o Senado dos Estados Unidos aprovou, na madrugada desta quinta-feira (17), um pacote de medidas proposto pelo presidente Donald Trump que prevê cortes significativos no financiamento público à mídia — com foco especial na PBS e na rede de rádios NPR. Se sancionado, o projeto poderá retirar até US$ 9 bilhões do orçamento, afetando desde transmissões de TV até programas de ajuda humanitária internacional. Entre os cortes mais significativos, destaca-se a redução de US$ 1,1 bilhão para mídia, o que praticamente elimina os recursos alocados para tal fim nos próximos dois anos. A redução, se confirmada, representará um impacto severo nas contas da PBS, rede de televisão com foco em conteúdo educativo e cultural. O canal, uma espécie de TV Cultura local, opera em um modelo sem publicidade, tendo no repasse público uma de suas principais linhas de financiamento. “Foi apenas 0,1% da despesa pública federal, mas é um passo na direção correta“, comemorou John Thune, senador republicano da Dakota do Sul, lembrando que esta foi a primeira vez em 35 anos que um pacote do tipo foi aprovado. Em 2018, durante o primeiro mandato de Trump, uma proposta similar, envolvendo cortes de US$ 15 bilhões, foi rejeitada. Opositores das medidas – não apenas no partido Democrata, mas inclusive no próprio partido Republicano – criticaram a “falta de transparência” na condução das deliberações. “Os republicanos estão colocando uma venda sobre os próprios olhos“, criticou um democrata, enquanto um senador republicano disse que aquele estilo de negociação “não pode se tornar um precedente“. “Doutrinação” da PBS na mira de Trump Os cortes no financiamento público à mídia, especialmente à PBS e à rede de rádios NPR, são propostas feitas por Trump ainda na corrida presidencial, pois considera seu conteúdo excessivamente progressista. “A ultrajante doutrinação das crianças americanas já foi longe demais, e o pacote do presidente Trump vai por um fim nesse absurdo financiado pelo contribuinte“, afirmou em nota a Casa Branca. Em maio deste ano, o governo federal já havia cancelado outra subvenção direcionada à PBS, no valor de US$ 23 milhões. À época, o Departamento da Educação, responsável pela concessão do recurso, afirmou que o corte era fruto do foco da rede em “justiça racial“. “É muito importante que todos os republicanos apoiem a proposta e, especialmente, CORTEM O FINANCIAMENTO À PBS E À NPR, que são piores que CNN e MSNBC juntas“, disparou o presidente em sua rede social, avisando que “qualquer republicano que votar para ajudar essas monstruosidades a continuar operando não receberá meu apoio“. Os recursos públicos respondem por cerca de 15% do orçamento da PBS, e a rede já afirmou que terá dificuldades para encontrar financiamento alternativo. “Não há como compensar. Vamos acabar fazendo muito menos do que conseguimos fazer hoje“, lamentou Sara DeWitt, gerente geral da PBS Kids, subsidiária focada em conteúdo para crianças em idade pré-escolar. A rede oferece ainda material em vídeo para professores, atividades interativas e planos para auxiliar em sala de aula. Corrida por sanção e críticas da oposição O pacote de cortes segue agora para a Câmara, onde já havia sido aprovado. No entanto, em virtude das mudanças no Senado, precisará passar por nova votação. As medidas têm até sexta-feira para chegar à mesa de Trump, senão o financiamento necessariamente seguirá. Fontes: Kid Screen, Politico, The Hill

Manda quem tem voto… corre atrás quem tem juízo

Ao longo da carreira, tive a oportunidade de participar de — poucas, que o bom Deus seja louvado — reuniões com representantes de alto escalão do poder público. Em uma dessas ocasiões, ao debater o eterno conflito entre técnica e política, um figurão foi cirúrgico: — “Nós entregamos a solução técnica“, ele disse calmamente, antes de concluir, “mas manda quem tem voto“. Anos-luz — e muitos bilhões de euros — separam uma humilde sala de prefeitura do suntuoso Berlaymont Building, onde os dignatários da Comissão Europeia dão expediente. Ainda assim, do búlgaro ao sueco, discurso semelhante já deve ter sido proferido pelos corredores em todas as 24 línguas oficiais da União Europeia (UE). Em semanas recentes, é provável que ainda mais. Na última quinta-feira (10), Ursula von der Leyen, presidente da Comissão, braço executivo da UE, sobreviveu sem dificuldades a uma moção de censura movida pela extrema-direita. A proposta teve como justificativa o “Pfizergate“, escândalo em que a dignatária alemã é acusada de beneficiar a farmacêutica Pfizer na compra de vacinas durante a pandemia do COVID-19. “Quando forças externas tentam nos desestabilizar, é nosso dever responder de acordo com nossos valores. Obrigada e vida longa à Europa“, — celebrou Ursula von der Leyen no X. Vitória de Pirro e sorriso amarelo Ainda que em nenhum momento o risco tenha sido real para von der Leyen, de todo o desenrolar até o voto — entre indiretas, acusações veladas e sabatinas públicas — era evidente a insatisfação dos aliados com as recentes mudanças de postura da Comissão em diversos temas sensíveis. “Eu sugiro à presidente que não considere a votação reconfortante. Muitos só foram contra porque a proposta partiu da extrema-direita“, Bas Eickhout, co-presidente do grupo dos Verdes, alertou. Um porta-voz do grupo Renovar Europa disse inclusive que diversos membros votariam contra “com o coração pesado“. Assumindo o cargo pela primeira vez em 2019 e reconduzida 5 anos depois, von der Leyen — previamente ministra da Defesa alemã — foi eleita em uma plataforma que prometia tornar a Europa o “primeiro continente com emissão zero até 2050“, lançando para isso um “Green Deal” nos 100 primeiros dias de gestão. Defendia também “fronteiras europeias humanizadas“, clamando por solidariedade e citando a história do refugiado sírio de 19 anos que recebera em sua própria casa, considerado por ela como “uma inspiração para todos“. O presente, porém, costuma ser o pior inimigo do passado, e o hoje da Europa foi cruel com o ontem de von der Leyen. Confrontada por mudanças significativas na opinião pública — refletida em reiterados resultados positivos para a direita e a extrema-direita a nível europeu e local —, a alemã não hesitou em se adaptar, flexibilizando sua postura em questões como sustentabilidade e imigração. Curva suave à direita Lá — tal qual cá, e deixo livre à criatividade do leitor encaixar exemplos concretos —, novos tempos pediram novos comportamentos, e a presidente acatou. E, gradativamente, afastou seu grupo, o Partido Popular Europeu (EPP), de sua base de apoio original, composta pelos grupos Socialistas e Democratas (S&D), Renovar Europa e Verdes, alinhados do centro à esquerda. Passou a contar cada vez mais com os grupos à direita para avançar suas propostas e, com isso, se viu forçada a ceder a eles campo em suas iniciativas. Em outubro de 2024, por exemplo, von der Leyen defendeu, em carta enviada aos líderes dos países-membros, a instalação de “centros de retorno” para deter imigrantes em países fora da União Europeia. Paralelamente, ventilou a criação de “centros de processamento” para que interessados protocolassem os pedidos de asilo ao bloco além de suas fronteiras, e debateu ainda a ampliação dos países considerados seguros para receber deportados. A guinada à direita ficou clara durante negociações preliminares sobre o orçamento de 2025, quando o EPP abandonou, no último momento, acordo prévio com partidos de esquerda e se aliou a grupos nacionalistas para tentar incluir dotação orçamentária para “barreiras físicas nas fronteiras externas do bloco” e “avaliar o desenvolvimento de centros de retorno“. Os debates fracassaram, e a mudança de postura gerou insatisfação interna, com um membro afirmando que “apesar de essa ter sido uma decisão do grupo, eu a considero errada“. Nas políticas climáticas, situação similar. Apesar de ser apontado pela presidente como uma de suas principais conquistas, o Green Deal não foi poupado. Abrangente, propõe reestruturar toda a economia europeia, da agricultura à indústria, de modo a compatibilizá-la com as necessidades sustentáveis de um mundo em transformação. Pressionada, porém, von der Leyen não teve opção a não ser apoiar Manfred Weber, presidente do EPP, em suas medidas de flexibilização do programa. Exigências de redução de emissões foram relaxadas, dotações foram redirecionadas e regras para empresas e indústrias foram simplesmente descartadas. Os aliados da alemã defendem que o coração do Green Deal segue intacto e afirmam que a presidente se mantém comprometida com ele. Admitem, porém, que, frente à nova realidade, ele precisa passar por “adaptações“. Em julho deste ano, o EPP novamente reafirmou sua posição, recusando dar suporte à iniciativa dos partidos de esquerda que impediria uma maior influência do grupo Patriotas da Europa sobre as discussões dos objetivos climáticos do bloco para 2040. Agora, o Patriotas, opositor expresso da agenda verde da UE, será o responsável por desenvolver a proposta e defendê-la em negociações com os países-membros. Para os Verdes, a recusa do EPP foi “escandalosa, irresponsável e imperdoável”. Amigos, amigos… votos à parte Como esperado, a mudança em 360° da Comissão Europeia, com von der Leyen no volante, não passou despercebido ou ileso pelos corredores políticos europeus. À esquerda, resignação, com o S&D resmungando que “o voto de hoje mostra claramente que o EPP prefere colaborar com a extrema-direita“. Do outro lado, comemoração e uma pitada de deboche. Enikő Győri, parlamentar do Fidesz, partido do húngaro Viktor Orban, avisou que “o EPP precisa aprender que sua única chance de corrigir os erros da política econômica europeia é ao nosso lado“. A questão é que aqui, novamente, a verdade surge de forma gritante. A democracia é um bicho curioso: suas

Receita tupiniquim com tempero americano: a batalha de Trump contra o presidente do Banco Central dos EUA

Um projeto de reforma bilionário se tornou a mais recente arma na batalha entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano. “Jerome Powell é muito ruim para o nosso país“, disparou Trump no último domingo (13). “Nós deveríamos ter a menor taxa de juros do mundo, mas não temos. E, enquanto isso, Powell está gastando US$ 2,5 bilhões reformando a sede do Fed“. A controvérsia gira em torno do projeto de renovação de dois prédios históricos que a instituição utiliza como sede. O Fed afirma que a reforma vai reduzir despesas no futuro ao consolidar suas operações. Os custos das obras, porém, seguem em franca expansão, passando de US$ 1,9 bilhão em 2023 para os US$ 2,5 bilhões estimados no orçamento deste ano. Segundo os documentos, os aumentos são fruto de gastos maiores com prestadores de serviço de eletricidade, encanamento e mecânica. Críticos, porém, afirmam que as cifras crescem em virtude de “extravagâncias” do chefe do Fed, apelidando o projeto de “Taj Mahal no National Mall“, em referência ao icônico parque da capital americana, onde se localizam os prédios. Um membro – recém-empossado por Trump – da agência federal que analisa projetos como o do Fed afirmou que requererá em breve uma análise da reforma e uma visita ao local das obras. Aliados de Trump sugerem demissão por justa causa Aproveitando a oportunidade, uma série de aliados de Donald Trump investiram contra Powell e a gestão atual do Fed, a quem acusam de “imprimir dinheiro à vontade e jogar fora de qualquer jeito“. “É ultrajante“, afirmou Kevin Warsh, ex-membro do Fed cotado para substituir Powell em uma eventual saída. “Quem sabe uma nova pintura, ou alguns terminais novos para nos ajudar a cuidar da política monetária. A meu ver, precisamos de mudança de gestão no Fed. Não é só o presidente, é todo um grupo de pessoas“. Outros foram além, acusando Powell de ter mentido em uma audiência no congresso para tratar das reformas em andamento. Para Bill Pulte, diretor da agência responsável por administrar financiamentos imobiliários federais, o comportamento de Powell justificaria até mesmo sua demissão por justa causa. Batalha por juros desde o início do mandato De maneira bastante similar ao já visto em outras regiões do planeta, Donald Trump trava, desde o primeiro dia de mandato, batalha ferrenha com Jerome Powell centrada na condução da política monetária americana. Trump defende redução dos juros, o que, em sua visão, aceleraria a atividade econômica americana e daria mais fôlego ao país em seus conflitos comerciais e tarifários. Powell, por sua vez, não se deixa abalar, limitando-se a dizer que as decisões do Fed “seguem os dados disponíveis“. “Eu espero que ele renuncie“, disse Trump, que já afirmou em diversas ocasiões que não pretende demitir Powell – medida juridicamente controversa. “Ele deveria renunciar“. Reservado, o presidente do Fed comentou apenas que não tem “qualquer intenção de renunciar“. Uma possível saída antecipada de Powell – seja voluntária ou não – teria severas implicações sobre o mercado. George Saravelos, diretor no Deutsche Bank, aponta que o movimento seria interpretado como uma clara redução na independência do Fed. “As evidências apontam que, nessa situação, tanto a moeda quanto os títulos podem colapsar, e as expectativas de inflação disparariam em virtude da erosão da credibilidade“, explicou o economista. “No geral, o prêmio de risco vai aumentar“. O mandato de Powell como presidente se encerra no início de 2026. Ele terá, porém, ainda mais 2 anos como membro do conselho de governadores, deixando o banco central americano efetivamente apenas em 2028. Historicamente, no entanto, os presidentes tendem a sair junto ao fim de seus termos de direção. Até que saia, porém, seja em 2026, 2028 ou mesmo antes, é improvável que Trump e seus aliados reduzam a pressão. Russel Vought, chefe da agência reguladora que analisa os gastos do governo federal, foi direto: “A atitude patriótica de Powell seria renunciar“. Fontes: Yahoo Finance, Bloomberg, The Hill

Para inglês ver? Não! Para europeu ver: União Europeia afrouxa combate à corrupção e perde €120 Bi ao ano

Projeto obtido pelo portal Euractiv mostra que a União Europeia (UE) reduziu deliberadamente sua estratégia anticorrupção para os próximos anos. Agora, em lugar das reformas estruturais originalmente aventadas, apenas requisitos mínimos e “intenções de mudanças” serão exigidos. O documento deve ser apresentado aos comissários do bloco junto à proposta de Orçamento Multianual (MFF), ainda este mês. “Estamos apenas administrando a tensão, não lidando com ela“, admitiu um alto servidor da Comissão Europeia, órgão executivo do bloco. “Se queremos pedir a nossos cidadãos que aceitem disciplina orçamentária, a primeira coisa que devíamos fazer era mostrar que o dinheiro não está sendo roubado“, disse outro. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão, prometeu em 2024 iniciar campanha ferrenha contra a fraude orçamentária. Estimativas apontam que as perdas por corrupção custam ao bloco em torno de € 120 bilhões por ano. No caso de desvios ligados diretamente ao orçamento, as cifras anuais superam € 1 bilhão. Pressionada, porém, a presidente – ela própria respondendo no Parlamento por suposto conluio com a americana Pfizer para facilitar a compra de vacinas durante a pandemia da COVID-19 – parece ter preferido a cautela burocrática, empurrando as mudanças para 2026. No centro do debate está a indefinição de competências entre as duas agências responsáveis por garantir a integridade do orçamento do bloco. A OLAF, de cunho administrativo e ligada diretamente à Comissão, investiga e determina a reposição dos fundos desviados. Já a segunda, EPPO, de âmbito judicial, é independente e é quem efetivamente pode confiscar os recursos roubados. Servidores confidenciam que, para evitar desgastes com um lado ou outro, a Comissão se esquiva de lidar com o problema. “Assim, acabamos com um status quo que não satisfaz ninguém“, afirmou um deles. “Gates” em série assolam UE Escândalos estão longe de serem casos isolados no dia a dia da UE. De fraudes orçamentárias a nepotismo, passando pelo constante entra e sai de servidores para empresas e consultorias e chegando a relações espúrias com governos estrangeiros, a sensação de impunidade é disseminada em Bruxelas. Além do já conhecido “Pfizergate“, outras casos similares – ou “gates” como acabaram conhecidos – ficaram célebres, como o “Catargate“, em que o país árabe ofereceu vantagens financeiras a parlamentares em troca de influência política; e o “Huaweigate“, em que a empresa chinesa subornou executivos do bloco. Outra situação de destaque envolveu a nomeação por parte da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, de seu cunhado como chefe de gabinete. “O descaso com a ética e a falta de prestação de contas das instituições da UE reduz a confiança da população e ainda serve de munição para adversários dentro e fora do bloco“, apontou Alberto Alemanno, professor de direito europeu da universidade HEC Paris. Envolvendo valores superiores a € 1,2 trilhão, o MFF ditará os compromissos financeiros da UE pelos próximos 7 anos. Para Gilles Boyer, parlamentar do grupo Renovar Europa, o enfraquecimento das medidas contra fraudes expõe o bloco. “A luta contra o desperdício é essencial, indispensável, para garantir a integridade e a eficiência das finanças públicas“. Fontes: Euractiv, Politico Europe

“Mapa da Morte”: EUA sabiam do risco no Camp Mystic, mas liberaram construção

Ao longo dos últimos 15 anos, a FEMA, agência federal que lida com emergências nos Estados Unidos (EUA), concedeu diversos recursos ao Camp Mystic. Ela o excluiu de seus mapas de inundação e permitiu, com isso, que o acampamento ignorasse exigências básicas de segurança e se expandisse por áreas de risco. Recentemente, 27 pessoas, entre crianças, jovens alunas e funcionários, perderam suas vidas no Camp Mystics nas enchentes que assolaram o Texas no início de julho. Já em 2011, reportou a Associated Press, mapas da FEMA demonstravam que a maior parte das construções do Camp Mystic localizava-se em regiões sujeitas a inundações. Em 2013, novamente, um estudo demonstrou que 6 das 15 cabanas do acampamento localizavam-se em elevações extremamente próximas ao nível de alagamento esperado para eventos extremos. A inclusão das construções no que a agência chama de “Área de risco de inundação especial” proíbe a construção em determinadas áreas de perigo extremo, além de impor requisitos mínimos e exigir seguro para a construção em outras onde o risco é alto. Em todos os casos, o Camp Mystic recorreu e a FEMA acatou os apelos, retirando os acampamentos do que considerava como áreas afetadas. “É um acampamento para crianças. A gente espera que você vá além dos mínimos para dar segurança contra inundações“, lamentou Sarah Pralle, pesquisadora do assunto na Universidade de Syracuse. Ela se disse “perplexa” com a atitude dos organizadores e reguladores. Ainda que as enchentes do último dia 04 tenham sido extremamente superiores ao risco previsto nos mapas – que consideram a probabilidade de um evento extremo em 100 anos – o descaso demonstrado ao longo do período foi considerado por Pralle como “extremamente perturbador“. “Para mim, é um mistério: eles não só não tomaram a iniciativa de retirar as cabanas da área de risco, como contestaram sua inclusão nos mapas.” As mudanças após o recurso de 2013 retiraram 15 construções das regiões consideradas de risco. Análise da AP mostrou que a maior parte delas se localiza na área mais afetada pela inundação do início do mês. Novas exceções foram concedidas em 2019 e 2020, para cabanas também atingidas pelas enchentes. Nestas, porém, os danos foram menos severos. A retirada da designação como área de risco permitiu ao acampamento continuar seu processo de expansão pela região, construindo novas cabanas e atraindo mais público. Especialistas afirmaram que os recursos ao mapeamento da FEMA são estratégia comum dos proprietários, que geralmente têm seus pedidos acatados. A FEMA se defendeu dizendo que “os mapas são apenas fotografias no tempo. Não tem capacidade de prever onde as inundações vão ocorrer nem onde ocorreram“. Pralle, de Syracuse, porém, discorda: “Não é hora de brigar com os mapas. Precisamos expandi-los.” Fontes: AP News, The New York Times

UE sobe o tom e acusa China de manipular comércio internacional

Na última terça-feira (08), a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, acusou a China de distorcer o comércio e dificultar o acesso de empresas europeias ao mercado chinês. A declaração foi dada ao Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo. A parceria entre China e Europa precisa de “menos distorção de mercado, menos excesso de produção exportado, e mais acesso justo e recíproco para as empresas europeias“, defendeu von der Leyen. Ela afirmou que o país asiático “inundou o mercado com produtos baratos e subsidiados“, o que permitiu a Pequim dominar diversos setores, de painéis solares a refino mineral. “Indústrias ocidentais inteiras fecharam“, afirmou a dignitária. Comentando as dificuldades enfrentadas pelas firmas europeias ao acessar o mercado chinês, von der Leyen classificou o sistema de compras públicas chinês como “explicitamente manipulado“. Segundo ela, qualquer produto “made in China” recebe automaticamente 20% de vantagem nas licitações locais. “É completamente injusto“. A China não respondeu oficialmente às declarações. As palavras da chefe do braço executivo da União Europeia sobem ainda mais o tom já tenso entre as partes. No final de julho, nos dias 24 e 25, uma delegação europeia, liderada por von der Leyen e Antônio Costa, presidente do Conselho Europeu, será recebida por seus homólogos chineses em Pequim e outras cidades. A China, porém, já anunciou o cancelamento de parte do encontro. Os pontos de divergência que dificultam o entendimento são diversos, mas central entre eles está a interrupção da exportação de terras raras por parte de Pequim, que atingiu de maneira severa diversos setores da indústria europeia. Bruxelas, por sua vez, vem impondo tarifas significativas sobre a importação de veículos elétricos chineses, os quais acusa de receberem subsídios governamentais que distorcem seu preço. No início deste ano, analistas acreditaram que o receio mútuo do tarifaço imposto por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, pudesse estimular uma aproximação entre China e UE. Até este momento, porém, as esperanças não se materializaram. Fontes: Bloomberg, Yahoo Finance, Caliber

Taiwan realiza os maiores jogos militares de sua história

Na última quarta-feira (9), Taiwan deu início a edição de 2025 de seus jogos militares anuais, o Han Kuang. Os exercícios terão duração de 10 dias, avaliando a capacidade do país de resistir a uma invasão chinesa à ilha. Este ano, a mobilização envolverá aproximadamente 22.000 reservistas, maior número da história. Novos cenários serão testados, especialmente aqueles relacionados a ataques cibernéticos e desinformação. “Os comandantes precisam pensar em quais desafios as tropas poderão enfrentar, e então passá-los a seus subordinados“, explicou um oficial taiwanês, citando o conflito na Ucrânia como principal referência de combate real. Os exercícios abrangerão situações como o bloqueio naval imposto por Pequim a ilhas próximas, manobras para repelir o desembarque de tropas chinesas no território e medidas para lidar com ataques aos sistemas de comando e comunicação do país durante o conflito. Nesta edição, os jogos militares serão combinados a exercícios de resiliência civil, de forma a testar o quão preparada está a sociedade taiwanesa como um todo para enfrentar ameaças à soberania do país. A ideia é estimular a cooperação dos setores público e privado e aumentar a participação e consciência popular quanto à defesa da ilha. “Esse será o Han Kuang mais intenso que já fizemos“, disse o general Tung Chi-hsing, responsável pela divisão de planejamento do Estado Maior taiwanês. “O treinamento imagina uma guerra disputada em estágios, nas praias, nas cidades e pela sociedade“. O início dos jogos vem um dia após um representante chinês classificar de “inevitável” a reunificação de Taiwan à China. Pequim considera a ilha como uma província separatista, e vem gradativamente elevando a pressão – política e militar – sobre Taiwan. “Não importa como se saiam ou que armas usem, eles não tem como resistir à espada da anti-independência e a tendência histórica da reunificação à pátria-mãe“, declarou o porta-voz do ministério da Defesa chinês, Jiang Bing. “O Han Kuang nada mais é do que um blefe, um truque do Partido Democrático Progressista“. Diante das ameaças, os militares taiwaneses preferem não economizar no treinamento. Comentando a estratégia de prover às tropas informações mínimas sobre os exercícios, um oficial disse que “o objetivo é estar preparado para inesperado“. Fontes: Reuters, Al Jazeera, Focus Taiwan, South China Morning Post

França vira exemplo de fracasso fiscal: maior déficit público da Zona do Euro e um caos político

A Europa está novamente no radar do mercado, mas a França corre o risco de ficar de fora. Sufocada por problemas fiscais e paralisada pela constante balbúrdia política, a segunda maior economia da União Europeia (UE) vê os investidores se afastando, em busca da estabilidade alemã ou de oportunidades promissoras em economias menores, como a Espanha. Até mesmo geografias outrora relegadas, como a Grécia, vêm sendo priorizadas. “Enquanto outras economias com alto nível de endividamento – como Portugal, Grécia, Espanha e Itália – se aproveitaram por anos da inflação elevada para ajustar sua relação dívida/PIB, a França destoa cada vez mais“, criticou o ex-primeiro-ministro das Finanças Pierre Moscovici. A França registra agora o maior déficit público de toda a Zona do Euro. Para equacionar o problema, a administração do primeiro-ministro François Bayrou propôs cortes de € 40 bilhões para o orçamento de 2026. A aprovação da peça, no entanto, parece tarefa hercúlea. Sem maioria no parlamento, o governo já enfrentou 8 moções de desconfiança desde dezembro de 2024, quando Bayrou assumiu o posto. Seu antecessor, Michel Barnier, perdeu o cargo justamente durante as negociações do orçamento anterior. “Qualquer compromisso trará no máximo medidas temporárias, insuficientes para reduzir a dívida e equacionar o déficit“, apontou Nicolas Forest, CIO da gestora Candriam. O receio dos investidores com a economia francesa se reflete no prêmio de risco cobrado para captação de recursos pelo governo quando comparado às demais economias do continente. Em relação à Alemanha, por exemplo, o prêmio gira em torno de 70 pontos base (bps), significativamente superior aos 50 bps de quando o presidente Emmanuel Macron assumiu. O cenário se repete mesmo no comparativo com economias tradicionalmente mais arriscadas, como Itália e Espanha, o que é, nas palavras de analistas do mercado, “totalmente inusitado“. Segundo Alexandre Bompard, CEO do Carrefour, a incerteza política e fiscal pesa no comportamento das famílias, que compartilham do temor por seu futuro financeiro. “A recuperação dos gastos dos consumidores na França é mais tímida que em nossos outros mercados“, atestou o executivo. Pierre-Olivier Gourinchas, economista do FMI, afirmou que o governo francês não pode mais fugir do problema. “A França não está apartada das leis da gravidade“, disse. “Teremos que nos adaptar“. Fonte: Reuters

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