O presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, afirmou nesta quarta-feira (16), em pronunciamento oficial, que a proteção da comunidade drusa, majoritária na província de Suweida, é uma prioridade para seu governo. A declaração ocorre em meio à intensificação dos combates entre milícias drusas locais e forças do governo, que resultaram na morte de centenas de pessoas nos últimos quatro dias.
Durante um pronunciamento transmitido pela TV estatal, al-Sharaa destacou a importância da “unidade nacional” e disse que sua administração não tolerará ameaças à integridade do país ou à segurança das comunidades minoritárias. Segundo ele, o governo busca um “equilíbrio entre a manutenção da ordem pública e o respeito às especificidades culturais e religiosas” dos drusos.
A fala do presidente ocorre após o cessar-fogo em Suweida, intermediado pelo governo norte-americano, e após pesados bombardeios israelenses à capital Damasco e a soldados do exército sírio que avançavam em direção ao sul. Os combates têm como pano de fundo reivindicações da comunidade drusa por maior autonomia política e insatisfação com a crescente presença militar em áreas civis.
Al-Sharaa também pediu que os líderes locais retomem o diálogo com representantes do governo central, afirmando que “não há solução duradoura fora da mesa de negociações”. Ele defendeu uma abordagem “descentralizada e pragmática” para lidar com as tensões locais, mas deixou claro que o governo “não permitirá a criação de enclaves armados ou paralelos à autoridade nacional”.
Internamente, a resposta do governo à crise em Suweida tem gerado divisões. Enquanto líderes militares defendem uma ofensiva mais dura para retomar o controle total da província, setores civis da administração pressionam por um acordo político que envolva líderes religiosos drusos e representantes comunitários.
A comunidade internacional acompanha a situação com apreensão. A ONU já emitiu alertas sobre o risco de deterioração humanitária, e entidades de direitos humanos relataram o uso excessivo da força por parte do Exército sírio em operações urbanas. Organizações locais denunciam ainda a prisão de líderes comunitários e o cerco a áreas civis por forças estatais, bem como execuções sumárias contra famílias inteiras.
A continuidade dos confrontos pode comprometer a estabilidade da região sul da Síria, onde a relativa calma dos últimos anos havia permitido certo nível de reconstrução e normalidade. O futuro da província dependerá da capacidade do governo de equilibrar repressão e diálogo — algo que, até agora, tem se mostrado instável e arriscado.
Fonte: Reuters