O líder do Hezbollah, Naim Qassem, declarou que o grupo se recusará a entregar seu arsenal, rejeitando publicamente uma proposta dos Estados Unidos que condicionava o desarmamento à retirada de Israel do sul do Líbano. Em vídeo divulgado por mídias do Hezbollah, Qassem afirmou: “não vamos nos render ou entregar nossas armas ao israel; Israel não tomará nossas armas”.
A proposta dos EUA, apresentada pelo enviado especial Thomas Barrack ao governo libanês no mês passado, oferecia apoio econômico e suspensão dos ataques israelenses em troca do desarmamento completo do Hezbollah até o final de 2025. O governo do Líbano respondeu com um documento de sete páginas, hipótese considerada por Barrack como “espetacular” e digna de “satisfação”. Já o primeiro-ministro libanês Nawaf Salam disse que o plano poderia ser viável se vinculado à retirada israelense do território libanês e ao cumprimento do cessar-fogo estabelecido em novembro de 2024.
Desde o fim da guerra devastadora com Israel, entre 2023 e 2024, o Hezbollah vem sofrendo perdas significativas em lideranças e capacidade militar. O grupo iniciou uma revisão estratégica interna para ponderar uma possível redução de seu arsenal — embora não seu desmantelamento total —, visando manter apenas armas leves e mísseis antitanque para defesa, principalmente enquanto Israel mantiver ocupação militar e ataques a alvos libaneses.
Fontes consultadas afirmam que o Hezbollah avalia entregar parte de seus estoques de mísseis e drones se Israel encerrar seus ataques e se retirar do sul do país. Contudo, mantém firme a decisão de manter um componente defensivo significativo, especialmente diante do avanço de grupos jihadistas sunitas na Síria e do sentimento popular entre sua base eleitoral de que o desarmamento seria suicídio político.
Qassem posicionou-se mesmo antes ao rejeitar o desarmamento sob a justificativa de que seria “um presente para Israel” e justificou que a entrega de armas sem a retirada israelense equivale a ceder aos interesses de ocupação. Ele destacou que o Hezbollah não aceitará a proposta dos EUA nem a normalização com Israel até que as ameaças externas sejam removidas de forma substancial.
A proposta dos EUA renovou o debate sobre a soberania libanesa e a consolidação do monopólio de armas pelo Estado, uma meta histórica desde os acordos de Taif em 1989. O presidente Joseph Aoun e o primeiro-ministro Salam reiteraram a intenção de exercer controle estatal sobre todas as armas dentro do país, porém reconhecem a recusa resistente do Hezbollah, que ainda detém força política expressiva.
Apesar da pressão tanto interna quanto internacional, o Hezbollah insiste que sua existência armada é essencial contra a ocupação israelense, enquanto o governo libanês tenta equilibrar reconstrução, segurança e manutenção de sua autoridade legítima.
Fontes: Al Jazeera, Reuters, Politico