A escalada das tensões políticas entre Brasil e Estados Unidos, intensificada após a carta do ex-presidente Donald Trump impondo tarifas de 50% a produtos brasileiros, já provocou uma fuga expressiva de capital estrangeiro da Bolsa de Valores brasileira (B3). O movimento se acelerou nesta sexta-feira (18), após nova operação da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Saída bilionária em julho
De acordo com dados da própria B3 e apuração da coluna Radar Econômico (VEJA), até o dia 17 de julho, investidores estrangeiros já haviam retirado R$ 4,8 bilhões do mercado acionário brasileiro — um dos piores saldos mensais do ano. O número representa uma reversão drástica do otimismo que dominou o início de 2025, quando o país registrava entrada líquida de capital.
Especialistas do mercado apontam que o fluxo negativo está ligado diretamente à instabilidade institucional, somada ao impacto comercial da tarifa norte-americana.
“A carta de Trump foi lida como uma retaliação política, e os mercados passaram a precificar risco jurídico no Brasil. A operação de hoje apenas reforça essa percepção de insegurança institucional“, afirmou um analista da XP Investimentos.
Tarifa de 50% ligou alerta vermelho
A carta de Trump, enviada ao presidente Lula, vinculava diretamente a retirada das tarifas à interrupção dos processos judiciais contra Bolsonaro, gerando preocupações sobre o grau de autonomia entre os Poderes no Brasil. A reação da Justiça brasileira, com a operação desta sexta-feira (18), foi interpretada por parte do mercado como potencial gatilho para mais retaliações comerciais dos EUA.
O temor é de que a crise política contamine setores exportadores estratégicos — como carne bovina, café, suco de laranja e minério —, afetando balança comercial, câmbio e confiança de longo prazo.
- O Ibovespa acumula queda de cerca de 2,4% em julho, rompendo o suporte técnico dos 135 mil pontos.
- O dólar comercial subiu de R$ 4,92 para R$ 5,07 em uma semana, pressionado pela saída de divisas.
- Fundos internacionais reduziram exposição a ativos de risco na América Latina, em especial no Brasil, segundo relatório do JP Morgan divulgado nesta sexta.
Com a operação da PF ainda em curso e novas medidas judiciais sendo consideradas, a projeção para a economia brasileira em julho é de forte volatilidade e menor fluxo de investimentos. O Ministério da Fazenda monitora o movimento e já estuda ações diplomáticas e incentivos fiscais para tentar conter o impacto.
“A janela de investimento estrangeiro no Brasil pode se fechar por meses, caso o país não estabilize seu ambiente político”, alerta o economista-chefe de uma gestora estrangeira, sob anonimato.
Fonte: economia.uol.com.br