“Mapa da Morte”: EUA sabiam do risco no Camp Mystic, mas liberaram construção

Compartilhe:

Ao longo dos últimos 15 anos, a FEMA, agência federal que lida com emergências nos Estados Unidos (EUA), concedeu diversos recursos ao Camp Mystic. Ela o excluiu de seus mapas de inundação e permitiu, com isso, que o acampamento ignorasse exigências básicas de segurança e se expandisse por áreas de risco.

Recentemente, 27 pessoas, entre crianças, jovens alunas e funcionários, perderam suas vidas no Camp Mystics nas enchentes que assolaram o Texas no início de julho.

Já em 2011, reportou a Associated Press, mapas da FEMA demonstravam que a maior parte das construções do Camp Mystic localizava-se em regiões sujeitas a inundações. Em 2013, novamente, um estudo demonstrou que 6 das 15 cabanas do acampamento localizavam-se em elevações extremamente próximas ao nível de alagamento esperado para eventos extremos.

A inclusão das construções no que a agência chama de “Área de risco de inundação especial” proíbe a construção em determinadas áreas de perigo extremo, além de impor requisitos mínimos e exigir seguro para a construção em outras onde o risco é alto. Em todos os casos, o Camp Mystic recorreu e a FEMA acatou os apelos, retirando os acampamentos do que considerava como áreas afetadas.

É um acampamento para crianças. A gente espera que você vá além dos mínimos para dar segurança contra inundações“, lamentou Sarah Pralle, pesquisadora do assunto na Universidade de Syracuse. Ela se disse “perplexa” com a atitude dos organizadores e reguladores.

Ainda que as enchentes do último dia 04 tenham sido extremamente superiores ao risco previsto nos mapas – que consideram a probabilidade de um evento extremo em 100 anos – o descaso demonstrado ao longo do período foi considerado por Pralle como “extremamente perturbador“.

Para mim, é um mistério: eles não só não tomaram a iniciativa de retirar as cabanas da área de risco, como contestaram sua inclusão nos mapas.”

As mudanças após o recurso de 2013 retiraram 15 construções das regiões consideradas de risco. Análise da AP mostrou que a maior parte delas se localiza na área mais afetada pela inundação do início do mês. Novas exceções foram concedidas em 2019 e 2020, para cabanas também atingidas pelas enchentes. Nestas, porém, os danos foram menos severos.

A retirada da designação como área de risco permitiu ao acampamento continuar seu processo de expansão pela região, construindo novas cabanas e atraindo mais público. Especialistas afirmaram que os recursos ao mapeamento da FEMA são estratégia comum dos proprietários, que geralmente têm seus pedidos acatados.

A FEMA se defendeu dizendo que “os mapas são apenas fotografias no tempo. Não tem capacidade de prever onde as inundações vão ocorrer nem onde ocorreram“.

Pralle, de Syracuse, porém, discorda: “Não é hora de brigar com os mapas. Precisamos expandi-los.”

Fontes: AP News, The New York Times

Compartilhe:

Leia Também

plugins premium WordPress