União Europeia e México são os novos alvos de tarifas de Trump

O presidente Donald Trump anunciou em 12 de julho uma nova rodada de tarifas comerciais que promete sacudir alianças históricas e retratar uma era de protecionismo agressivo, ao direcionar suas investidas contra o México e a União Europeia. A medida, que inclui taxas de até 30% sobre europeus e mexicanos, eleva a disputa a um novo patamar, revelando a estratégia “America First” em sua forma mais contundente. A justificativa oficial se baseia em alegações de práticas comerciais injustas, defasagem tecnológica europeia em relação aos EUA e problemas de segurança nacional. A resposta europeia foi rápida. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou em Bruxelas que tarifas de 30% “interromperiam as cadeias de suprimentos transatlânticas essenciais, em detrimento de empresas, consumidores e pacientes em ambos os lados do Atlântico” e sinalizou o caminho da retaliação, com estudos sobre possíveis contramedidas envolvendo tarifas sobre produtos americanos. Um diplomata europeu, que falou sob condição de anonimato, classificou a medida como “um golpe contra parcerias de longa data”, alertando para o impacto inevitável nos setores automotivo, energético e industrial. Concomitantemente, também foi anunciada tarifa de 30% sobre uma vasta gama de produtos mexicanos. A medida mexe profundamente na economia mexicana, que depende dos EUA para 85% de suas exportações, e ameaça consequências para cadeias produtivas inteiras. Segundo fontes ouvidas pelo The Guardian, além das motivações econômicas, Trump mira ganhos políticos internos em um ano eleitoral. A análise sugere que partiu de informações equivocadas sobre práticas comerciais do México e supostas distorções de subsídios europeus em setores como aço, veículos e tecnologia. O envolvimento econômico é relevante. A indústria automotiva norte-americana tem pressionado o governo por proteção contra importações que colocam pressão sobre a produção doméstica, argumentando risco de desemprego em massa e dependência tecnológica. Analistas alertam que a onda de tarifas pode deflagrar uma escalada — lembra a guerra comercial entre EUA e China em 2018 — com EUA tentando ampliar o protecionismo e a Europa articulando um front coeso contra o desmantelamento progressivo do sistema multilateral. A guerra tarifária de 2025 se apresenta mais ampla do que a de 2018, atingindo aliados tradicionais dos EUA com medidas que podem corroer bases diplomáticas e pressionar diversos países a buscarem acordos menos favoráveis para não perder o mercado norte-americano. Fontes: Reuters, The Guardian
Tortura, execuções e enterros secretos: o arquivo mortal de Bashar al-Assad

Uma investigação em curso conduzida pelo New York Times e diversas organizações internacionais expõe a descoberta de extensas valas comuns nas regiões de Najha e de Qutayfah, nos arredores de Damasco — evidências devastadoras da repressão sistemática perpetrada pelo regime de Bashar al‑Assad ao longo de mais de uma década de guerra civil. Após a queda do regime em dezembro de 2024, bombeiros, voluntários e autoridades locais começaram a encontrar covas clandestinas com centenas de corpos em várias regiões do país. Uma das maiores dessas valas, registrada por imagens de satélite, abrange cerca de 40.000 m² e contém estimadas 100 mil vítimas, muitas identificadas por marcas de tortura. Investigadores do Wall Street Journal relataram entrevistas com sobreviventes de Saydnaya, a prisão-tortura símbolo da brutalidade do regime. Testemunhos confirmam execuções em massa, incluindo o assassinato de 600 detentos em apenas três noites durante março de 2023. Documentos do regime e relatos de operários escalados para enterrar os mortos confirmam o caráter burocrático e sistemático dos crimes. Grupos de direitos humanos como Human Rights Watch e Anistia Internacional alertam para a urgência em preservar esses locais e os arquivos do regime — muitos já saqueados ou destruídos — para garantir vestígios cruciais para investigações e julgamentos futuros. Representantes dessas ONGs instam o governo interino — incluindo a recém-criada Comissão Nacional para os Desaparecidos e Comissão de Justiça Transitória — a agir para desvendar os crimes cometidos pelo antigo governo sírio. A ONU também divulgou em janeiro de 2025 um relatório com base em mais de 2.000 testemunhas, denunciando padrão sistemático de detenções arbitrárias, tortura, execuções extrajudiciais e desaparecimentos como “matéria-prima para crimes contra a humanidade“. Stephen Rapp, ex-embaixador de crimes de guerra dos EUA, comparou a máquina de morte implementada por Assad à dos nazistas. Segundo ele, haveria mais de 100.000 pessoas desaparecidas e assassinadas, reforçando a legitimidade do pedido de justiça. As valas comuns encontradas em Najha datam de 2011 a 2014, e de Qutayfah de 2014 a 2019 e eram abastecidas regularmente por caminhões refrigerados. Testemunhas que trabalhavam no local descrevem corpos com marcas de tortura, indicando que muitos morreram nas prisões e hospitais militares, depois foram levados para enterros em locais ocultos. Apesar das evidências, operadores do regime também teriam removido parte dos corpos em 2019, possivelmente na tentativa de ocultar provas. Enquanto isso, civis tentam localizar entes desaparecidos, o que pode ameaçar ainda mais a preservação dos vestígios. A Comissão Nacional para os Desaparecidos, criada em 17 de maio de 2025, liderada por Mohammad Reda Jalkhi, e a Comissão de Justiça Transitória, presidida por Abdulbaset Abdullatif, são vistas como passos promissores para responsabilização, mas enfrentam desafios enormes, como institucionalização, acesso a arquivos e proteção dos locais. Ainda há apelos de entidades como a SNHR, que registra cerca de 136 mil desaparecidos sob o regime de Assad — apenas 31 mil foram libertados — e cujos números são considerados conservadores. Restam ao menos 100 mil mortos não identificados. Com o regime em colapso e a atual coalizão tentando restaurar instituições, sem ação imediata, os vestígios podem ser irremediavelmente perdidos. A preservação de valas, documentos e arquivos é vital não apenas para punir perpetradores, mas para dar dignidade aos desaparecidos, dar respostas às famílias e reconstituir a memória coletiva. À medida que a Síria tenta se reerguer, a tarefa de enfrentar o legado de atrocidades será decisiva para a reconciliação nacional e para que se evite o retorno do ciclo de impunidade. Fontes: New York Times, Wall Street Journal, ONU
O tabuleiro está a postos: as sanções sobre o Brasil eram uma jogada previsível

O presidente Donald Trump estabeleceu uma alíquota de 50% sobre a exportação de qualquer produto brasileiro. Nas razões dessa medida, chamaram a atenção o discurso voltado a questões predominantemente políticas. Em carta direcionada ao presidente Lula, Jair Bolsonaro é citado como um líder respeitado, enquanto o Supremo Tribunal Federal, mais notadamente na figura do ministro Alexandre de Moraes, é abordado como o responsável por uma verdadeira “Caça às Bruxas” que deve acabar. O Brasil recebeu a tarifa mais alta do mundo. Logo em seguida, aparecem Mianmar, Laos e Tailândia, que são conhecidos por terem um sistema político instável. Assim, Trump passa ao mundo a ideia de que o Brasil está inserido em conjuntura dotada de democracia duvidosa. Contudo, vale lembrar que o poder político e o econômico costumam dar as mãos, ou seja, acreditar que a medida implementada é puramente ideológica e que, portanto, seria possível ignorar o restante que vem nesse pacote soa ingênuo. Em jogo há muito mais. O Brasil tem potencial agrícola insuperável, condizente com sua extensão territorial permeada por múltiplas fronteiras, e um mercado consumidor de mais de 200 milhões de pessoas, condizente com a eterna promessa de que o desenvolvimento está logo ali, dobrando a esquina. Tudo isso demonstra a relevância na geopolítica e explica o porquê de o país não passar despercebido. O panorama contemporâneo inspira tensão. Desde a Segunda Guerra Mundial, não se verificam potências nucleares diretamente envolvidas em batalhas – talvez não estejamos a perceber que na verdade a Terceira Guerra já pode ter começado. Nesse cenário, surgem dois grandes grupos: o primeiro é formado principalmente por Israel, Estados Unidos e países da OTAN, enquanto o segundo é formado principalmente por China, Rússia, Irã e Coreia do Norte. Como é comum em polarizações, o mundo cobra uma posição, e o lado em que o Brasil se encontra é rapidamente compreendido: está alinhado com os países ditatoriais. Os discursos e as práticas adotadas pelo governo dão sinais claros. O STF atua na mesma frequência, quando, dentre outras medidas, restringe a liberdade de expressão e derruba redes sociais sem o devido processo legal. Recentemente, os ministros da Corte restringiram a liberdade de expressão, quando reescreveram regras consubstanciadas no Marco Civil da Internet, criando um contexto de vulnerabilidade das plataformas, que tiveram ampliadas as possibilidades de serem responsabilizadas. O Brasil ainda pode ser concebido como a maior democracia da América Latina? São muitos os acontecimentos que diminuem a relevância da política externa brasileira e colocam em dúvida a solidez da democracia. O presidente Lula, violando a moralidade e a impessoalidade, nomeou o seu advogado pessoal para o STF. Também criou impasses diplomáticos com Israel, recebeu no Rio de Janeiro dois navios de guerra iranianos – e tudo isso aconteceu depois de ter sido estranhamente saudado pelo líder do grupo terrorista Hamas. Os rumos políticos causam estranheza perante os ideais constitucionais brasileiros, porque a direção tomada vai ao encontro do grupo que não ostenta necessariamente pluripartidarismo, alternância de poderes, liberdade de expressão, respeito aos direitos das mulheres e do grupo LGBT. Desse modo, o Brasil despreza a própria Constituição Federal, quando se coloca ao lado de quem ignora a importância dos direitos humanos. A quem cabe a responsabilidade pela ofensiva americana A postura do atual governo já demonstrava há algum tempo os sinais de tragédia anunciada. As trapalhadas diplomáticas foram muitas e levaram a esse desfecho – e não poderia ser diferente. Lula provocou Trump pessoalmente e se colocou contra os interesses americanos em diferentes oportunidades. Lula associou Trump ao nazismo, defendeu a ideia de desdolarizar o comércio global, acusou Israel de genocídio, deu apoio à Rússia na guerra contra a Ucrânia, recebeu o ditador Maduro e visitou a condenada Cristina Kirchner e pediu pela sua liberdade. Por esses motivos, não há dúvidas de que o presidente Lula criou as condições perfeitas para a investida que ora ocorre, quando escolheu provocar uma potência. O insucesso era previsível. O momento certo para a jogada O revide americano, que já era certo, teve a perspicácia de esperar o momento em que os muitos motivos ideológicos já estavam escancarados aos olhos do mundo. Assim, a jogada surge em momento propício para o combate de questões políticas e econômicas ao mesmo tempo, uma vez que o volume de negociações que o Brasil tem com a China pode ficar ainda maior, caso saia do papel o projeto voltado para a criação de uma ferrovia que prevê a conexão do território brasileiro ao Oceano Pacífico, passando pelo Porto de Chancay, no Peru. O crescimento da influência chinesa gera incômodo aos americanos, uma vez que nada impede que a parceria econômica com os chineses se transforme em laços políticos e militares. É preciso lembrar que, ao olhar para a Venezuela, os Estados Unidos veem bases militares da Rússia. No mesmo período em que a tarifa foi imposta por Trump, as pesquisas mostram que Jair Bolsonaro, alinhado ideologicamente com os valores americanos, ganharia de Lula. Além disso, o encontro dos BRICS não teve o efeito esperado, porque, além de não ter contado com presidentes, nenhuma medida impactante foi divulgada. Portanto, é inegável que Trump mexe as peças em momento oportuno, na medida em que Lula se encontra cambaleando entre seus eleitores e, na política externa, sofre com nítida perda de capital político, uma vez que atualmente não subsiste retórica que consiga esconder o seu flerte com ditaduras. As repercussões no quintal tupiniquim O governo brasileiro pode ignorar a jogada americana e buscar pretender alguma espécie de contra-ataque. No entanto, é preciso lembrar que o Brasil conta com um Congresso que deseja ser reeleito, e a ele cabe dar explicações a seus eleitores. À sua disposição, veem-se mecanismos constitucionais para fiscalizar/pressionar o Executivo e o Judiciário. Não se sabe se os Estados Unidos mandarão um porta-aviões ao Lago Paranoá – e talvez nem seja preciso tanto para impactar nos rumos do Brasil. O panorama é de extravagância: enquanto Lula não abre mão de seus regozijos ideológicos, o cidadão comum sente no bolso. O agronegócio
Enquanto Lula faz bravatas, Tarcísio de Freitas toma a frente para evitar o colapso econômico gerado pela Tarifa Moraes

No epicentro do abalo econômico causado pela decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma taxação de 50% sobre produtos brasileiros, uma voz começa a se destacar entre a inércia e o ruído político de Brasília: a do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Enquanto o presidente Lula e sua equipe preferem atribuir a culpa à oposição — especialmente ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao deputado Eduardo Bolsonaro, atualmente nos EUA —, Tarcísio adota uma postura técnica e diplomática, apontando falhas na articulação internacional do governo federal. O governador defende uma reação firme, mas racional, que preserve os interesses econômicos do país e evite um agravamento do isolamento comercial. “Não se trata apenas de uma disputa ideológica ou de retaliação automática. Precisamos entender onde erramos na condução diplomática e como podemos reconstruir pontes que garantam previsibilidade ao comércio exterior brasileiro“, teria dito Tarcísio em reunião com empresários do setor exportador paulista. O governador, ex-ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro e com amplo trânsito no meio técnico e empresarial, demonstrou preocupação com o impacto direto da medida sobre a indústria paulista, especialmente nos setores automotivo, agronegócio e tecnologia. Estima-se que as novas tarifas comprometam bilhões em contratos e exportações apenas em São Paulo. Ao mesmo tempo em que critica o improviso do governo Lula, Tarcísio reforça a necessidade de evitar uma escalada retórica. “Retaliar por retaliar, sem estratégia, é infantil. Precisamos ter inteligência geopolítica para defender nossos interesses e preservar empregos aqui dentro.” Sua postura tem sido bem recebida por setores do empresariado e por figuras da oposição que enxergam em Tarcísio uma alternativa de liderança ponderada em meio à crise. Discreto, mas firme, o governador se posiciona como uma das poucas figuras públicas que tratam o episódio com a seriedade e o pragmatismo que a situação exige — em contraste com o palanque ideológico montado por Brasília.
Brasil: O próximo pária internacional

Acordamos e mais uma semana se iniciou, tudo ocorrendo na sua maior normalidade, brasileiros indo para os seus trabalhos, crianças de férias, noticiários passando os mais diversos crimes e, no fundo, um burburinho político, que se arrasta há meses em um impasse entre políticos, jornalistas e o próprio Estado americano, um burburinho que agora se tornou impossível de não ver e querer acompanhar. Donald Trump tomou uma decisão radical: impôs uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras, tarifa essa que começará a ser aplicada a partir de 1º de agosto de 2025. Essa retaliação do governo americano foi justificada ao que ele chamou de “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Não pretendo hoje discutir as consequências, devastadoras, que uma taxação dessa proporção vai causar ao Brasil, pois, goste você ou não, o nosso país é um nanico internacional que vive de vender suas commodities, e de uma relevância que decai a cada ano que passa. A diplomacia de Lula é um desastre com os Estados Unidos, assim como a diplomacia de Bolsonaro foi um desastre com a China. A evolução dessa gangorra política — que ora ataca um lado e ora ataca o outro, sem poder atacar ninguém — transformou o Brasil em um país arriscado, sem coerência em sua política externa, abandonando anos de boa convivência e bom meio de campo com países que são poderosos demais para arriscar uma inimizade. Brasil e China: de relações estreitas, a desconfianças e uma reaproximação Embora a relação oficial diplomática entre Brasil e China tenha se iniciado na década de 1970, foi a partir dos anos 90 que tivemos um estreitamento entre ambos os países. Foi nessa década que um processo de fortalecimento se iniciou e evoluiu de uma parceria inicialmente estruturada em torno de interesses econômicos e comerciais para uma relação ainda maior, com cooperação política, tecnológica, ambiental e cultural.. Foi com as presidências de Fernando Collor de Mello (1990-1992) e depois de Itamar Franco (1992-1995) que o Brasil começou sua trajetória de diversificar os seus parceiros comerciais e abriu espaço para que um estreitamento com a China começasse. É importante lembrar que Pequim estava iniciando um boom de crescimento, que viria a explodir no início dos anos 2000. Durante o processo de abertura do Brasil ao cenário internacional, o país deu início a uma tradição diplomática pautada pelo equilíbrio, buscando atuar com bom senso no meio de campo e evitar qualquer inclinação a radicalismos. Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foi à China em 1997, esse evento histórico nos indicou que a relação poderia evoluir para uma cooperação mais ampla, especialmente na área de comércio e investimentos. Nesse período, o comércio bilateral começou a crescer, com a China se tornando um importante parceiro comercial do Brasil, principalmente na exportação de commodities brasileiras, como soja, minério de ferro e petróleo. Lula surfa na onda chinesa Após os governos FHC e durante os dois primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), a relação, sem sombra de dúvidas, chegou a novos patamares, se aprofundando ainda mais. Lula viajou pela primeira vez para a China em 2004, pelo menos de forma oficial, como presidente brasileiro, e atraiu o país para bem perto, fortalecendo a cooperação em diversas áreas, desde a energética até a tecnológica. A década de 2000 também foi marcada pelo aumento exponencial do comércio bilateral, com o Brasil se beneficiando do crescimento econômico chinês e buscando diversificar sua pauta de exportações, enquanto a China investia em setores estratégicos brasileiros. Além disso, foram estabelecidos vários acordos de cooperação em ciência, tecnologia e educação. Dilma e Temer mantêm a paz com a China Sai Lula e entra outra petista, Dilma Rousseff (2011-2016), e a relação continua a se fortalecer, sendo reconhecida oficialmente como uma parceria estratégica. Dilma visita a China em 2014 e reforça a vontade do governo brasileiro em aprofundar a cooperação. Nesse período, houve também uma maior presença chinesa no Brasil em investimentos em infraestrutura, energia renovável e mineração. Dilma sai de cena, é impichada e entra o seu vice Michel Temer (2016-2018). Sob Temer, a relação Brasil-China se mantém sólida, apesar de desafios internos em ambos os países. Bolsonaro desconfia dos chineses Com a eleição do outsider Jair Bolsonaro (2019-2022), a relação entre os países começa a mudar. Famoso por seu discurso anticomunista, Bolsonaro começa a falar sobre interferência interna chinesa e até mesmo de uma ameaça à democracia brasileira. Podemos dizer que a política mais à direita de Bolsonaro, se distanciando de uma neutralidade, tornou a relação entre os países mais ambígua e incerta, com acusações e momentos de muita tensão. Mesmo com todos esses problemas na esfera política e ideológica, é inegável que tivemos um fortalecimento do comércio e dos investimentos, que continuaram a crescer, mesmo com diversas tensões globais e regionais, incluindo a pandemia de Covid-19, que reforçou a necessidade de cooperação internacional. Como eu escrevi, a relação entre Brasil e China durante o mandato de Bolsonaro foi muito ambígua. Desde o início da década de 1990, os países se aproximaram, o que consolidou a relação e a China se tornou um parceiro comercial muito importante para o Brasil, principalmente por conta das exportações de commodities como soja, minério de ferro e carne bovina. Entretanto, mesmo com essa aproximação econômica, diversas polêmicas marcaram a relação Brasil-China na gestão Bolsonaro. O ex-presidente, por exemplo, criticou as medidas ambientais na China, especialmente relacionadas às políticas de controle de florestas e às ações no Brasil contra o desmatamento na Amazônia. Essas críticas geraram desconforto na China, que, por sua vez, demonstrou preocupação com o impacto ambiental na região amazônica, de interesse global. Nesse período também tivemos denúncias, especialmente por parte de setores políticos e da mídia, de que a China estaria tentando exercer influência política no Brasil, incluindo supostas tentativas de angariar apoio para interesses chineses ou influenciar decisões estratégicas. Essas alegações, muitas vezes, alimentaram discursos de preocupação com a soberania nacional. Muitas foram as controvérsias nessa relação entre Brasil e China, entretanto, no final das
Astrazeneca é condenada a pagar R$ 3,75 milhões por morte de promotora grávida no RJ após ser vacinada contra Covid-19

Em uma decisão histórica, a 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) confirmou, por unanimidade, a condenação da farmacêutica AstraZeneca ao pagamento de R$ 3,75 milhões por danos morais à família da promotora de Justiça Thais Possati, que faleceu em 2021, aos 35 anos, após complicações relacionadas à vacina Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19. A sentença, proferida no final de junho de 2025, elevou o valor inicial de R$ 1,1 milhão, fixado em primeira instância, e representa um marco jurídico no Brasil ao reconhecer oficialmente o nexo causal entre o imunizante e a morte da gestante e de seu bebê. Thais Possati, que estava no segundo trimestre de gestação (23 semanas), recebeu a vacina em 23 de abril de 2021, em Niterói (RJ). No dia seguinte, apresentou sintomas graves, incluindo dores abdominais, que evoluíram para um quadro de trombose venosa profunda e trombocitopenia, culminando em um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. A promotora faleceu em 10 de maio, e o bebê não resistiu, vindo a óbito um dia antes. Segundo laudos médicos anexados ao processo, as complicações foram diretamente associadas à aplicação da vacina, configurando a síndrome de trombose com trombocitopenia (STT). A relatora do caso, desembargadora Marianna Fux, destacou que a AstraZeneca descumpriu o dever de informar de forma clara e acessível os riscos do imunizante, especialmente para gestantes. Apesar de a bula mencionar possíveis efeitos adversos, a magistrada apontou que, na época da vacinação, já havia registros internacionais de eventos adversos graves, como a STT, que levaram países como Dinamarca e Noruega a suspenderem o uso da vacina em março de 2021. “Não há prova de que, na data da vacinação, havia sido dada publicidade suficiente à reação adversa, impossibilitando que a gestante fizesse uma escolha consciente“, afirmou Fux. O valor da indenização foi distribuído entre os familiares de Thais: R$ 1,5 milhão para cada um dos pais e R$ 750 mil para o irmão, refletindo a gravidade do sofrimento familiar, conforme previsto no artigo 944 do Código Civil. Além disso, o TJ-RJ manteve uma multa de 20% sobre o valor da causa por conduta inadequada da AstraZeneca durante a produção de provas, considerada um ato atentatório à dignidade da Justiça. A AstraZeneca contestou a decisão, alegando ausência de nexo causal e cumprimento das exigências regulatórias, mas os argumentos foram rejeitados. A empresa também não se pronunciou oficialmente sobre a sentença. O caso, que levou à suspensão da vacina para gestantes no Brasil após o ocorrido, abre precedente para ações similares e reacende o debate sobre a transparência na comunicação de riscos de imunizantes durante a pandemia. O número do processo é: 0832570-61.2024.8.19.0001 Origem: 48º Vara Cível da Comarca da Capital A decisão reforça a responsabilidade civil objetiva da farmacêutica e destaca a importância de informações claras para a segurança dos consumidores, especialmente em contextos emergenciais como o da Covid-19. Fonte: O Globo, Gazeta do Povo, O Tempo, Jusbrasil, TJRJ, Decisão Astrazeneca
UE sobe o tom e acusa China de manipular comércio internacional

Na última terça-feira (08), a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, acusou a China de distorcer o comércio e dificultar o acesso de empresas europeias ao mercado chinês. A declaração foi dada ao Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo. A parceria entre China e Europa precisa de “menos distorção de mercado, menos excesso de produção exportado, e mais acesso justo e recíproco para as empresas europeias“, defendeu von der Leyen. Ela afirmou que o país asiático “inundou o mercado com produtos baratos e subsidiados“, o que permitiu a Pequim dominar diversos setores, de painéis solares a refino mineral. “Indústrias ocidentais inteiras fecharam“, afirmou a dignitária. Comentando as dificuldades enfrentadas pelas firmas europeias ao acessar o mercado chinês, von der Leyen classificou o sistema de compras públicas chinês como “explicitamente manipulado“. Segundo ela, qualquer produto “made in China” recebe automaticamente 20% de vantagem nas licitações locais. “É completamente injusto“. A China não respondeu oficialmente às declarações. As palavras da chefe do braço executivo da União Europeia sobem ainda mais o tom já tenso entre as partes. No final de julho, nos dias 24 e 25, uma delegação europeia, liderada por von der Leyen e Antônio Costa, presidente do Conselho Europeu, será recebida por seus homólogos chineses em Pequim e outras cidades. A China, porém, já anunciou o cancelamento de parte do encontro. Os pontos de divergência que dificultam o entendimento são diversos, mas central entre eles está a interrupção da exportação de terras raras por parte de Pequim, que atingiu de maneira severa diversos setores da indústria europeia. Bruxelas, por sua vez, vem impondo tarifas significativas sobre a importação de veículos elétricos chineses, os quais acusa de receberem subsídios governamentais que distorcem seu preço. No início deste ano, analistas acreditaram que o receio mútuo do tarifaço imposto por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, pudesse estimular uma aproximação entre China e UE. Até este momento, porém, as esperanças não se materializaram. Fontes: Bloomberg, Yahoo Finance, Caliber
Não, o Brasil não é o Canadá. Um boicote não beneficiará Lula

O Brasil foi dormir na noite de 9 de julho com um gosto amargo na boca — e provavelmente teve uma insônia terrível provocada pelo anúncio de Donald J. Trump. A carta enviada ao presidente Lula trazia como informação principal uma taxação de 50% sobre o Brasil, tornando o país aquele com a maior tarifa imposta na guerra comercial declarada por Trump. A manhã de 10 de julho já começou com o anúncio de que o governo Lula aplicaria a lei da reciprocidade, retaliando os Estados Unidos com uma taxação equivalente. A resposta do presidente americano veio rapidamente: caso fosse retaliado, ele dobraria a tarifa. Brasil taxado em 50%: “Entenda como isso é bom” Antes que você encontre algo de bom na taxação, deixo claro: o texto entre aspas no subtítulo é uma referência a uma economista famosa, de uma grande rede de televisão aberta, que consegue ver benefícios até na falência do país. O fato é que temos um problema sério a resolver — e não há nada de bom nisso. Uma das justificativas apresentadas por Trump para impor a taxa de 50% sobre produtos brasileiros seria o “equilíbrio do comércio exterior com o Brasil“. Isso mais parece um erro na redação da carta, já que o Brasil importa mais do que exporta. Mas isso não significa que não teremos problemas — ou que eles serão pequenos o suficiente para passarmos incólumes. Apesar dos discursos coléricos de Lula após a taxação, nos quais tenta atribuir a culpa ao ex-presidente Bolsonaro e a seu filho Eduardo — que está nos Estados Unidos expondo informações sobre arbitrariedades cometidas pelo Judiciário brasileiro —, é possível, com muita tranquilidade, responsabilizar o próprio presidente Lula pela medida. Trump tem reiterado que qualquer tentativa de substituir o dólar em negociações internacionais seria respondida com taxações destinadas a impedir esses países de comercializarem com os Estados Unidos. Aparentemente, ignorando as falas do presidente americano, Lula resolveu atacar o dólar na última reunião dos Brics, ocorrida em 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro. A taxação veio e a responsabilidade aparentemente é apenas uma consequência de um aviso que foi feito por Trump antes de Lula atacar a hegemonia do dólar. O curioso é que países do BRICS que foram taxados não partiram para o embate pura e simplesmente, mas sim buscaram na negociação uma forma de amenizar os danos. Lula, por sua vez, disse que ele tinha conhecimento deste fato trazido por uma jornalista durante a reunião na capital carioca. Não, o Brasil não é o Canadá. Um boicote não beneficiará Lula O Canadá, país também taxado por Trump, tomou uma atitude diferente em relação a outros países. Apesar de ter se sentado à mesa para uma negociação, decidiu inflamar o país em torno de um boicote aos produtos americanos. Este sentimento nacionalista floresceu e a população canadense passou a substituir produtos importados dos Estados Unidos, fazendo com que o movimento na fronteira entre Canadá e EUA caísse 23%. A província de Ontário rescindiu um contrato de US$ 68 milhões com a Starlik, do bilionário Elon Musk, aliado de Trump à época. Será que o Brasil conseguiria fazer algo parecido que pudesse gerar algum dano à economia americana? Certamente não. E a promessa de Trump ainda se confirmou nesta sexta-feira (11), situação em que o Canadá foi taxado em 35%, sendo avisado que qualquer retaliação com taxas, a mesma taxa será somada aos 35%. O Brasil vive um momento em que os próprios tentáculos do governo se entrelaçam, inviabilizando cada vez mais a administração do país e, segundo o próprio presidente, se não fosse o STF, ele não conseguiria governar. É vivendo este turbilhão que Lula decide responder à tarifa de Trump, informando que a lei de reciprocidade será aplicada. O Brasil envia muitos produtos para os americanos, dentre eles aviões e suas peças, óleos, café e outros. A taxação desses produtos prejudicará gravemente as exportações, inviabilizando negócios e causando danos à estrutura interna do Brasil. Empresas poderão ser forçadas a encerrar contratos, demitir funcionários e, em alguns casos, até fechar as portas. Além disso, a menor entrada de dólares na economia brasileira elevará a cotação da moeda norte-americana, encarecendo a maioria dos produtos e gerando um efeito inflacionário difícil de controlar. Resta torcer por uma solução via negociação — pois, se Lula colocar o regime acima dos interesses do país, o Brasil poderá enfrentar um período de grandes dificuldades. Eu sou Felipe Santos, Oficial R/2 do Exército Brasileiro, formado pela Fundação Getúlio Vargas, Universidade da Califórnia e Universidade de São Paulo, atuo no mercado financeiro desde 2008. Experiente em diversas áreas no mercado, professor de Finanças Pessoais e Investimentos da Escola de Geopolítica e Atualidades Danuzio Neto e criador da Mentoria de Investimento Ágil, ajudo pessoas a investir em apenas 30 dias com segurança e praticidade. Somente um patrimônio acumulado é capaz de proporcionar a você um futuro com conforto, segurança e liberdade. O tempo passa, comece! Siga-me no Instagram @fe_investimento_agil ou, se preferir, mande um e-mail para felipesantos@feinvestimento.com.br.
EUA reestabelecem oficialmente a ajuda militar à Ucrânia contra a Rússia

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky informou nessa sexta-feira (11), em Roma, que a ajuda militar dos Estados Unidos foi oficialmente restabelecida, restaurando os envios após uma breve pausa que gerou apreensão em Kiev. A declaração ocorreu durante sua participação na Conferência de Recuperação da Ucrânia, onde Zelensky destacou que os sinais políticos vindos de Washington foram claros e favoráveis ao retorno dos suprimentos militares. A suspensão da assistência havia sido determinada de forma repentina pelo Pentágono, sem comunicação prévia ao presidente norte-americano, incluindo o corte de itens vitais como mísseis interceptadores Patriot e munições de 155mm para obuses. A medida, segundo fontes, surgiu por preocupações internas relacionadas ao esgotamento de estoques militares — uma decisão que surpreendeu Kiev e gerou críticas no Congresso dos EUA. Zelensky relatou que conversas com senadores Lindsey Graham e Richard Blumenthal resultaram em compromissos concretos para a retomada do apoio militar e ampliação dos sistemas de defesa aérea. Especialmente drones interceptadores, para conter o avanço dos frequentes ataques russos, que já somam centenas de drones e mísseis disparados contra a Ucrânia. Durante o encontro, Zelensky comentou também que anunciou acordos com Alemanha e Noruega para o envio de sistemas Patriot — com Berlim financiando duas baterias e Oslo, uma — reforçando uma rede coordenada de defesa ocidental. O presidente Trump confirmou que ordenou o reenvio de armas para Kiev, incluindo pacotes de equipamentos considerados críticos pela Ucrânia, e sinalizou que o custo total dessas entregas será coberto integralmente pelos países da OTAN. O pacote militar, ainda em definição, deve incluir sistemas Patriot, foguetes guiados GMLRS e munições de artilharia. Esta foi a primeira vez em seu mandato que Trump utilizou o poder presidencial para enviar armas diretamente aos ucranianos. A reviravolta no apoio americano se dá em meio à pior onda de bombardeios russos registrada desde o início da invasão. Na manhã de quinta-feira (11), a Ucrânia enfrentou uma série sem precedentes com 728 drones Shahed e 13 mísseis lançados contra o território, seguida por outro ataque massivo com 400 drones e 18 mísseis horas depois. Autoridades ucranianas confirmam que os sistemas de defesa interceptaram a grande maioria desses ataques, mas reforçam que o reabastecimento de munições e unidades de interceptação é urgente para evitar mais danos e vítimas civis. A retomada da ajuda também ganhou repercussão no Senado dos EUA, onde o Comitê de Serviços Armados aprovou US$ 500 milhões em assistência militar para 2026, reforçando o comprometimento legislativo com a Ucrânia. Zelensky expressou gratidão: “Recebemos todos os sinais políticos necessários. Agora temos detalhes e calendário para novas entregas. É essencial implementar isso rapidamente para proteger nosso povo e posições”. Fontes: Reuters, Reuters, CNN, The Times